Brasil

Maior rede de produtos naturais da Suécia suspende compra de produtos brasileiros

Agência Estado
postado em 23/09/2019 15:02
Há cerca de três meses, após tomar conhecimento da liberação de 197 agrotóxicos pelo governo Bolsonaro, o empresário sueco Johannes Cullberg decidiu banir produtos agrícolas do Brasil das prateleiras dos seus supermercados. Mais tarde, quando os anúncios de queimadas na Amazônia ganharam o noticiário internacional, o boicote ganhou ainda mais força. Fundador da Paradiset, maior rede de produtos naturais da Suécia, ele vendia itens como manga, castanhas, cacau, limão e água de coco de origem brasileira. Mas decidiu parar de vender os produtos para não expor os clientes dos seus supermercados a mercadorias cuja produção usou defensivos agrícolas que são proibidos pelas leis suecas ou que pudessem ter colaborado com o desmatamento. O empresário lançou até uma hashtag de boicote aos alimentos brasileiros. No Instagram, há quase 200 publicações com a inscrição #BoycottBrazilianFood. Ele diz que os consumidores e outros empresários locais também têm se sensibilizado com o tema. A seguir, trechos de sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Por que a rede decidiu banir os produtos agrícolas do Brasil? Nosso protesto começou com a liberação de mais agrotóxicos, pelo governo Bolsonaro, há cerca de três meses. Muitos deles foram banidos aqui na Suécia, não poderíamos expor nossos clientes a esse tipo de produto. E o protesto ganhou força quando vimos as imagens de queimadas na Amazônia. O nosso boicote se restringe a produtos que não são orgânicos e podem contribuir para a venda de pesticidas e para o desmatamento. Qual é o peso da questão ambiental para os suecos? A sustentabilidade deixou de ser um assunto distante. O consumidor de hoje não quer saber apenas quanto um produto custa, ele também se preocupa com a sua origem e a forma como foi produzido. Essa é uma tendência na Suécia, percebemos essa preocupação todos os dias em nossas lojas. A preservação ambiental não é uma questão de viés ideológico, ultrapassa partidos. As crianças daqui aprendem desde muito cedo a importância de se preservar o meio ambiente, é um valor intrínseco para nós. No início do mês, a marca sueca H se juntou às concorrentes internacionais que suspenderam a compra de couro de origem brasileira, em retaliação às queimadas na Amazônia. O boicote aos produtos brasileiros pode se espalhar ainda mais? Pode, sim. Os empresários estão cada vez mais sensíveis aos problemas ambientais. A imagem do presidente Bolsonaro ficou chamuscada internacionalmente após esses episódios? Sem dúvida. Após o aumento das queimadas e os embates com os governos da Alemanha e da Noruega (que bloquearam repasses para a preservação da Amazônia) e com (o presidente francês) Emmanuel Macron, a imagem de Bolsonaro no restante do mundo ficou bem danificada. Ele é visto como uma versão piorada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Se é que isso é possível, já Trump é um dos políticos menos admirados do mundo. Vocês voltariam a vender produtos brasileiros? Claro. Superadas essas questões, a gente adoraria voltar a vender produtos brasileiros e apoiar os agricultores locais. * O repórter viajou convidado pela Svenska Aeroplan AB (Saab)

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