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Número de mortos em Altamira chega a 62

Quatro presos morrem sufocados, em circunstâncias ainda não esclarecidas, dentro do caminhão-cela que levava líderes do massacre da última segunda-feira a Belém. Com isso, chacina já é a maior deste ano em número de vítimas

postado em 01/08/2019 04:05
Veículo transportava 30 integrantes da mesma facção. Segundo as autoridades, detentos estavam algemados, divididos em quatro celas



Chegou a 62 o número de detentos mortos em consequência do confronto entre duas facções criminosas no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará. Além das 57 pessoas assassinadas na última segunda-feira, quatro presos morreram por sufocamento, ontem, dentro de um caminhão-cela durante transferência para Belém. É o maior número de vítimas de conflitos em presídios neste ano.

As autoridades não esclareceram como ocorreram as novas mortes. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará, as vítimas só foram identificadas quando o caminhão chegou à cidade de Marabá, no meio do trajeto. O veículo, segundo a secretaria, possuía câmeras de monitoramento, mas, aparentemente, elas não estavam funcionando. O Ministério Público abriu inquérito para investigar as mortes, tanto as ocorridas no presídio quando no caminhão.

Segundo a secretaria, 30 presos viajavam algemados, divididos em quatro celas, e os quatro mortos eram da mesma facção, o Comando Classe A. Foi essa facção que atacou integrantes do Comando Vermelho, grupo rival, provocando a tragédia na última segunda-feira.Os outros 26 presos que estavam no caminhão foram colocados em isolamento e serão ouvidos pela polícia.

Quarenta homens da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária chegaram a Belém na tarde de ontem, a pedido do governador do Pará, Helder Barbalho. Os agentes federais atuarão em atividades de guarda, vigilância e custódia de presos, com apoio dos sistemas penitenciário e de segurança pública do estado. Os agentes desembarcaram na base da Força Aérea na cidade.

O governo do Pará anunciou a convocação de 642 agentes penitenciários que estavam na lista de excedentes do último concurso realizado pelo estado. De acordo com Helder Barbalho, os novos agentes vão fortalecer o sistema prisional estadual. Segundo Barbalho, eles vão atuar com mais 485 que serão empossados no próximo sábado, totalizando 1.127 agentes trabalhando nos presídios do Pará. Os novos homens vão substituir agentes que trabalhavam em regime de contrato temporário.

Trabalho forçado
Em evento de assinatura de concessão de trecho da Ferrovia Norte-Sul, em Anápolis (GO), o presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre as novas mortes de detentos. Ele afirmou que, com certeza, os presos deveriam estar feridos. ;É como uma ambulância quando pega uma pessoa até doente. No deslocamento, ela pode falecer;, declarou. ;Pessoal, problemas acontecem;, disse.

O presidente afirmou que tratará do tema da violência no sistema penitenciário no Pará com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Ontem, o ministro disse que os órgãos de inteligência policial não tinham informações prévias sobre a possibilidade de uma chacina em Altamira. Segundo ele, o remédio para evitar novas tragédias desse tipo é isolar as facções criminosas. O governo do Pará anunciou que pretende esvaziar dois presídios em Belém, que abrigam 866 detentos, para evitar que integrantes da facção atacada na segunda-feira tentem se vingar, provocando um novo massacre.

Em Anápolis, Bolsonaro defendeu o trabalho forçado para detentos. ;Eu sonho com um presídio agrícola;, afirmou. Ele disse saber que a proibição do trabalho escravo é cláusula pétrea da Constituição. ;Mas eu gostaria que tivesse trabalho forçado no Brasil para esse tipo de gente. Não pode forçar a barra. Ninguém quer maltratar presos nem quer que sejam mortos, mas é o habitat deles, né?;, disse. Ele completou afirmando que ;fica com muita pena; dos familiares dos presos e das vítimas.

(Colaborou Simone Kafruni)

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo



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