Brasil

Óleo chega a Abrolhos

Grupo de Acompanhamento e Avaliação que monitora o vazamento de petróleo cru no litoral do Nordeste identificou manchas no arquipélago, que é a área mais rica em biodiversidade da América do Sul

Correio Braziliense
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postado em 03/11/2019 04:14
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Área mais rica em biodiversidade da América do Sul, o arquipélago dos Abrolhos foi atingido pelas manchas de óleo do vazamento de petróleo cru que assola o litoral brasileiro. Ontem, a Marinha confirmou que fragmentos do óleo foram encontrados na Ilha de Santa Bárbara, uma das cinco que compõem o arquipélago, mas que não faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.

Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização do resíduo de petróleo cru foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil, pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e pelo Ibama.

Moradores da praia de Caravelas, no sul da Bahia, área central do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, disseram que têm apenas 20 kits de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs. Como o material é tóxico, é necessário usar máscara, luvas, botas e macacão durante a limpeza do óleo. Contudo, o clima em Caravelas é de improvisação: até mesmo crianças coletaram pelotas de óleo sem os materiais de proteção.

Anna Carolina Lobo, gerente dos Programas Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil, lamenta o que considera ;a maior tragédia da história na costa marinha;. ;Essa situação mostra que o Brasil não está preparado para lidar com acidentes ambientais. Quando há qualquer desastre próximo a áreas de proteção ambiental, como Abrolhos, quando há qualquer desastre, não tem como resolver;, afirmou.

Segundo a especialista, os resíduos demoram mais de 20 anos para desaparecerem. ;O óleo provoca zonas mortas em corais e nos manguezais, que podem não se recuperar nunca. São muito frágeis e importantes para a resiliência costeira, para proteção;, alertou. De acordo com ela, um estudo mostra que, onde há um metro branqueado de coral, as ondas aumentam e chegam com mais força na costa.

;Além disso, é um óleo muito tóxico, não só para os ambientes costeiros, mas para a saúde humana, porque tem propriedades cancerígenas. E temos peixes e crustáceos contaminados;, assinalou. Segundo a gerente do WWF-Brasil, a Vigilância Sanitária teria que fazer pesquisas em tudo. No entanto, não há monitoramento nem fiscalização de áreas marinhas. ;O país não tem uma política séria para recursos pesqueiros. Não é do atual governo, acontece há muito tempo, lamentavelmente;, disse.

Petroleira grega nega ter culpa
A petroleira grega Delta Tankers, responsável pelo navio Bouboulina, apontado pela Polícia Federal (PF) como principal suspeito do vazamento de óleo no litoral do Nordeste, se defendeu ontem e, em comunicado, disse que ;não há provas; de que a embarcação seja responsável pelo incidente. Segundo a companhia, o navio não parou nem fez qualquer tipo de transferência de óleo no litoral brasileiro. Na nota, a empresa afirma não ter sido procurada por autoridades brasileiras e reitera que a carga chegou à Malásia ;sem qualquer falta;.


Na sexta-feira, a Polícia Federal realizou buscas em dois endereços do Rio de Janeiro de companhias que teriam relação com o navio petroleiro de bandeira grega, a Lachmann Agência Marítima e a empresa Witt O Brien;s. Segundo o Ministério Público Federal (MPF) do Rio Grande do Norte, as investigações permitem atribuir ;existência cristalina de fortes indícios; de que o óleo veio do Bouboulina.

Elogios
O procurador-geral da República, Augusto Aras, elogiou a atuação da PF e do MPF na Operação Mácula, que mira o navio grego Bouboulina. ;O Procurador-Geral da República vem a público parabenizar o trabalho da PR/RN, por meio dos procuradores da República Victor Mariz e Cibele Benevides, pela excelente atuação na chamada Operação Mácula. O MPF demonstrou disciplina, harmonia com as demais instituições (PF e Marinha) e conseguiu tratar o caso do desastre ambiental na costa brasileira com a responsabilidade e o denodo que se espera dos membros do MPF;, destacou, em nota.
Aras disponibilizou a Secretaria de Cooperação Internacional para dar prioridade à Operação Mácula. ;A atuação repercute de forma extremamente positiva nacional e internacionalmente, prevenindo futuros casos e, por isso, merece todo apoio da PGR;, justificou.

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