postado em 24/10/2019 04:14
[FOTO1]Em meio à crise do vazamento de óleo no litoral do Nordeste, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo jamais foi extinto. Conforme garantiu, ontem, em entrevista ao CB.Poder ; uma parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense ;, o PNC está sendo seguido desde 2 de setembro, e não desde em 11 de outubro ;como têm afirmado os críticos ;, sob coordenação da Marinha.
O ministro também considera que a situação inédita de ter de lidar com uma substância cujas manchas ficam, sobretudo, abaixo da linha d;água, dificulta a operação, pois o rastreamento espacial não é capaz de detectar o movimento que fazem. Assim, a operação de contenção torna-se quase pontual, quando o óleo se aproxima ou já está na areia da praia.
Salles destacou que o trabalho dos voluntários na limpeza das áreas atingidas tem sido inestimável, e que está aberto ao diálogo com organizações não governamentais com propostas e sugestões técnicas a oferecer ; o que não seria, segundo ele, o caso do Greenpeace, cujo interesse é somente o de fazer oposição política.
Por que o Plano Nacional de Contingência só foi acionado mais de 40 dias depois do surgimento das manchas de óleo?
O Plano vem sendo aplicado, e todos os procedimentos previstos, desde o dia 2 de setembro. Não é verdade que só foi utilizado em 11 de outubro. Desde 2 de setembro, o grupo de acompanhamento e avaliação, composto por Ibama, ANP (Agência Nacional do Petróleo) e Marinha, vem monitorando todo o litoral, não só utilizando satélites estrangeiros, satélites nacionais, avião-radar do Ibama, helicópteros do Ibama e da Marinha, e retirando o óleo. Aliás, em todas as praias onde aparece, vem sendo retirado no mesmo dia, o que mostra eficiência. Também a destinação é importante: fizemos entendimentos com a indústria de cimento para esse óleo ser incinerado nos fornos.
O Governo subestimou o desastre? O ministro da Defesa disse que o Exército demorou a entrar porque o governo não tinha a dimensão.
Ninguém tem o tamanho porque não se sabe a quantidade e nem a forma como foi derramado. Não é possível dimensionar o problema. O que se fez, à medida que o óleo foi aparecendo: equipes foram sendo empregadas, retirando e dada a destinação. Foi dada a resposta adequada: o aumento do efetivo pelo Exército, somado àquele que já estava lá e ao trabalho dos voluntários. Nós acolhemos e agradecemos aos voluntários.
Não há garantia de que manchas não apareçam em outras praias?
Não se sabe como esse óleo venezuelano veio parar no litoral. É mais pesado, portanto vem mais ou menos um metro e meio abaixo da superfície. O avião-radar do Ibama, os satélites, os helicópteros não conseguem identificar o movimento dessas manchas. Só aparecem quando estão próximas à costa ou já na areia.
Houve um complô?
Nenhuma hipótese pode ser descartada. Primeiro, é petróleo de um estado que está se desmontando. Segundo, não sabemos como chegou. Apareceram os barris da Shell, reutilizados com óleo venezuelano. Estamos também em meio ao leilão da 16; rodada de petróleo e gás, que é um dos maiores lotes do mundo. Há interesses econômicos, há interesses políticos, há interesses de várias naturezas.
A percepção é de que o governo está chegando atrasado nos desastres ambientais. A gente viu isso na Amazônia. Isso se deve ao desmonte dos órgãos fiscalizadores? O governo extinguiu em abril o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água.
Não extinguiu. Ao contrário, está sendo seguido com a coordenação da Marinha.
Pretende chamar governadores, prefeitos para uma mega-ação?
Temos feito mais que chamá-los. Temos ido lá. Fui aos estados do Nordeste atingidos cinco vezes; fui a três num mesmo dia. O ministro (Gustavo) Canuto está lá. O ministro da Defesa, general Fernando (Azevedo e Silva), estava em Recife comigo; a Marinha... todas as autoridades estão lá.
Já acabou aquela divergência entre o governador de Pernambuco e o presidente Bolsonaro?
O mundo da política nada tem a ver com o do executivo. O trabalho técnico independe de questões políticas, que vão ser sempre assim: haverá discussão para instrumentalizar o discurso, dizer que se não dá atenção ao Nordeste. Não é verdade.
Como vai lidar com os grupos ambientais, apesar das divergências?
Aqueles que estão trabalhando de maneira firme, colaborativa, profissional, temos apoiado, reconhecido. Aqueles, a exemplo desse Greenpeace, que foi dizer que não podia ajudar a limpar as praias, não tem colaboração possível. São bons de levantar dinheiro, mas de trabalhar...
Vai recebê-los?
Não recebo terrorista.
Como o governo está se preparando para trabalhar com a imagem do Brasil lá fora?
O que se faz é o que a sociedade queria contra a corrupção. Há, sim, informações que vão para o exterior de maneira incompleta ou deturpada. Em toda viagem, estivemos com entidades ambientalistas, autoridades governamentais, investidores que têm interesse no Brasil. Em todos os lugares que a gente foi está o Greenpeace para tirar uma casquinha e falar mal. A gente viu uma desinformação muito grande com relação às queimadas e à Amazônia. Conseguimos mostrar a realidade.
Onde o governo errou na questão ambiental?
É um país complexo, com uma herança problemática na área. A agenda da bioeconomia é tida como a grande promessa para a Amazônia... Ora, por que não se fez até hoje? Porque não é fácil, porque havia aversão à participação do setor privado, porque não respeitavam o direito de propriedade e não facilitam o direito de pesquisa em desenvolvimento.
O senhor discutiu, nos EUA, a criação de um fundo. Como está isso?
Avançando bem. Há grande interesse de empresas privadas em serem ou doadoras-partícipes. Finalmente atrairemos empresas privadas para a Amazônia. Você não vê nenhum grande laboratório farmacêutico na Amazônia. Por que não temos nenhuma cadeia internacional para desenvolver o ecoturismo na Amazônia? Temos que olhar quais são os obstáculos, os óbices ao investimento, ao desenvolvimento, e atacar esses gargalos. Não adianta fazer gesto e declaração de que somos exemplo para o mundo se não temos a capacidade de atrair o recurso financeiro, sobretudo na Amazônia, deixada para trás.
* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi