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Ataque em escola de Minas faz lembrar massacres: veja como agiu o atirador

Estudante de 17 anos de Caraí, em Minas Gerais, invadiu escola armado e vestido de preto, atirando contra colegas, como ocorreu em casos de Suzano e Realengo

Luiz Ribeiro/Estado de Minas
postado em 08/11/2019 09:05
[FOTO1]Ponto do Marambaia, distrito do município de Caraí, em Minas Gerais, a 560 quilômetros de Belo Horizonte, sempre foi um povoado pacato, de 2 mil habitantes, localizado às margens da BR 116 (Rio-Bahia). Mas a tranquilidade foi quebrada na manhã de ontem quinta-feira (7/11), quando o medo espelhado por massacres em escolas mundo afora, e especialmente em recentes ataques no Brasil e em Minas, invadiu a Escola Estadual Orlando Tavares, que atende a alunos do 6; ano do ensino fundamental ao 3; do ensino médio. O pânico foi causado por um estudante de 17 anos, que, vestido de preto e armado com uma garrucha e um facão invadiu a unidade em que estuda, ateou fogo a mochilas de colegas e investiu atirando contra alunos, ferindo dois deles. Segundo a Polícia Militar, um ;amor não correspondido; teria motivado o agressor, que foi apreendido.

O ataque provocou correria de crianças e de mães chorando e levou comerciantes a baixar portas de suas lojas. Segundo o diretor da escola, Márcio Anselmo Vieira Matos, havia cerca de 300 alunos no local no momento da invasão, que aconteceu por volta das 8h, quando parte dos estudantes fazia atividades de educação física.

O atirador estuda no turno da manhã, no 2; ano, mas não havia comparecido à aula ontem. Segundo a Polícia Militar, vestido roupa preta, armado com uma garrucha de dois canos e com um facão, carregando ainda a réplica de uma pistola, ele pulou o muro da unidade de ensino. Primeiro, foi até uma sala de aula, onde ateou fogo a mochilas dos colegas. Também desligou a energia do prédio.

Ao tomar conhecimento de que o adolescente estava armado na escola, o diretor orientou que todos os professores trancassem as portas das salas. Na sequência, ouviu tiros e pessoas que estavam fora das salas de aula correram para saída de emergência.

O atirador tentou entrar numa sala de aula onde estavam cerca de 30 alunos. A ação heroica de uma professora impediu consequências piores do ataque. Ela segurou a porta pelo lado de dentro, com a ajuda de outros alunos. O invasor, então, atirou pelo lado de fora. A bala atravessou a porta e atingiu o pescoço de um aluno de 17, no pescoço. Outro estudante, de 17, sofreu ferimentos na mão direita e no dedo da mão esquerda, provavelmente causados também pelo facão usado pelo agressor.

Sem conseguir entrar na sala, a informação é de que o jovem saiu atirando pelo corredor da escola, onde teria feito pelo menos cinco disparos. Chegou a apontar a arma para um professor, mas foi contido por um irmão, que tomou a garrucha dele. Ao ser apreendido pela Polícia Militar, o estudante contou que a arma pertencia ao seu padastro, que acabou detido.

Segundo relato de policiais, o atirador relatou que a intenção dele era ;assustar; duas colegas de sala, que não quiseram manter relacionamento com ele. O irmão do atirador declarou que ele sempre foi tranquilo e nunca tinha apresentado transtornos.

Uma das adolescentes contou que vinha recebendo constantes mensagens do colega de sala, propondo namoro, mas que sempre as recusou. Na quarta-feira (6/11), após mais um ;não;, o estudante enviou outra mensagem com xingamentos contra a garota, que, por esse motivo, acabou bloqueando o jovem no aplicativo WhatsApp.

O autor do ataque chegou a dizer que um colega dele comentou sobre massacres ocorridos em escolas, referindo-se a ataques a instituições de ensino em Realengo (RJ), Janaúba (MG) e Suzano (SP). Um outro menor também foi apreendido no distrito de Ponto do Marambaia por suspeita de coautoria na ação, embora o autor do ataque tenha dito que agiu sozinho.

