Fábio Grecchi
postado em 24/09/2019 18:29
Bastaram apenas quatro dias para que outra menina fosse baleada no Rio de Janeiro. Vitória Ferreira da Costa, de 11 anos, estava com a mãe quando foi atingida por um tiro na perna, nesta terça-feira (24/9), no Morro da Mineira ; Catumbi, região central da cidade. A sociedade carioca nem sequer se recuperou da morte de Ágatha Félix, de apenas 8 anos ; que recebeu um tiro nas costas na noite da última sexta-feira (20/9) ;, e acontece novo episódio de bala perdida.
Conforme informou a Secretaria Municipal de Saúde, Vitória deu entrada às 16h no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e seu estado de saúde é estável. A assessoria de imprensa da Polícia Militar do Rio de Janeiro diz que não havia equipes da corporação na comunidade no momento em que teria acontecido o disparo. Ainda segundo a PM, uma mulher, que também seria moradora da Mineira e não foi identificada, deu entrada no Souza Aguiar.
Decreto de Witzel
O novo caso em que uma adolescente é baleada acontece exatamente horas depois de o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assinar decreto que acaba com incentivo à redução de mortes provocadas por policiais. O texto foi publicado no Diário Oficial do Rio.
O decreto de Witzel altera o Sistema Integrado de Metas, criado em 2009, que prevê pagamento de bônus a policiais caso consigam reduzir uma série de indicadores de criminalidade do Estado. Entre as categorias para calcular as gratificações está a letalidade violenta.
[SAIBAMAIS]Na versão original, esse grupo era composto por indicadores de homicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e auto de resistência (hoje, chamado de mortes decorrentes de intervenção de agentes do Estado). Com a alteração de agora, no entanto, o programa passa a desconsiderar as mortes em confrontos com a polícia.
Recorde de mortes
Sob a gestão de Witzel, a polícia do Rio tem batido recorde de letalidade. Em julho, 194 pessoas foram mortas em ações do Estado, o maior número desde o início da série histórica, em 1998.
Em 2019, até agosto, 1.249 pessoas foram mortas pela polícia nessa situação. No mesmo período de 2018, esse número foi de 723 - houve aumento de 72,7%, portanto.
Na segunda-feira (23/9), o governador concedeu entrevista coletiva na qual lamentou a morte de Ágatha, mas culpou usuários de drogas e defendeu as operações realizadas por sua gestão. "É indecente usar caixão como palanque", declarou o governador.