Anna Russi
postado em 27/10/2019 08:00
[FOTO1] O relatório final do Sínodo sobre a Amazônia, aprovado por 185 bispos da Igreja Católica, no sábado (26/10) no Vaticano, defende a ordenação de homens casados na região. O parágrafo com tal proposição recebeu 128 votos a favor e 41 rejeições, sendo o ponto mais controverso do texto. A possibilidade de homens casados se tornarem padres surge diante das dificuldades na celebração da eucaristia em zonas remotas da região amazônica, pela falta de sacerdotes.
Outro destaque do documento é o ataque ao desenvolvimento econômico predatório, classificado pelos bispos como pecado ecológico. O relatório, no entanto, é de caráter consultivo, portanto o papa não é obrigado a segui-lo.
Ainda ontem, no encerramento da reunião, o papa Francisco declarou que pretende criar um órgão dedicado exclusivamente a cuidados com a região. O departamento deverá ficar dentro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, sob comando do cardeal Peter Turkson, de Gana. Francisco afirmou que a região amazônica é injustiçada. ;A consciência ecológica vai em frente e, hoje, nos denuncia um caminho de exploração compulsiva e corrupção. A Amazônia é um dos pontos mais importantes disso. Um símbolo, eu diria;, disse.
Na avaliação do papa, os pontos mais importantes do Sínodo dos Bispos foram os diagnósticos referentes às questões culturais, ecológicas, sociais e pastorais da Amazônia. Ele destacou que os problemas ambientais devem ser analisados dentro de seus contextos sociais, e que ;não só se explora selvagemente a criação, mas também as pessoas;.
O papa Francisco acredita que a ecologia e as questões sociais devem caminhar juntas. ;Na Amazônia, há todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração de pessoas, em todos os níveis, e destruição da identidade cultural;, lamentou. Ele lembrou que sua encíclica Laudato Si, publicada em 2015, foi um marco para balizar o pensamento ecológico segundo as bases do catolicismo.
A autoridade católica também cobrou da própria Igreja Católica maior sintonia com a juventude. Segundo Francisco, para o combate à degradação ambiental, a Igreja precisa mirar no exemplo dos jovens, como a ativista sueca Greta Thumberg, citada pelo próprio papa, que atua na luta contra o avanço da atual crise climática. ;Na manifestação dos jovens, como Greta e outros, eles levam um cartaz dizendo ;o futuro é nosso;. Isso é a consciência do pedido ecológico;, afirmou.
Indígenas
O encontro foi convocado pelo papa Francisco e ocorreu na cidade do Vaticano. Ao todo, 185 bispos, chamados padres sinodais, com direito a voto, participaram do Sínodo. Destes, 58 são do Brasil e 113 da região Pan-Amazônica. Também participaram cientistas, representantes de organizações sem fins lucrativos, membros de outras denominações religiosas e grupos indígenas.
O relatório final do Sínodo foi votado em assembleia e apresentado no Vaticano. Um parágrafo do texto só pode ser mantido se tiver, pelo menos, dois terços dos votos dos padres sinodais.
A decisão de tornar o texto público ou não fica a critério do pontífice, que deve se pronunciar sobre o relatório na homilia da missa de encerramento, que será realizada neste domingo.
O Sínodo enfrentou resistência de alguns grupos conservadores que criticam o modelo econômico atual da região, bem como a ordenação de homens casados, o papel das mulheres e a possibilidade da criação de um rito amazônico para as missas dos indígenas na região amazônica.