postado em 14/08/2019 04:05
Pelo menos 9 mil manifestantes tomaram a Esplanada dos Ministérios na manhã de ontem, para protestar contra os cortes na educação, contra a reforma da Previdência e pela visibilidade das mulheres indígenas. Os números são da Polícia Militar do Distrito Federal. Segundo a corporação, foram 5 mil representantes de etnias ameríndias e outros 4 mil entre professores e estudantes de escolas públicas, universidades e institutos federais de educação. Grupos que vieram para o Distrito Federal participar da Marcha das Margaridas, marcada para hoje, também desceram para o centro.
Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), os protestos contra a redução de verbas na educação se alastraram por 95 municípios de 25 estados, além da capital federal. Em São Paulo (SP), o movimento aconteceu à tarde. O ponto de encontro foi o Museu de Arte de São Paulo e, por volta de 16h, manifestantes fecharam a Avenida Paulista. No Rio de Janeiro (RJ), os manifestantes saíram em passeata da Universidade Federal Fluminense, Instituto Federal Fluminense e Universidade Estadual Norte-fluminense rumo ao Pelourinho.
Os protestos se espalharam, ainda, por Manaus, Fortaleza, Vitória e diversas outras capitais e municípios interioranos. No DF, porém, por reunir várias categorias, o encontro contou com manifestantes de vários estados. Um dos principais alvos foi o programa Future-se, lançado em 17 de julho, que tem o objetivo de aumentar a autonomia financeira e administrativa de universidades e institutos federais. Tanto estudantes quanto professores se disseram contrários.
A estudante de doutorado do Programa de Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (UnB), Larissa Leão, 30 anos, está entre os críticos do programa do governo. ;São vários motivos, mas vim para defender a educação e combater o Future-se, que tende a sucatear as universidades públicas;, avaliou. A primeira vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Qelli Rocha, 38 anos, por sua vez, disse que o programa é um retrocesso e um processo de privatização das universidades públicas.
;Aderimos ao movimento e contribuímos na construção dele, porque queremos denunciar. Primeiro, vieram os cortes, que farão as universidades pararem de funcionar a partir de setembro, e, depois, esse discurso. Com esse cenário de degradação do espaço público, fica mais fácil construir um discurso de necessidade de privatização;, avaliou a representante, que também é professora da Universidade Federal de Mato Grosso.
Qelli disse acreditar que as atitudes do atual governo, nos primeiros sete meses, mostram a intenção de desvalorizar a educação pública e construir um projeto privatista da educação. ;Isso significa deixar grande parte da população assalariada à margem das universidades;, considera. A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (Une), Regina Brunet, por sua vez, falou em ;mobilização permanente;. ;O governo está apresentando um programa antipovo, e nós somos o povo;, afirmou.
Marcha
Conselheira da Associação Indígena da Aldeia Maracanã, Luakan Anambé, da etnia Anambé, do Pará, falou sobre a importância da marcha das mulheres indígenas. Segundo a liderança, a intenção é dar voz aos grupos de mulheres indígenas e chamar a atenção para o genocídio dos povos. ;Fizemos uma viagem maravilhosa. A primeira marcha ocorre para termos visibilidade, voz e fala. A mulher indígena é muito discriminada, e temos que chamar a atenção das mulheres do contexto urbano para a nossa situação;, disse.
Luakan explicou que o preconceito e a violência contra mulheres indígenas são antigos. ;Desde a invasão do homem branco, viemos perdendo a visibilidade. Tem um genocídio acontecendo no nosso meio. Com o novo governo, nossos caciques estão morrendo. E eles são uma força grande. Quando morrem, você desarticula o resto da comunidade. Perdemos parte da cultura, do dialeto, da nossa língua;, lamentou.