postado em 29/06/2019 04:14
Moradora de um assentamento no Setor Noroeste e desempregada há dois anos, Dariana Machado, 21 anos, desistiu de procurar emprego. Ela trabalhava na área administrativa de uma empresa, mas após ser dispensada e de muito insistir em uma nova chance, perdeu as esperanças e resolveu ficar em casa cuidando da filha Annaella, de oito meses. A esperança, conta, é que o marido, Ademar Roporiwats, 26, também desempregado, conquiste uma vaga no mercado de trabalho. ;Eu procurei muito, mas ninguém me chamou. Com sorte, meu marido conseguirá um emprego para segurar as contas da casa. Passamos um aperto grande porque não temos renda alguma;, afirma.
Dariana é uma das brasileiras que endossam a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que o país encerrou maio com 4,9 milhões de pessoas desalentadas (que desistiram de procurar emprego). O número é recorde na série histórica. Em um ano, aumentou 3,7%, ou seja, com o acréscimo de mais 175 mil pessoas.
A Pnad aponta ainda que a taxa de desemprego no Brasil teve queda no trimestre encerrado em maio, saiu de 12,5% para 12,3%, atingindo 13 milhões de pessoas ; mesma quantidade do mesmo período do ano passado. Esse é o menor índice de desemprego desde o último trimestre de 2018. Para Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, a taxa de desemprego responde a um comportamento sazonal e, por isso, é normal que a ocupação volte a aumentar nesse período do ano. ;Nos primeiros meses do ano, muitos estavam sendo desligados do trabalho, o que é comum nesta época. A partir de maio e junho, é o momento de termos uma certa interrupção dessas dispensas;, explicou.
Porém, dos novos 1 milhão de trabalhadores que ingressaram no mercado, 60% foi contratado para trabalhar menos do que gostaria (subutilizados), segundo Adriana. O número de subutilizados atingiu o recorde da série história, iniciada em 2012. A informalidade também é a maior já registrada. Enquanto a população ocupada (92,9 milhões) cresceu 1,2% em relação ao trimestre anterior e 2,6% em relação ao mesmo período de 2018, a subutilizada teve uma alta de 2,7% frente ao trimestre anterior e 3,9% referente há um ano atrás.
Informalidade
A quantidade de trabalhadores na informalidade ; sem carteira assinada ; alcançou 11,4 milhões de pessoas no trimestre, o que representa 18% de toda a população ocupada em maio ; crescimento de 3,4% na comparação com o mesmo período de 2018. O número de trabalhadores por conta própria também foi recorde da série, chegando a 24 milhões de pessoas ; crescimento de 5,1% em um ano. Somando ambos indicadores, 35,4 milhões de brasileiros trabalham na informalidade ou por conta própria, como autônomos, é o maior número registrado pelo IBGE desde 2012.
Keyton Costa, 26 anos, morador de Águas Lindas, trabalhava com vendas e carteira assinada, mas saiu do emprego para tentar trabalhar como autônomo. Há um ano e quatro meses, vende camisetas e bermudas na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. ;O lado ruim de não ter carteira assinada é no futuro, para a aposentadoria. Mas tem muita gente desempregada, é uma situação triste que nem sei como explicar. Como esperar ter carteira assinada para trabalhar? O jeito é trabalhar por conta própria;, diz.
Antônia Gonçalves, 52, moradora de Samambaia, trabalhava como doméstica. Após ser demitida e ficar dois anos desempregada, resolveu trabalhar por conta própria. Ela levanta todos os dias às 5h, prepara uma caixa de isopor com gelo, coloca garrafas de água e dindin. Depois sai para vender na Rodoviária do Plano Piloto. Diz que consegue cerca de R$1.500 por mês. Só de aluguel, paga R$ 600.
Flavio Serrano, economista-chefe da Haitong, afirma que o aumento no desalento, de 2018 para cá, se deu por causa da atual situação econômica. ;Quanto mais as pessoas veem a economia sem crescer, menos esperançosas ficam de arrumar um emprego;.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira