Brasil

Adolescente negro que fotografava pássaros é confundido com ladrão

O menino de 17 anos aproveitava o horário de almoço para fotografar no bairro em que trabalha, em Jundiaí, e passou a ser apontado como suspeito nas redes sociais

Philipe Santos
postado em 11/10/2019 15:08

Polícia investiga caso de garoto negro que virou suspeito em grupo de moradores após tirar fotos na ruaA Polícia Civil de São Paulo investiga o caso em que um jovem negro teve fotos compartilhadas e foi apontado como "suspeito" nas redes sociais e no WhatsApp por moradores do bairro Elóy Chaves, em Jundiaí (SP).

Gabriel Souza, 17 anos, que trabalha nas redondezas, tem o hobby de fotografar pássaros. O hábito, no entanto, fez com que os moradores do bairro, incluindo um vereador, o vissem como um possível ladrão, que estaria fotografando as casas.

Fotos do adolescente passaram, então, a ser compartilhadas em grupos de celular e no Facebook, como uma forma de "alerta", detalhou matéria da Folha de São Paulo.

De acordo com a reportagem, um áudio atribuído a um vereador reforçava a suspeita sobre o jovem. "Se vocês virem esse indivíduo pela rua, já liguem para o 153, porque a viatura da guarda já está tentando achá-lo pelo bairro. É um suspeito de estar filmando e tirando foto das casas aí", dizia.

Ao saber da história, Gabriel se manifestou com indignação nas redes sociais, dizendo-se alvo de injúria e difamação. "Essa história repercutiu nas mídias sociais e estou sendo alvo de perseguição. ;Mas por que você está no bairro se não mora aqui??? Porque eu trabalho das 8h às 18h numa borracharia junto ao meu pai. Me dedico à fotografia no meu horário de almoço, aliás pouco tempo disponível para a prática da mesma", escreveu.

Na publicação, Gabriel também agradeceu o apoio que vem recebendo de algumas pessoas. "Obrigado Anderson Kg (meu professor) pelo incentivo, treinamento e principalmente pelo apoio em um momento tão turbulento como este. E também a todos que sempre acreditaram em mim e apoiaram meu trabalho!! Não vou ficar quieto perante tamanha repercussão negativa. Acredito que a verdade e a justiça prevalece!”, concluiu.

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Ocorrência policial

Uma das fotos que Gabriel fez na regiãoEm entrevista à Folha, Gabriel afirmou que começou a perceber movimentação incomum na vizinhança. De acordo com ele, viaturas da guarda passavam e olhavam para dentro da borracharia, como se o estivessem procurando. Preocupado, o jovem relatou que foi a duas delegacias, mas que em nenhuma delas conseguiu registrar um boletim de ocorrência.

"Eles disseram que não havia crime e se negaram a tomar providências. Em uma delas, sugeriram que eu tirasse uma foto com uma folha de papel sulfite com o meu nome escrito por extenso, para evitar problemas no futuro. Queriam me fichar", relatou. "Em outra delegacia, disseram que eu deveria ficar uma semana sem fotografar. Depois disso, deveria andar com um certificado de algum curso de fotógrafo, um crachá, nota fiscal da câmera e andar acompanhado", prosseguiuGabriel.

Ao Correio, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Civil investiga se houve crime contra o jovem. Na nota, acrescentou que o jovem "compareceu à Seccional de Jundiaí, onde foi orientado quanto ao registro da ocorrência e sobre a disponibilidade do 1;DP da cidade".

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