Brasil

Ambientalistas pedem vários modais

postado em 01/08/2019 04:05

Especialistas em meio ambiente concordam que o transporte de cargas por hidrovias gera menor impacto ambiental devido a menor emissão de gases poluentes. No entanto, eles chamam a atenção para efeitos ambientais dentro dos rios, que precisam ser observados, e para o fato de que, ao reduzir o custo dos produtores, devido à redução do frete, mais hidrovias podem estimular os produtores de grão, principalmente de soja, a avançar sobre áreas ainda não desmatadas. A contradição, avaliam, pode ser solucionada com o equilíbrio e a integração com os outros modais (ferrovia e rodovia) e, principalmente, com políticas ambientais que reduzam os impactos e limitem avanços sobre as florestas.

;Tirar a soja das rodovias reduz as emissões vinculadas ao transporte rodoviário e também o custo do frete. Com isso, a soja fica mais competitiva na bolsa de valores, pois a margem para aumentar o lucro do produtor é justamente a redução da despesa com frete, mas a consequência será o aumento da produção e o custo, obviamente, o desmatamento;, explica William Lelis, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, o valor do frete equivale a 28% do preço total do produto.

Na avaliação dos especialistas, o ideal é pensar em um sistema de transporte que integre todos os modais, de forma a usar cada um deles considerando sua eficiência e menor risco ambiental, a depender das características e sensibilidades de cada bioma por onde passam hidrovias, estradas ou ferrovias, pois todas as intervenções causam impacto, o que torna uma obra sustentável é a observância das características ambientais.

;Para reduzir o custo do frete de transporte e da emissão de gases poluentes, habilitar mais hidrovias para transporte de carga é uma opção, que também gera outras consequências ambientais, como o estímulo ao desmatamento, justamente devido às vantagens da hidrovia, entre outros. Esses problemas só podem ser equilibrados com política ambiental, coisa que não temos neste governo;, lamenta Lelis. ;Não vemos nas emendas orçamentárias do Legislativo nada que se refira a habilitar hidrovias. A cultura brasileira está mais ligada a rodovias, onde as grandes empreiteiras que atuam aqui acumulam conhecimento;, diz.

Sensibilidade

O biólogo Alcides Faria, da ONG Ecologia e Ação (Ecoa), lembra que a hidrovia é o modal mais sensível aos efeitos das mudanças climáticas. Isso porque, para permitir que as embarcações naveguem, é preciso um nível mínimo de água nos rios, que diminui nas estiagens prolongadas, causando conflitos pelo uso da água entre a navegação e a produção de energia.

O transporte por rodovias, lembra, também fica prejudicado quando há paralisação de caminhoneiros. ;Não dá para colocar todas as fichas em um único modal. É preciso diversificar;, afirma Faria, defensor das ferrovias. Para ele, a hidrovia que vale a pena é a chamada ;hidrovia limpa;, ou seja, aquela que não muda o curso natural do rio e que não necessita de dragagens constantes para remover sedimentos acumulados.

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