Brasil

Risco de ficar para trás

Historiador Yuval Harari prega união do Brasil com emergentes para fazer frente à dominação dos ricos por meio da tecnologia

postado em 08/11/2019 04:04
[FOTO1]

Em palestra ontem, na Câmara dos Deputados, o historiador e escritor israelense Yuval Harari fez um alerta ao governo brasileiro: o país precisa se unir em cooperação internacional a outras nações emergentes, pois, caso contrário, ;ficará para trás; com o aumento das taxas de desemprego e acabará explorado pelas grandes economias mundiais. E mostrou que um dos riscos está na tecnologia, já que, no futuro, as sociedades mais desenvolvidas poderão controlar as mais pobres sem precisar ir à guerra.

Harari foi a atração principal da primeira edição do fórum Modernizar, promovido pela Câmara com o objetivo de debater o impacto da revolução tecnológica no Brasil nas próximas décadas. O evento tratou de assuntos como inteligência artificial, futuro da alimentação e das cidades inteligentes, propriedade de dados, bioengenharia, empregos do futuro e internet das coisas (conceito que se refere à interconexão digital de objetos cotidianos).

O historiador lembrou que os países mais atrasados tecnologicamente deveriam ter maior interesse em frear o progresso tecnológico mundial. Caso contrário, em pouco tempo, o desenvolvimento da tecnologia das maiores economias permitirá o ;massacre; dos mais pobres. Ele justifica seu argumento salientando que ;ter acesso aos dados dos cidadãos de outro país será suficiente para controlar o mercado;.

Citando um exemplo, Harari salientou que, sozinho, o Brasil não teria força suficiente para entrar num embate direto com o resto do mundo. Se houvesse união com Argentina e Itália, por exemplo, haveria mais chances de endurecer posições e forçar negociações. ;É muito difícil competir com China e Estados Unidos, por exemplo. Mas se o Brasil pertencer a um bloco de países, talvez consiga;, previu.

Outra forma de evitar o isolamento seria, nas palavras dele, a qualificação do brasileiro. ;Não dá para proteger apenas as empresas. É necessário proteger as pessoas. O pensamento dos sindicatos do século 20 era esse, de segurar os empregos. Mas, no século 21, isso se torna muito mais difícil. Temos que treinar as pessoas para aprender. Vamos precisar de novo método para ensinar os adultos daqui para frente;, ponderou.

Harari usou o exemplo de um caminhoneiro, que, em pouco tempo, ;não será mais necessário;, porque a função será automatizada. ;Por isso o país precisa aprender a treiná-lo para que ele possa trabalhar com ciência, dados e tecnologia;.

A palestra de Harari, no Salão Negro do Congresso, durou aproximadamente 90 minutos, e reuniu em torno de 300 pessoas, entre deputados, senadores e convidados. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), esteve no lançamento do projeto e afirmou que a ideia é ;inserir o Parlamento brasileiro em debates globais;.

O historiador é autor do best-seller Sapiens: Uma breve história da humanidade, e de Homo Deus ; Uma Breve História do Amanhã. Sua mais recente obra é é 21 Lições para o Século 21. A Câmara desembolsou quase R$ 164 mil com aparatos de segurança e estrutura para viabilizar a primeira palestra do projeto.


  • Visões do futuro

    • Atraso tecnológico ; Deveria ser uma preocupação dos países em desenvolvimento, pois as maiores economias, que investem maciçamente no setor, poderão ;massacrar; as mais pobres caso a assimetria persista;

    • Inteligência Artificial ; Impacto nas decisões governamentais, sobretudo em questões como ameaça nuclear, controle da informação, mudanças climáticas e automação;

    • Irrelevância das pessoas ; Para ele, a tecnologia está mudando profissões e criando outras. Capacidade de se reinventar e aprender rapidamente vai determinar quem terá lugar no mundo;

    • Informação, maior dos bens ; Harari considera que é preciso que os governos se debrucem sobre legislações e regulamentos para que os cidadãos não sejam manipulados.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação