Brasil

Segurança hídrica não é só reservatório cheio

Especialistas debatem, em seminário no Correio, o uso consciente da água, experiências e perspectivas para a gestão do recurso natural. Projeção da Adasa mostra barragem do Descoberto com 46% da capacidade máxima no fim do ano

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 13/06/2019 04:15
Vazamentos e desperdícios de água potável preocupam. Perdas no DF atingem 34% do volume total, bem acima dos 20% considerados aceitáveis

A crise hídrica, o consumo consciente, o racionamento e as perdas de água são temas recorrentes na sociedade. A preocupação com o futuro dos recursos naturais, perspectivas, experiências e legado serão discutidos hoje por especialistas no Seminário Segurança Hídrica, no Correio Braziliense. O debate ocorre das 8h às 12h30 no auditório do jornal.

O diretor-presidente da Adasa, Paulo Salles, que participará da abertura e do encerramento do seminário, alerta para os fatores que podem influenciar na segurança hídrica independentemente do volume dos reservatórios. ;Para ter segurança hídrica, não basta ter o reservatório cheio. Existem incertezas climáticas. Pode ser que o consumo seja maior do que previmos. É necessário o uso racional por parte da população, dos órgãos públicos, dos agricultores e do setor produtivo. Devemos conter o desperdício e as perdas para garantir que teremos mais água,; afirma.

Ontem, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) divulgou a projeção do volume dos dois reservatórios que abastecem o Distrito Federal até o fim do ano. A expectativa é que a barragem do Descoberto atinja 46% da capacidade máxima ; índice menor do que os 61% alcançado no fim do ano passado, mas acima dos 5,3% atingidos em novembro de 2017, no auge da crise.

Apesar de o volume estar abaixo de 50%, o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Carlos Augusto Lima Bezerra, que participará do seminário, considera improvável que, neste período de seca no DF haja necessidade de racionamento. Apesar disso, segundo ele, medidas de precaução devem ser tomadas. ;Independentemente de investimentos, precisamos estar conscientes da necessidade do uso racional da água. Estamos aplicando recurso em novas captações e reforçando outras. Considerando o crescimento populacional, temos abastecimento para 30 anos. Mas a conscientização da população é fundamental e deve ser feita desde a infância,; reforça.

A Agência Nacional das Águas (ANA) alerta para os riscos da falta de água no país, por meio de um estudo publicado neste ano. De acordo com o órgão, com a aplicação do Indicador de Segurança Hídrica (ISH), até 2035, a população total em risco de abastecimento de água estará em 73,7 milhões. Em 2017, eram 60,9 milhões (34% da população urbana).

Situação crítica


A projeção feita para 2035 é de que, sem as ações propostas pelo documento, 29% das áreas mapeadas no país estarão em situação crítica em relação ao fornecimento de água. O Distrito Federal está entre as unidades territoriais de análise (UTA) consideradas críticas, definidas a população e as atividades econômicas em risco.

Um dos pontos relevantes em meio à crise hídrica é a perda de água. Uma pesquisa da Trata Brasil mostrou que o Brasil perde o equivalente a 38,3% de sua água potável em sua distribuição, ou seja, mais de 7 mil piscinas olímpicas ou sete vezes o volume do Sistema Cantareira, que abastece a maior metrópole do país, São Paulo, gerando uma perda financeira acima dos R$ 11 bilhões.

O DF aparece em 24; lugar no ranking de unidades da Federação com maior perda de água, com o equivalente a 34%. Desse percentual, 23,5% se dão por vazamentos, 6% por erros de medição e 5% por usos não autorizados.

Apesar da perda abaixo da média nacional, especialistas alertam para a necessidade de redução desse percentual. ;Um valor considerado bom de perda é em torno de 20%, mas existe toda uma questão econômica em torno disso. Para se reduzir abaixo de 20%, o custo fica muito elevado. No Brasil, de uma forma geral, se a gente conseguisse se aproximar de 20% a 25% seriam valores muito bons,; explica Jorge Werneck, diretor da Adasa.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

  • Seminário
    Data: 13/6/2019
    Local: Auditório do Correio Braziliense
    Horário: das 8h às 12h30

    Programação

    8h ; Credenciamento e welcome coffee
    8h30 ; Abertura com Álvaro Teixeira da Costa, presidente do Correio Braziliense; Paulo Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa); Christianne Dias, diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA); Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal
    9h ; Palestra de Abertura com Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto, ministro do Desenvolvimento Regional (MDR)
    9h30 ; Painel 1 ; Crise Hídrica: Experiências e Legado
    Mediador ; Luciano Mendes da Silva, Secretário Adjunto da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF (Seagri)
    Mesa ; Jorge Werneck, diretor da Adasa; Carlos Augusto Lima Bezerra, presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb);Paulo Massato, diretor de Serviço Metropolitano da Sabesp;
    Joaquim Gondim, superintendente de Operações e Eventos Críticos da ANA
    10h30 ; Debate
    11h ; Painel 2 ; Segurança Hídrica: Perspectivas
    Mediador ; José Sarney Filho, secretário estadual de Meio Ambiente do DF
    Mesa ; Francisco José Coelho Teixeira, secretário de Recursos Hídricos do Ceará; Marília Carvalho de Melo, diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM/MG); Oscar Cordeiro Netto, diretor da ANA
    12h10 ; Debate
    12h30 ; Encerramento com Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação