Agência Estado
postado em 22/08/2019 09:55
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) mostrou preocupação com a repercussão negativa de suas falas no exterior contra organizações não governamentais (ONGs), mas voltou a levantar nesta quinta-feira, 22, suspeitas sobre as entidades. Segundo Bolsonaro, em nenhum momento ele acusou as ONGs sobre queimadas na Amazônia porque não há provas e, sim, "suspeitas".
Em seguida, questionado por jornalistas sobre quem estaria por trás dos incêndios criminosos na Floresta Amazônica, Bolsonaro voltou a dizer que há "indício fortíssimo de que ONGs estão por trás das queimadas".
"São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? É, no meu entender, um indício fortíssimo que esse pessoal da ONG perdeu a teta deles. É simples", reagiu.
Indagado se poderiam ser fazendeiros os responsáveis pelos incêndios, ele concordou.
"Pode, pode ser fazendeiro, pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONGs", reforçou.
De acordo com o presidente, as ONGs "perderam dinheiro" e "estão desempregadas", por isso, teriam interesse em fazer uma campanha contra o governo.
"Não se tem prova disso, meu Deus do céu. Ninguém escreve isso, vou queimar lá, não existe isso. Se você não pegar em flagrante quem está queimando e buscar quem mandou fazer isso, que isso tá acontecendo, é um crime que está acontecendo."
Bolsonaro criticou a imprensa e disse que é "inacreditável" a forma como suas falas contra ONGs foram publicadas nos jornais.
"O Brasil vai chegar à situação da Venezuela, é isso o que a grande imprensa quer", declarou. "Se o mundo lá fora começar a impor barreiras comerciais, nosso agronegócio vai começar a dar para trás, a vida de você (jornalistas) vai estar complicada como a de todos."
Ataques de Bolsonaro a ONGs
O presidente fez os primeiros ataques às ONGs nesta quarta-feira, 21, depois de vir à tona que número de focos de queimadas em todo o Brasil neste ano já é o mais alto dos últimos sete anos, conforme mostrou o Estado na segunda-feira, 19.
Desde 1º de janeiro até esta terça-feira, 20, foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contabiliza esses dados desde 2013.
Um pouco mais da metade (52,6%) desses focos vem ocorrendo na Amazônia, com Mato Grosso na liderança. As queimadas já superam em 8% o recorde de 2016, um ano de extrema seca, que tinha registrado 68.484 focos no mesmo intervalo de tempo.
Apesar de este ano também estar com uma estiagem mais prolongada - o que chegou a ser sugerido como uma possível causa para o aumento das queimadas -, a seca é menos intensa do que a de 2016. Estudo divulgado nesta terça pelo Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia (Ipam) apontou uma forte correlação entre o aumento das queimadas com a alta no desmatamento da Amazônia.
O total de focos neste ano já é 60% superior à média dos últimos três anos e está sendo impulsionando pelo corte da floresta, disseram os pesquisadores da ONG em nota técnica. Alertas de desmatamento feitos pelo Inpe indicam uma alta de 49,45% no desmatamento entre agosto do ano passado e julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores.
'Irresponsabilidade de Bolsonaro'
Em nota divulgada na quarta, a coordenação do Observatório do Clima, coalizão de cerca de 50 ONGs do País em prol de ações contra as mudanças climáticas, reagiu às insinuações do presidente e disse que o "recorde de queimadas reflete irresponsabilidade de Bolsonaro". Em outra carta, um grupo de 81 ONGs afirmou que "Bolsonaro não precisa de ONGs para queimar a imagem do Brasil no mundo inteiro".