Ana Dubeux
postado em 25/08/2019 09:47
O mundo já entendeu, há algum tempo, que a Amazônia tem uma importância estratégica para a sobrevivência de nossa espécie e para a continuidade deste planeta como habitat em condições favoráveis à humanidade. O grito diante da situação atual é tão somente o grito do ser humano por sua própria sobrevivência. Há dinheiro envolvido, há interesses escusos, há a politicagem de sempre, mas há uma verdade incontestável: nós desmatamos, não fiscalizamos, não protegemos como deveríamos. O descaso das autoridades por anos a fio já matou índios e as populações ribeirinhas, matou ambientalistas, protegeu desmatadores, enriqueceu exploradores. Agora, queima a nossa grande floresta com uma sucessão de incêndios que já devastou 20 mil hectares e alcançou o Pantanal. Pode ser fruto do clima, mas ainda é parte dos atropelos de uma política pública que não preserva. É um crime sem precedentes, que vem sendo cometido dia a dia há muito tempo, sem punição e sem atenção. Não é preciso dizer que a situação piorou nos últimos meses.
O governo atual, principalmente por meio da retórica inábil e acima do tom empregada por Bolsonaro, errou. Erra ao questionar dados sérios, desdenhar de especialistas competentes e menosprezar a crescente preocupação de ambientalistas e de líderes internacionais com o futuro da Amazônia. Erra ao incluir o tema nas discussões pueris das redes sociais. Erra ao insistir nos mesmos argumentos sem sentido. Não se trata apenas de perder mercados e investimentos externos. Tampouco de uma questão de soberania. A Amazônia é garantia de vida e saúde. Também é a riqueza da biodiversidade. É pulmão, museu, riqueza, biblioteca, conhecimento, cultura, cheiro, verde, bicho, planta, rio, história, gente... É tanta coisa a mais do que a tradicional descrição de maior floresta tropical do mundo.
Podemos divergir sobre muitos aspectos da vida. Podemos brigar por política, partido, pensamentos, culturas, tradições, religiões, futebol etc. Mas não devemos jamais discordar de que a preservação das nossas florestas é o maior e mais importante legado brasileiro para o planeta. Deveríamos estar na dianteira da preservação, e não brigando com o mundo que expressa o temor de que esse santuário verde seja destruído e que se propõe a ajudar o Brasil a zelar pela saúde da floresta.
Todos são responsáveis pela preservação da espécie e do planeta. Esperamos que o gabinete de crise do governo Bolsonaro seja célere em ações ; ou o Brasil vai perder muito, sobretudo em credibilidade internacional. É preciso mais seriedade e menos bravata. Mais senso de urgência e menos leniência.