A saúde da família foi uma das razões que levaram a autônoma Marta Bezerra, a largar o cigarro. Hoje, com 58 anos, ela conta que deixou de fumar há 15. As filhas dela, na época, tinham 5 e 10 anos. ;Eu nunca fui de fumar muito, era mais casualmente, quando estava com os amigos. Mas tinha o cuidado de não fumar dentro de casa ou perto das minhas filhas;, disse.
Marta faz parte do time de ex-fumantes que encabeçam um levantamento divulgado ontem, no Dia Mundial sem Tabaco, pelo Ministério da Saúde. O estudo aponta que, em 12 anos, o número de fumantes no Brasil caiu em 40%. Em 2018, 9,3% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar. Em 2006, ano da primeira edição da pesquisa, o índice era de 15,6%. A pesquisa foi feita por meio do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
De acordo com o estudo, a queda no uso do tabaco é significativa em pessoas de 18 a 24 anos de idade (12% em 2006 e 6,7%, em 2018), 35 e 44 anos (18,5% em 2006 e 9,1% em 2018) e entre 45 a 54 anos (22,6% em 2006 e 11,1% em 2018).
O levantamento revela que mulheres que reduziram o hábito de fumar (44%) superaram a média nacional no período. Entre os que ainda fumam, 12,1% são homens e, 6,9%, mulheres. As capitais com mais fumantes são Porto Alegre, São Paulo e Curitiba. Já Salvador, São Luís, e Belém são as que possuem menos pessoas que fumam. A pesquisa mostra que o grau de escolaridade também influencia: 13% dos entrevistados com até oito anos de escolaridade disseram ser fumantes.
De acordo com o Ministério da Saúde, o tabagismo é a principal causa de câncer de pulmão, sendo responsável por mais de dois terços das mortes por essa doença no mundo. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, até o fim de 2019, sejam registrados 31.270 novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão em decorrência do tabagismo, sendo 18.740 em homens e 12.530 em mulheres.
Lugares públicos
Estudo feito pelo Inca, em parceria com a Imperial College London (Reino Unido) e Erasmus MC (Holanda) apontam que a proibição de cigarro em locais públicos evitou a morte de mais de 15 mil crianças entre 2000 e 2016. Intitulada Legislação de Ambientes Livres de Fumaça de Tabaco e mortalidade neonatal e infantil, a pesquisa mostra que a introdução das leis de ambientes livres de tabaco tem relação com reduções significativas na mortalidade infantil. A queda foi de 5,2%.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o 34; lugar no ranking de população fumante, entre 149 países, com 14%. A organização tenta combater o tabagismo, mas o ritmo de redução da demanda por tabaco e o número de mortes e doenças relacionadas ao consumo está lento em relação aos compromissos globais de redução de 30% do uso até 2025 entre pessoas com 15 anos ou mais. Com a continuidade da tendência de consumo entre os jovens, o mundo alcançará apenas uma redução de 22% até 2025.
Entre as estatísticas, o crescimento de alternativas ao tabaco, como os cigarros eletrônicos, chama a atenção dos especialistas. Há pelo menos 367 milhões de usuários no mundo. Dado preocupante, pois especialistas temem que esses produtos sejam uma porta de entrada para a dependência à nicotina.
De acordo com a médica e gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca, Liz Almeida, a pesquisa analisou o perfil de óbitos infantis e comparou os resultados entre municípios que adotaram a lei de proibição do fumo em lugares fechados parcialmente e os que adotavam por completo. ;O que notamos foi que a mortalidade infantil com causas relacionadas ao fumo passivo nesses locais que implantaram a lei se manteve em queda. Nos lugares onde houve a modificação da lei, a mortalidade se intensificou. Comparando esses lugares, obtivemos uma diferença de 15 mil óbitos.;
A médica explica que no estudo foram analisadas as principais causas de morte de fumo passivo em crianças. ;Existe evidência na literatura que o tabagismo, refletido em crianças, causa asma, pneumonia, otite aguda e crônica e síndrome de morte súbita, além do nascimento com baixo peso em crianças de mães fumantes ativas e passivas;, concluiu.
*Estagiária sob a supervisão de Rozane Oliveira
31.270
Estimativa de novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão em decorrência do tabagismo em 2019
34;
Posição do Brasil no ranking de população fumante da OMS entre 149 países