Brasil

Quando a nutrição é uma dor de cabeça

postado em 15/08/2019 04:05
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alerta que relatório da OMS colocará o Brasil como país mais sedentário do mundo

O Brasil caminha para liderança mundial em sedentarismo, o que agrava os índices já alarmantes de obesidade do país. Dados do Ministério da Saúde apontam que 12,9% das crianças entre 5 e 9 anos são obesas e 17% das menores de 5 anos estão com excesso de peso. O fenômeno não é exclusividade do Brasil. A falta de exercícios físicos e hábitos alimentares poucos saudáveis são os principais responsáveis por doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares em termos globais.

Para mudar o quadro, é preciso uma mudança no estilo de vida das pessoas, alertou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que participou, ontem, do Correio Debate sobre Os desafios da Alimentação Saudável no Brasil, evento patrocinado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), com apoio do Instituto Ibirapitanga.

Ao abrir o debate, Mandetta explicou que usar o tempo de maneira útil, saudável e com qualidade de vida está embasado em dois pilares: alimentação e atividade física. ;Quando o equilíbrio entre ingestão e o gasto é desfeito, são percebidas inúmeras situações e problemas de saúde. O que tem se tornado um círculo vicioso, por conta da alimentação cada vez mais industrializada e excessos de açúcar e de sódio;, explicou. ;Somado a isso, temos o tempo medido por hora-tela (que representa o sedentarismo em frente ao computador ou celular) aumentando significativamente;, acrescentou.

Segundo ele, deve sair um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) no qual o Brasil ocupa a posição de nação mais sedentária do mundo. ;Um país que tem uma exposição solar como a nossa, com grande parte da população de frente para o mar, para praia, que é um ambiente extremamente favorável à prática esportiva. E, ainda assim, conseguimos estar mais sedentários do que países que ficam meses do ano sob neve, que não podem fazer atividades ao ar livre;, comparou.

Para Mandetta, é necessário olhar para as políticas públicas. ;Temos que reconhecer que, dentro do nosso sistema de saúde, um dos profissionais menos aproveitados na nossa caminhada de construção do SUS foi o profissional de educação física;, disse. O ministro da Saúde elencou programas como o Crescer Saudável e o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil. ;Precisamos achar um equilíbrio entre o que é uma economia saudável e uma vida saudável a médio e longo prazos. Nesse ponto, a atenção básica é a coluna vertebral, espinha dorsal de qualquer programa de saúde que queira trabalhar o modo de vida, promoção de saúde, medidas de prevenção, e que, no Brasil, estava numa situação de muita fragilidade;, disse. Por isso, o governo decidiu promover uma reestruturação do sistema de saúde, sobretudo da atenção primária. ;Começamos com aumento e horas de porta aberta das nossas unidades básicas de saúde em todo o país;, disse.



Inércia política


Apesar do reconhecimento do aumento da obesidade, crescente no Brasil e no mundo, e da compreensão de soluções para uma possível redução do problema de saúde pública, há uma inércia política para mudar o sistema alimentar dos países e buscar uma alimentação mais saudável. A declaração é do professor de saúde global da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, Boyd Swinburn, que afirma que a inatividade pode ser vista ao redor do mundo. ;Há pilhas de relatórios publicados sobre o que deveríamos fazer. Nós sabemos o que deve ser feito, mas não implementamos. Isso não é um problema brasileiro, é um problema global;, aponta.

Swinburn elencou três motivos que explicam a inércia política mundial. O primeiro é a oposição feita pela indústria alimentar. ;O sistema alimentar que criamos tem como foco principal o lucro, e não os resultados. Isso acontece porque a economia política acaba priorizando os lucros ao invés da saúde;, avalia.

Outra questão é a falta de demanda pública por soluções. ;A população apoia o incentivo à alimentação saudável, mas é um apoio silencioso. Não é com protestos ou atos. Isso nunca chega à mesa dos ministros;, completa. Por fim, as respostas para o alcance de alimentação saudável passam pela cobrança maior de tributos sobre refrigerantes e bebidas açucaradas, restrição de propagandas de certos alimentos para crianças, rotulagem mais clara e uma oferta de serviços de alimentação saudável.

Boyd afirma que o Brasil é um dos países que se destaca nas políticas públicas de alimentação. O pesquisador tirou um ano sabático para pesquisar como a implementação dessas soluções é feita nos países que estão à frente nessa questão. ;A América Latina é a região que está mais à frente na questão de implementação de políticas públicas alimentares;, indica.

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