Brasil

Devoção à Santa Dulce dos Pobres

Papa Francisco santifica a freira que pregou o amor ao povo baiano e a caridade com os mais pobres e necessitados. Cerca de 50 mil pessoas, das quais 10 mil brasileiros, acompanharam a cerimônia realizada no Vaticano neste domingo

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/10/2019 04:13
Imagem de Santa Dulce dos Pobres na Praça de São Pedro: emoção

Um legado de 77 anos, marcados pela devoção a Deus, pelo amor ao povo baiano e pela caridade com os mais pobres e necessitados alcançou ontem a mais importante condecoração da Igreja Católica. A freira Irmã Dulce, o ;anjo bom da Bahia;, foi elevada aos altares pelo Papa Francisco e, a partir de agora, é a primeira santidade nascida em solo brasileiro, e passará a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres.

Aproximadamente 50 mil pessoas prestigiaram a cerimônia na Praça de São Pedro, no Vaticano. No meio da multidão de fiéis, muitos balançavam bandeiras do Brasil ou usavam as cores verde e amarelo: nas contas do Vaticano, pelo menos 10 mil brasileiros acompanharam o evento. Entre os que atravessaram o Oceano Atlântico para acompanhar a canonização de perto, estavam lá os dois agraciados pelos milagres de Irmã Dulce: a sergipana Cláudia Santos, 50, e o conterrâneo da santa, o baiano José Maurício Moreira, 51.

;Eu não poderia deixar de vir. A emoção é muito grande de relembrar tudo aquilo que passou, hoje a minha fé é muito maior. Depois do que passei, vi que nós realmente não somos nada. Foi uma bênção de Deus, agradeço primeiramente a Deus e pela intercessão de Irmã Dulce. Não era nem para eu estar aqui, ela é minha santinha;, afirmou Cláudia, ao fim da missa de canonização. Ela teve uma hemorragia incontrolável após dar à luz o segundo filho, em 2001. A equipe médica fez três cirurgias para tentar conter a situação, mas elas não surtiram efeito. O sangramento só parou após um padre rogar à Irmã Dulce pelo salvamento da mulher.

José Maurício, por sua vez, ficou a poucos passos do Papa durante a cerimônia. Durante a procissão do ofertório, ele subiu ao altar carregando uma taça com pétalas de flores, acompanhado pelos miraculados dos outros quatro beatos que também foram canonizados ontem (um teólogo inglês, uma freira italiana, uma freira indiana e uma catequista suíça). Naquele momento da cerimônia, o pontífice tocou a mão de José Maurício e o abençoou. O homem perdeu a visão em 2000 devido a um glaucoma. Ficou até 2014 sem enxergar. Naquele ano, ao sentir fortes dores devido a uma conjuntivite, ele pediu ajuda à Irmã Dulce e, milagrosamente, recuperou a visão de forma permanente.

;Caridade maternal;

Na hagiografia de Irmã Dulce consolidada pelo Vaticano, ela passa a ser apresentada como alguém que ;desde a infância, se destacou por uma grande sensibilidade para com os pobres e necessitados;. O documento é uma espécie de biografia que consiste na descrição da vida de algum santo, beato ou servo de Deus pela prática de virtudes heroicas. ;Sua caridade era maternal, carinhosa;, diz o texto.

Em um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, foi exibida uma relíquia de Irmã Dulce: um pedaço de osso da costela, impregnado em uma pedra de ametista. Na homilia, o Papa Francisco frisou que, dos cinco novos canonizados, três eram freiras e também disse que ;hoje (ontem) agradecemos ao Senhor pelos novos santos, que andaram com fé e agora os evocamos como intercessores;. O Papa destacou que os novos santos ensinaram as pessoas com as quais tiveram contato a caminhar na fé. Esse exemplo, para Francisco, tem de ser seguido por toda a humanidade. ;Você quer crescer na fé? Cuide de um irmão distante, de uma irmã distante. A fé é caminhar juntos, jamais sozinhos. A fé abre caminho através de passos humildes e concretos. Peçamos para ser, assim, luzes gentis no meio das trevas do mundo;, declarou.

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