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Brasil registra a menor taxa de queimadas em outubro dos últimos 21 anos

Se comparada a julho e a setembro deste ano, a queda é expressiva: naqueles meses foram observados, respectivamente, 30.901 e 19.925 focos

Cristiane Noberto*
postado em 02/11/2019 07:00
[FOTO1]O mês de outubro apresentou a menor taxa de queimadas no bioma amazônico desde 1998. Foram anotados 7.855 focos, segundo o boletim do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado nesta sexta-feira (1/11). A queda é histórica, menor até que a registrada no mesmo mês, 21 anos atrás: 8.777 notificações.

Se comparada a julho e a setembro deste ano, a queda é expressiva: naqueles meses foram observados, respectivamente, 30.901 e 19.925 focos. O menor número do ano, até agora, foi maio, com 854 incêndios.

Mesmo assim, segundo a procuradora de Justiça Especializada de Defesa do Meio Ambiente do Acre, Rita de Cássia Nogueira Lima, a queda inédita para outubro não significa uma mudança na percepção, por produtores, pecuaristas e madeireiros, dos prejuízos trazidos pelas queimadas. Segundo ela, a situação na Região Amazônica em 2019 foi caótica, inclusive com alertas de calamidade semelhantes aos havidos em 2015. ;Tivemos um período bastante seco, de estiagem severa, clima quente, e tudo isso influenciou. Tivemos mais de 29 mil pessoas atendidas nos hospitais por problemas respiratórios, além de várias internações;.

Rita adiantou que está sendo elaborada uma força-tarefa, entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade de São Paulo (USP), para elaboração de protocolos contra os incêndios, a serem implantados no próximo ano para que não se repita o volume de 2019. ;Mesmo assim, devemos agir de forma articulada e integrada com todos os estados da Região Norte, que abriga o bioma amazônico. Precisamos da ajuda dos prefeitos, governadores e entidades para que o modelo tenha sucesso;.

Segundo a procuradora, a maior parte das queimadas no Brasil é criminosa. Ela salienta que é preciso controlar o uso do fogo, sobretudo próximo às áreas de preservação, frequentemente invadidas. ;A área de floresta (com árvores) não tem valor. As organizações agem nas áreas de proteção, invadidas por grileiros. Por isso, os órgãos de proteção ambiental precisam de escolta policial para fazer seu trabalho, pois são impedidos de agir pelas organizações criminosas;.

Picos de incêndio


Este ano, o pico dos focos começou em agosto. A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, que estuda a floresta há 25 anos, explicou que os incêndios foram maiores por causa do desmatamento para abertura de pasto. Segundo ela, o produtor precisa derrubar a mata e esperar três meses para atear fogo e formar o ambiente para o gado.

;Não foi fogo causado por uma catástrofe climática; 95% dessas áreas foram desmatadas de forma ilegal e a taxa de desmatamento estimada para esse período foi a maior dos últimos 10 anos;.

De acordo com Ane Alencar, o Código Florestal permite queimadas e desmatamento. Os donos de terra podem derrubar até 20% das suas propriedades, mas, para isso, é necessário uma licença emitida por órgão estadual de proteção ao bioma. A mesma regra serve para as queimadas. ;É importante ser cumprida a lei. O Código Florestal garante o papel social das florestas e precisa ser respeitado;, exortou a pesquisadora.

* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi

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