postado em 12/07/2019 04:21
Aproximadamente 21,3% da população se encontra em situação de pobreza multidimensional, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). De acordo como o Índice da Pobreza Multidimensional (IPM) divulgado ontem, 1,3 bilhão de pessoas estão classificadas nesta categoria, sendo que mais de dois terços (886 milhões) vivem em países de renda média, como o Brasil, e 440 milhões em de baixa renda. Os dados, desenvolvidos em conjunto pela Pnud e pela Iniciativa de Desenvolvimento Humano e Pobreza de Oxford (OPHI), cobrem 76% da população global.
O relatório de 2019 também evidencia que as crianças sofrem mais intensamente com a pobreza do que os adultos, assim como estão mais sujeitas a privações em todos os indicadores do IPM. Segundo os dados, quase metade (663 milhões) dos 1,3 bilhão de pessoas multidimensionalmente pobres são crianças menores de 18 anos, e um terço são crianças menores de 10 anos.
;As crianças são o grupo mais vulnerável, porque os lugares mais pobres também são os que concentram uma maior fertilidade;, esclareceu a coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano da Pnud, Samantha Salve. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, concorda, mas acrescenta que há outros fatores para a grande taxa de pobreza infantil. ;Em qualquer lugar do mundo, crianças não votam, então, politicamente, não são o principal alvo de políticas públicas, que é um dos fatores levados em conta pela pobreza multidimensional;, afirmou.
Apesar de o relatório não apresentar dados específicos sobre a pobreza infantil por região, Neri acredita que a situação é ainda mais grave no Brasil. ;Se você pegar o dado de 2017 da Pnad sobre pobreza de renda no Brasil, você vê que a taxa de pobreza entre crianças de 0 a 4 anos, por exemplo, é 6,5 vezes maior do que a pobreza de pessoas de 60 anos ou mais, então as crianças são o nosso bolsão de pobreza maior.;
Na opinião do diretor da FGV Social, isso é bastante preocupante, porque são as crianças que vão comandar o país no futuro. ;Nos lugares em que essa pobreza é maior, se tem gastos maiores com o passado, com questões previdenciárias, que não alcançam as crianças, e poucos gastos com o futuro, com questões como educação e saneamento;, destacou.
No Brasil, 3,8% da população se encontra em situações de pobreza multidimensional, enquanto 6,2% correm o risco de chegar a esse nível. Além disso, 26,5% dos brasileiros vivem com menos de US$ 1,90 ao dia, e 0,9% se encontram em situação de pobreza extrema. Cabe ressaltar que os dados sobre o Brasil são os mesmos desde 2015, tendo em vista que a Pnud utiliza dados disponibilizados por cada país, e para 2019, não foram encontradas novos indicadores.
A privação de saúde, segundo o estudo, é o que mais caracteriza a pobreza multidimensional no Brasil, respondendo por 49,8% das pessoas pobres. A falta de nutrição adequada e a taxa de mortalidade infantil são fatores determinantes para a classificação. O padrão de vida dos brasileiros, levando em conta fatores como o acesso à água potável, eletricidade, habitação e saneamento responde por 27,3% da pobreza multidimensional no país. E, 22,9% do índice decorre da privação de educação, verificada pela frequência escolar de crianças e pela quantidade de anos de escolaridade de membros das famílias brasileiras.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira
- Definição
A pobreza multidimensional, diferente da pobreza calculada pela renda, usa como indicadores a saúde, educação e o padrão de vida da população. Aqueles que sofrem privações em pelo menos um desses três indicadores se enquadram na categoria de multidimensionalmente pobre.