Brasil

Recursos para caças têm corte de 50%

Integrantes da cúpula militar brasileira acompanham os primeiros testes da aeronave de combate Gripen, na Suécia. Redução orçamentária preocupa oficiais, pois pode significar a renegociação do contrato

postado em 11/09/2019 04:04
O Gripen em voo de teste na Suécia: o Brasil encomendou 36 unidades à Saab, fabricante da aeronave, para renovar a frota de defesa nacional

Link;ping ; Em meio a dificuldades orçamentárias, integrantes da alta cúpula militar brasileira acompanharam, na Suécia, os primeiros testes táticos e de sensores do caça Gripen ; a aeronave foi escolhida ainda em 2014 para renovar a frota de defesa nacional. A falta de recursos, entretanto, tem levado os oficiais a insistirem na manutenção da média anual das verbas. Levantamento da associação Contas Abertas, a pedido do Correio, revela que os recursos para o ;programa de aquisição de aeronaves e sistemas; (FX-2) será reduzido em 52,6% a partir de 2020.

Os recursos reservados para a compra e desenvolvimento do Gripen subiram entre 2018 (R$ 1,05 bilhão) e 2019 (R$ 1,36 bilhão), mas caíram drasticamente na previsão para o próximo ano (R$ 643,3 milhões). Isso sem contar o que pode vir a ser contingenciado ainda neste e no próximo ano. De uma forma geral, houve queda de 42% nos programas do Ministério da Defesa, que, em nota, garante que trabalha com ajustes para que não haja impactos significativos nos projetos.

Há preocupação com a queda dos recursos, mas integrantes da empresa sueca Saab, fabricante dos caças, garantem o acordo, apesar de que, mantidos os atuais valores para 2020, seja necessária uma eventual renegociação de alguns dos termos. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, participou ontem, em Link;ping, a 200km de Estocolmo, na sede da Saab, da cerimônia de testes da primeira aeronave encomendada pelo governo brasileiro ; o primeiro voo foi em 26 de agosto. O general disse que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, a equipe econômica está revendo a previsão orçamentária para 2020.

;São projetos que já estão iniciados, assim tenho expectativa positiva para o próximo ano, para que não tenha uma defasagem;, disse Azevedo e Silva. ;O presidente está ciente. E tem origem militar, e como parlamentar, durante 28 anos, sempre defendeu as causas militares.; O brigadeiro do ar Valter Borges Malta, presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate, diz que não está em discussão o corte no orçamento. ;Vamos batalhar para que isso não ocorra. Mas no caso de redução, é preciso, eventualmente, ter uma renegociação do contrato com a Saab.;

Os testes de ontem no Gripen foram um passo efetivo de programa gestado há quase duas décadas para a renovação da frota de caças brasileiros. Iniciado ainda em 2001, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso lançou o projeto F-X, o processo de compra passou pelos governos Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, até chegar à gestão de Jair Bolsonaro, com um orçamento mais baixo até aqui.

A disputa de quase R$ 17 bilhões envolveu diretamente a norte-americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab, que acabou vitoriosa. Em outubro de 2014, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou o resultado da concorrência. O acordo prevê a compra de 36 aeronaves e a transferência de tecnologia, o que já vem ocorrendo a partir de parcerias com empresas brasileiras ; representantes das companhias nacionais também participaram do evento, ontem, na Suécia.

;É um programa de soberania e defesa. Aumentamos a capacidade da FAB e impulsionamos a transferência de tecnologia para o Brasil, abrindo as fronteiras para o conhecimento;, disse Azevedo e Silva. ;O setor representa 4% do PIB, gerando mais de 285 mil empregos diretos e 850 mil indiretos, com salário médio de aproximadamente duas vezes maior à média nacional. O projeto Gripen vem para robustecer esses números.;

Os governos brasileiro e sueco ; além das empresas envolvidas no projeto ; esperam ampliar o mercado internacional a partir da unidade de produção da Embraer, em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. O comandante da FAB, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, disse que Bolsonaro continua ;priorizando a alocação de recursos necessários a um projeto tão promissor para o Brasil;.

Procurado na semana passada, o Comando da Aeronáutica não confirmou a dotação orçamentária para o processo de compra, mas garantiu que o cronograma está mantido, detalhando aspectos como as etapas de certificação. ;O cronograma de entregas contratado pela Força Aérea Brasileira contempla o recebimento das aeronaves a partir de 2021, até 2026. Será um total de 36 aeronaves que vão, inicialmente, ser operadas por unidades aéreas a partir da Ala 2, em Anápolis (GO). Os pilotos brasileiros efetuarão o treinamento na Suécia a partir de 2020;, diz nota da assessoria militar.

Cerca de 350 profissionais brasileiros participam do programa de transferência de tecnologia na Suécia, que envolve 62 projetos de diversas disciplinas aeronáuticas.

* O jornalista viajou a convite da Saab

  • Protesto contra cortes na Capes

    Coordenadores de pós-graduação de universidades brasileiras realizaram um abraço coletivo, na tarde de ontem, no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes), em Brasília, para protestar contra os cortes de verba para a entidade. A mobilização contou com cerca de 100 pessoas. Levantamento divulgado no início do mês apontou que 5.613 bolsas foram congeladas em todo o país. No Distrito Federal, foram 100 e no Centro-Oeste, 343. A região mais afetada foi o Sudeste, com 2.918. São Paulo lidera o número de congelamento com 1.673.

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