Brasil

Reação contra desastre de óleo nas praias foi lenta, diz pesquisador

O cientista acredita que a demora na resposta significa o aumenta da exposição das pessoas afetadas pelo desastre

Maria Eduarda Cardim
postado em 25/11/2019 06:00

[FOTO1]Os governos brasileiros têm histórico de lentidão para colocar em prática ações que diminuam os danos causados por desastres naturais ou ambientais, como o do misterioso óleo que sujou 724 localidades de 120 municípios, em 10 estados ; segundo números do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A crítica é do coordenador e fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Humberto Barbosa.

Nesta conversa com o Correio, ele defende a elaboração de um sistema de monitoramento contínuo e sistemático na costa brasileira, algo que agilizaria as ações contra os efeitos de desastres. Humberto observa, ainda, que uma resposta para a contenção de danos da magnitude como a do vazamento no Nordeste é sempre complexa, pois demanda a reunião de vários tipos de dados, mas somente a rapidez na reunião de todo esse material é capaz potencializar a eficiência do contra-ataque. Para o professor, é possível ainda que o óleo continue sujando outras partes do litoral. ;Há uma incerteza ainda sobre até aonde esse petróleo pode chegar.;

Controle

Quando há um desastre, primeiro é preciso buscar todas as informações e dados para auxiliar a Defesa Civil, que precisa ser orientada na resposta aos desastres. Para que aconteça, precisamos saber qual a área mais vulnerável impactada. Quanto mais preparados estivermos, com informações, dados e monitoramento, mais rápida será a resposta. Para alguns desastres, já temos um protocolo, porque foi baseado em experiências passadas. O derramamento de óleo, na dimensão que aconteceu, e vem acontecendo, na região costeira, principalmente do Nordeste, não tinha acontecido. Existia um plano nacional de contingência, mas nunca foi colocado em prática. E isso criou uma barreira à resposta rápida. O governo federal demorou para entender a dimensão. A demora na resposta significa aumentar a exposição das pessoas que estão sofrendo esse impacto.

Monitoramento

Precisamos executar o que já temos e não criar um outro plano. Precisamos de um monitoramento de imagens de satélites da localização dos navios e de possíveis derramamentos. Se tivesse, possivelmente já se poderia saber qual a origem desse óleo. Percebe-se o aumento do tráfego de navios em função da exploração do petróleo no Brasil, nos últimos anos, que cresceu. É preciso criar uma estrutura de observação e fiscalização de quem está passando. Principalmente agora, pois todos sabem que o Brasil carece de uma observação mais permanente.

Origem

Ainda é preciso olhar pequenos vazamentos, de óleos com densidades diferentes, que podem ter origem orgânica ou não orgânica, ou seja, vir naturalmente do fundo do mar ou de derramamentos. Não acreditamos que essas manchas sejam só de um navio ou de navios, mas precisamos investigar. Há a suspeita de que a maior concentração desse óleo pode ter vindo de navios, mas há evidências de pequenos vazamentos em regiões próximas a áreas de exploração.

Prejuízos

Os impactos sociais e econômicos estão extremamente altos. Não sabemos os valores para saber o real dano desse desastre. Do ponto de vista social, os pescadores artesanais são os mais afetados nessa cadeia.

Ações lentas

A gente sempre teve resposta lenta. A maior dificuldade é fazer a ação rápida. Ainda temos problemas com enchentes, um histórico de décadas da falta de preparação para chuvas de verão. A temporada chega, as áreas de vulnerabilidade crescem, mas as ações de mitigação e adaptação ainda não atingiram o nível de consciência do governo. No geral, os governos têm cometido esse erro de não ter ações práticas e não alocar recursos. Todos têm cometido esse erro.

Incerteza

É uma incógnita a quantidade de petróleo que está no fundo do mar e pode ser arrastada pelas correntes até as praias. Não sou especialista nisso, mas, a princípio, pode existir muito submerso no fundo do mar. Há uma incerteza sobre até aonde esse óleo pode chegar.

Suspeitas

Não pautamos nossa investigação em respostas de agências e do governo. É como se fosse uma pesquisa científica: levantamos uma pergunta e trabalhamos com evidências. Associamos a possível causa a navios, até porque havia a informação de que uma empresa poderia estar ligada ao desastre. Sendo franco, nunca olhei muito as respostas da Marinha. Encontramos duas manchas significativas e, a partir delas, chegamos a esse navio suspeito. O Lapis não tem ferramenta criminal para dizer que alguém é culpado. Ele (o Voyager I) é um suspeito com base nas nossas evidências.

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