postado em 01/11/2019 04:05
[FOTO1]Começa hoje o mês da Consciência Negra, que marca ações para lembrar e destacar a luta dos negros contra a discriminação racial e a desigualdade social. O Dia da Consciência Negra é comemorado em todo o país no dia 20 de novembro, dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, que lutou contra a escravidão no Nordeste. A celebração busca a reflexão sobre a posição dos negros na sociedade. Afinal, as gerações de afro-brasileiros que se sucederam à época da escravidão ainda convivem com preconceito e discriminação social.
Quase metade da população negra possui empregos informais, cerca de 46,9%, de acordo com o IBGE (2019). Entre a população branca, o percentual é de 33,7%. Pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2015, deixa mais evidente a enorme desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho. Segundo o Instituto, que analisou as 500 empresas de maior faturamento do Brasil, os negros representam apenas 4,7% do quadro executivo e 35,7% do quadro funcional dessas organizações. Em cargos de gerência, eles são 6,3%, e entre estagiários e trainees, representam 28,8% e 58,2%, respectivamente.
Para o historiador e educador patrimonial André Moura, a questão mais excludente dos negros no mercado de trabalho é o acesso a oportunidades de qualidade. ;As cotas têm feito um aumento no número de negros na universidade, mas nem de longe é um resultado ainda comparável à população negra, que é 50% do Brasil. Quando se trata dos melhores cursos e a melhor formação, poucos negros têm acesso;. Ele diz que outro indicador de exclusão pode ser por a pessoa ;não coincidir com o papel estético que a empresa quer mostrar, o que é uma sutileza bem cruel;.
Moura afirma que, em termos históricos, o Brasil não escravocrata ainda é recente. ;Até os anos 1930, referências culturais que eram relacionadas ao negro eram proibidas, como o samba e a própria capoeira. O processo racista no Estado e na sociedade brasileira continuou de diversas formas;, explicou.
Outras iniciativas
Além do mês da consciência negra comemorado no Brasil, a Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou em 2015 a década internacional afrodescendente. A expectativa é de que até 2024 seja promovido respeito e proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de afrodescendentes, como reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A servidora pública e cineasta Simone Borges, 41, conseguiu superar as barreiras. Primeira mulher negra a receber um Fundo de Apoio à Cultura (FAC), ela conta que sempre precisou ser duas ou três vezes melhor do que as outras pessoas, por duvidarem de sua capacidade. ;O racismo está muito enraizado na nossa cultura. Quando estamos em uma reunião de trabalho e alguém solicita um café, a maioria das pessoas olha para mim como se eu fosse a pessoa apropriada para os servir;, desabafou.
Universidades
Apesar da menor presença da população negra no mercado de trabalho formal, pela primeira vez no Brasil jovens negros e negras são maioria nas universidades federais, segundo pesquisa divulgada em maio pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Eles representam 51,2% dos estudantes de universidades públicas. De acordo com a Andifes, o crescimento na quantidade de estudantes negros se deu principalmente com a Lei de Cotas (Lei 12.711/12), que estabelece que 50% das vagas de universidades e instituições federais de ensino técnico de nível médio sejam reservadas a estudantes de escolas públicas. A lei também reserva vagas para pretos, pardos e indígenas, correspondente à porcentagem dessas populações nas universidades estaduais.
Estudante de Ciência Política da UnB Thaís Cardoso, de 22 anos, é a única negra em seu estágio. Para a jovem, é importante que haja um dia e mês reservado para debater o assunto, mas ela reforça que o tema deve ser discutido o ano todo. ;Só lembram de chamar a gente para palestras neste momento. Só falam de raça em novembro, mas a gente vive isso nos 365 dias, não só em um. É importante essa iniciativa, que promove debates dentro e fora da universidade, mas não existimos só nesse momento;, disse.
* Estagiárias sob a supervisão de Cláudia Dianni