Os estudantes feridos foram encaminhados para o Hospital Nossa Senhora Mãe da Igreja, um dos jovens feridos perdeu muito sangue e teve de ser submetido a transfusão, foi transferido para hospital em Teófilo Otoni. Na tarde de ontem, o quadro dele era estável.

Pânico e correria


;Foi a primeira vez que teve uma coisa dessas aqui. Foi terror mesmo. Todos os moradores ficaram apavorados;, contou o comerciante Adriano dos Santos Jardim, de 49, ao relatar os momentos de pânico vividos pelos moradores. Ele é dono de uma loja de materiais de construção em frente à escola. Disse que vai ficar para sempre na sua memória a cena de crianças correndo apavoradas e mães chorando, com o temor de que os filhos tivessem sido atingidos pelos tiros cujos estampidos vinham de dentro da escola.

Os momentos de pânico também são recordados pelo balconista Primitivo Moreira Bento Neto, de 39. ;Vi mães correndo e chorando. As crianças e professoras entraram na loja, com medo, na hora dos tiros;, disse Primitivo, revelando que, por precaução, as portas da revenda de material de construção foram abaixadas, como as de outras lojas vizinhas.

[SAIBAMAIS]Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais informou que, no fim da manhã, a equipe da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Teófilo Otoni estava na escola para apurar o caso e dar apoio à direção, à comunidade escolar e às famílias dos dois alunos feridos. ;Representantes da SRE acompanham a situação dos alunos no hospital. A direção esclarece, ainda, que todas as informações necessárias estão sendo passadas para os órgãos competentes, que farão a investigação e apuração do caso;, pontuou.

O governador Romeu Zema divulgou nota em que lamentou o episódio. ;Uma tragédia maior só não ocorreu graças ao trabalho e ação dos professores e alunos da Escola Estadual Orlando Tavares. Já determinei que seja prestado todo o apoio à instituição de ensino, às famílias das vítimas, aos estudantes, pais, professores, demais funcionários e a toda a comunidade escolar;, diz trecho no texto.

Medo marca presença


Confira outros ataques em escolas de Minas e do Brasil:

Suzano (SP)

Na manhã de 13 de março deste ano, um menor de 17 anos e Luiz Henrique de Castro, de 25, mataram seis estudantes e duas funcionárias da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Eles eram ex-alunos da instituição e se mataram depois de cometer o massacre. Após o crime, outro jovem de 17 foi apreendido e apontado pela polícia como mentor intelectual da sequência de assassinatos. Outros dois homens foram presos acusados de intermediar e vender os armamentos aos assassinos.

Janaúba (MG)

Às 9h30 de 5 de outubro de 2017, o vigia invadiu a Creche Gente Inocente e ateou fogo à sala onde estavam os alunos. Ele se matou e tirou a vida de outras 13 pessoas, entre as quais 10 crianças e a professora. Mais de 50 pessoas ficaram feridas. Na ocasião, a professora que hoje dá nome à creche, entrou em confronto corporal com o invasor e impediu que ele ferisse mais crianças. Ela ainda ajudou no resgate dos alunos e morreu com 90% do corpo queimado. Investigação da Polícia Civil apontou que o vigia sofria de transtorno mental.

Goiânia (GO)

Na capital do estado de Goiás, um estudante de 14 anos abriu fogo contra os colegas no Colégio Goyases. Dois adolescentes morreram e outros quatro ficaram feridos. Uma menor ficou paraplégica por causa do massacre. O caso aconteceu em 20 de outubro de 2017, dias depois de Janaúba. Ele usou uma pistola calibre .40 que era da mãe, uma policial militar, e alegou o bullying sofrido na escola como motivação.


Realengo (RJ)

O massacre de Realengo, no qual Wellington Menezes de Oliveira entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, e matou 12 estudantes em abril de 2011, é outra tragédia que manchou a rotina de escolas brasileiras. O jovem, com 23 anos à época, era ex-aluno da instituição e entrou armado no colégio com dois revólveres. Também feriu 13 menores entre 12 e 14 anos. Os alvos eram, principalmente, adolescentes do sexo feminino. O assassino levou dois tiros de policiais militares, na perna e no abdômen, e depois atirou contra a própria cabeça, morrendo imediatamente.

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