Brasil

Juventude ainda precisa incorporar práticas sustentáveis, diz especialista

Estudantes se engajam em movimentos em defesa do meio ambiente e, cada vez mais, tentam influenciar gerações anteriores a mudar hábitos, mas, segundo especialistas, juventude ainda precisa incorporar práticas mais sustentáveis

Claudia Dianni, Cristiane Noberto*
postado em 06/10/2019 08:00
Grupo de Estudos sobre Direitos Animais e Interseccionalidades: movimentos de várias frentes se espalhamLíder de um movimento global de estudantes, que já realizou três greves em defesa da adoção de ações concretas com relação às mudanças climáticas, a adolescente sueca Greta Thumberg tem inspirado jovens no mundo todo na defesa da pauta ambiental. Especialistas acreditam que a juventude ainda tem que conciliar teoria e prática, ao incorporar o discurso no modo de vida, principalmente com relação ao consumo e ao descarte. As novas gerações estaão mais dispostas a adotar novos hábitos e já começam a mudar. Muitos tentam influenciar família e amigos a se engajarem em movimentos de preservação do meio ambiente.

Um estudo encomendado pelas maiores empresas mundiais, realizado pela GlobalData, em março do ano passado, revelou que 70% da população mundial está reduzindo o consumo ou deixando de comer carne. A pecuária bovina é responsável por grande parte das emissões de gases do efeito estufa. No Brasil, a atividade responde por 17% das emissões nacionais.

Esse tipo de mudança tem sido endossada, principalmente, pela geração nascida após os anos 2000, os chamados millennials. ;A principal pauta do Jovens Pelo Clima é não só falar, mas fazer a sua parte;, afirma Nina Abers, de 18 anos, líder do movimento em Brasília. Estudante de uma escola privada, ela afirma que, desde pequena, sente-se inclinada a temas ambientais, mas foi somente depois de conhecer o movimento que passou a se dedicar, de fato, à preservação. ;Aqui em casa reciclamos todo o lixo e só usamos sacolas reutilizáveis. Reduzimos a carne, não usamos canudo, tentamos andar mais de transporte público do que de carro. Se todo mundo fizesse o mínimo, não teria tanto plástico nos oceanos;, afirma.

Para a professora da UnB e líder do Grupo de Estudos sobre Direitos Animais e Interseccionalidades (Gedai), Vanessa Negrini, os jovens estão preocupados com o futuro do planeta, principalmente com relação ao consumo consciente. ;Essa geração é mais propensa a pensar no impacto ambiental. Há uma diferença brutal entre a minha geração e a atual. É um movimento crescente. Esses jovens estão mais conscientes;, afirma.

O diretor da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Eco) e professor da Universidade de Brasília Leopoldo Costa Junior destaca que as pessoas devem incentivar práticas sustentáveis, como comprar em comércios locais, usar aplicativos especializados em entregas por bicicleta e feiras de troca. ;É preciso pensar globalmente e agir localmente. Sozinho, dificilmente, alguém vai conseguir fazer a diferença no mundo, mas, quando milhões de pessoas fazem, surte um grande efeito. Os mais jovens são os que mais têm feito esse trabalho;, opina.

Estudante do 3; ano do ensino médio em uma escola pública da Asa Sul, Jorge Luiz Freitas,17, morador do Guará 2, integra, com mais 30 alunos e funcionários, o projeto ;Escola do Bem Viver;, que cultiva uma horta na escola. Ele e os colegas estão preparando uma proposta para o projeto Hortaliça, da Embrapa.

Líderes internacionais


Para a consultora ambiental e fundadora da Youth Climate Leaders (Jovens Lideranças pelo Clima), Cássia Oliveira Moraes, 29, a liderança de Greta incentiva os jovens, mas o contrário também ocorre. ;Greta está fazendo um grande trabalho, pois ela está conseguindo mobilizar a juventude porque muitos já estão sensibilizados;, opina. A consultora, que trabalha com treinamento e formação de jovens lideranças para atuação profissional com relação às mudanças climáticas, afirma que, mesmo os jovens que procuram o programa ainda não incorporaram totalmente hábitos de vida sustentáveis. ;Felizmente, é uma geração bem mais disposta e que se esforça para mudar;, afirma.

Dedicada a formar redes e a treinar jovens lideranças internacionais, em qualquer área do conhecimento, para atuar em frentes de trabalho que lidam com mudança climáticas, a YCL foi selecionada para a etapa nacional do programa Accelerate2030. Liderado pela rede de inovação Impact Hub e pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o projeto estimula empreendimentos de alto impacto que atendam aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Mais de 300 empresas inovadoras se inscreveram. O objetivo é conseguir financiamento para globalizar o projeto. De acordo com Cássia Moraes, há um crescente interesse da juventude por temas ambientais. Na última edição da imersão, a Youth Climate Leaders recebeu 500 pedidos de inscrição de 95 países. Os jovens que se inscrevem no programa e são selecionados passam por uma imersão internacional em diferentes países, onde fazem contatos, visitas, assistem a aulas e desenvolvem projetos conjuntos.

Marcos Paredes é chefe de Unidade de Educação Ambiental do programa Brasília Ambiental. Segundo ele, a entidade conta com três propostas que agregam jovens do Distrito Federal. Um dos programas é o Parque Educador, que atende 26 escolas e mais de 3.600 alunos do ensino médio, por ano.

*Estagiária sob coordenação de Cláudia Dianni

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