Brasil

Mudança de tom

Bolsonaro adota discurso mais moderado, conversa com Angela Merkel, diz estar aberto a ajuda externa para combater queimadas, mas rejeita discussões sobre a soberania brasileira na região. Filho do presidente e chanceler vão a Trump em busca de apoio

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 31/08/2019 04:04
Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo em Washington: Brasil e EUA alinhados

O presidente Jair Bolsonaro adotou, ontem, um estilo mais conciliador ao tratar da questão ambiental na Amazônia. Em conversa por telefone com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, Bolsonaro agradeceu o esforço dela para colaborar com Brasil e a atualizou quanto às medidas adotadas para reduzir os incêndios na região. Antes, o presidente afirmou que está aberto a receber recursos para o Fundo Amazônia ; um dos pontos de atrito com governos europeus.

Fora do país, Bolsonaro teve a ajuda do filho para lidar com a crise ambiental. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viajaram aos Estados Unidos para uma reunião com o presidente norte-americano, Donald Trump. ;Eu pedi para o Trump nos ajudar. Ele tem dito que não poderia tomar uma decisão sem ouvir o Brasil. O Brasil é um país amigo de todo mundo;, destacou Jair Bolsonaro, antes do encontro.

Além de um país que pode doar verbas ao Brasil, o Planalto vê nos EUA um importante aliado para barrar propostas que colocam em xeque a soberania brasileira na Amazônia, como a sugestão do presidente francês, Emmanuel Macron, de criar um estatuto internacional para a região. Após a reunião com Trump, o chanceler Ernesto Araújo disse, em Washington, que o encontro teve um caráter simbólico, ao evidenciar as boas relações entre Brasil e Estados Unidos.

Eduardo Bolsonaro, que é candidato ao cargo de embaixador brasileiro nos EUA, foi mais explícito: ;Brasil e EUA estão alinhados. Se alguns líderes tentarem fazer algum tipo de negociação com a Amazônia sem a presença do Brasil vão encontrar muito problema para fazê-la, porque os EUA vão se opor a isso. Todos os líderes que tentarem subjugar a soberania nacional encontrarão problemas não só com o Brasil, mas também com os Estados Unidos;.

Em Brasília, ao relatar o telefonema entre ele e Merkel, Jair Bolsonaro afirmou que o contato foi ;franco e cordial;. Além de agradecer a colaboração do país, o presidente reforçou a posição brasileira de não admitir discussões sobre a soberania da Amazônia e sobre a administração de recursos concedidos ao Brasil. O telefonema, segundo Bolsonaro, mostrou uma mudança de tom nos diálogos. ;Ela começou com um tom, depois foi para a normalidade;, afirmou.

A relação com Merkel melhorou consideravelmente, depois das declarações fortes de Bolsonaro sobre a suspensão do repasse de 35 milhões de euros do governo alemão ao Fundo Amazônia. Na primeira quinzena de agosto, ele sugeriu que a Alemanha usasse a verba para reflorestar as próprias matas nativas. Ontem, disse que aceitaria doações, desde que saiba para onde serão destinadas. ;Sem problema nenhum. Agora, queremos saber para onde vai essa grana;, disse. O presidente, contudo, manteve o tom crítico em relação a países europeus. ;A Europa toda, não é só a Alemanha, não tem lições para nos dar no tocante à preservação do meio ambiente;, afirmou.

Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio Filho, o presidente percebeu o tamanho do problema. ;Bolsonaro está vendo a reação europeia, mais do que isso, a reação mundial em relação à Amazônia. É um problema muito maior do que inicialmente ele pensava;, afirma. Argemiro acredita que o presidente, procede, agora, com mais sabedoria diante da crise.

No entanto, o discurso muda de tom quando o outro lado envolve diálogo com o presidente da França, Emmanuel Macron. A queda de braço com o presidente francês continua. ;Estou disposto a conversar com qualquer um, exceto com nosso querido Macron, a não ser que ele se retrate sobre nossa soberania na Amazônia. Aí, eu converso com ele;, reforçou.
O presidente ressaltou não ter intenção de receber os 20 milhões de euros sinalizados pelo G-7, mas disse aceitar verbas por vias bilaterais. ;Qualquer recurso individual, de um país para o outro, a gente conversa. Agora, o Macron quer doar em nome do G-7, e isso não é verdade;, sustentou. Bolsonaro informou, ainda, que, na próxima semana, deve fazer uma visita à região amazônica, mas não fixou data para a viagem.

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