Brasil

Papa critica queimadas e novos colonialismos

Pontífice abriu ontem Sínodo que, nas próximas três semanas, vai discutir problemas da região amazônica. Além das agressões ao meio ambiente, bispos vão se debruçar sobre temas como ordenação de homens casados e o papel das mulheres na Igreja

Correio Braziliense
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postado em 07/10/2019 04:13
Missa solene que marcou a abertura do evento, na Basílica de São Pedro, teve a presença de representantes de grupos indígenas brasileiros

Diante de um público que incluía grupos indígenas brasileiros, o papa Francisco abriu oficialmente ontem o Sínodo dos Bispos Sobre a Amazônia com uma dura condenação dos incêndios que agridem a floresta. ;O fogo aplicado pelos interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o fogo do Evangelho;, disse Francisco durante missa solene na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

O papa criticou ainda os ;novos colonialismos que querem levar adiante apenas as próprias ideias, fazer o próprio grupo, queimar o diferente para uniformizar todos e tudo;. ;Quantas vezes o dom de Deus não foi oferecido, e sim, imposto? Quantas vezes houve colonização, em vez de evangelização?;, questionou o pontífice.

O sínodo, que ocorre até o próximo dia 27, deve tratar de temas sociais, ambientais e religiosos dos nove países que têm territórios na Amazônia ; Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Suriname. Além da preservação ambiental, o encontro vai debater temas polêmicos, como a possibilidade de ordenar homens casados como padres. Também estará em pauta o papel das mulheres nas celebrações litúrgicas e a perda diária de fiéis para as igrejas evangélicas.

Dos cerca de 250 bispos convocados pelo papa para participar do Sínodo, 58 são brasileiros ; é a maior delegação. O relator-geral do Sínodo é o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam).

Soberania

Entre os participantes estão religiosos como bispos, padres e freiras, mas também leigos convidados, entre os quais cientistas e pessoas ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU). A expectativa é grande sobre os debates, principalmente por conta da crise climática contemporânea e de recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre os problemas ambientais na Amazônia, que repercutiram mal no exterior. O governo brasileiro acompanha o evento com preocupação, temendo discursos que possam estimular interferência na soberania brasileira na região.

Um dos cientistas que participam do evento é o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Ele integrou a equipe que venceu o Nobel da Paz em 2007 e é um dos mais renomados especialistas do mundo na área. Segundo Nobre, a Amazônia ;tornou-se um assunto de preocupação mundial;. ;Ainda que não tenha sido planejado para tanto, o Sínodo acontece num momento no qual os desmatamentos e as queimadas vêm aumentando perigosamente e a discussão vem recebendo grande atenção;, disse. ;O encontro permitirá que se discutam novos modelos de desenvolvimento para a Amazônia, uma bioeconomia de floresta em pé e com o empoderamento de suas populações.;

O padre jesuíta norte-americano James Martin, consultor do Vaticano, definiu o Sínodo como ;um tempo para a Igreja se reunir e meditar sobre os muitos desafios que enfrenta, não apenas em termos de meio ambiente;. ;Mas, também, como ajudar a alcançar pessoas em lugares que muitas vezes não são servidos por padres e paróquias;, comentou. ;E a maneira como essa região responde a essas perguntas ajudará outras áreas a enfrentar seus próprios problemas através desse importante modo de discernimento.;

Segundo o Instrumento de Trabalho, o documento divulgado anteriormente para nortear as discussões do Sínodo, os bispos também vão discutir a violência, o narcotráfico e a exploração sexual que vitimiza os povos locais, as práticas de extrativismo ilegal, o desmatamento, a poluição dos rios e as ameaças à biodiversidade, a crise climática global, os danos possivelmente irreversíveis da floresta e o posicionamento de governos quanto a projetos econômicos prejudiciais à natureza.

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