[FOTO1]O termo ;patrulhamento ideológico;, cunhado quase 50 anos atrás, continua mais atual que nunca, segundo o diretor e roteirista Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo. Em entrevista nesta quinta-feira (28/11) ao CB.Poder, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, ele disse que o que difere a perseguição ao pensamento contrário dos tempos da ditadura para os atuais é que, hoje, embute fundamentalismo religioso e tem um caráter político semelhante ao fascismo.
;Nós estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil. É um paradoxo muito grande, porque esse cara (Jair Bolsonaro) foi eleito pelo povo, e temos que respeitar a opinião do povo. Mas também não podemos e não somos obrigados a suportar tudo que ele quer fazer;, adverte. Cacá considera que as pessoas que não votaram no atual presidente têm o direito de se manifestar sobre aquilo que desejam para o Brasil.
;Eu não gosto da palavra resistência, porque a resistência é a ocupação de algum lugar que você já ocupava antes. E não é isso, porque agora não estamos ocupando. Eu não me sinto da resistência, eu me sinto da oposição, eu sou contra o que ele está fazendo;.
O cineasta denuncia o desmonte paulatino das políticas de cultura pelo governo, uma estratégia para acabar com os movimentos por meio da inércia. ;Em vez de dar pancada na gente e prender, como faziam na ditadura, eles simplesmente tiram as possibilidades acabando com os recursos. Desarmam a cultura com a destruição de seus instrumentos de trabalho;, explica.
Sobre a nomeação de Katiane de Fátima Gouveia para a Secretaria de Audiovisual, Cacá afirma que mesmo que ela demonstre capacidade administrativa, se perde ao se aprisionar na ideologia. ;O Brasil é essa diversidade e nós temos que respeitar. Quando um órgão cultural diz que não pode fazer isso e não pode fazer aquilo, está destruindo o que nós temos de melhor.;
Ele lembra que a cinematografia brasileira é respeitada internacionalmente, mas isso não basta. ;Eu li no jornal, semana passada, o semifracasso que foi o leilão do petróleo. Por quê? Por falta de confiança. Os filmes têm o mesmo problema. Quem vai investir em um filme brasileiro quer ter confiança e quer ter a certeza de que esse filme vai ser feito, vai ser lançado, que o governo está disposto a ajudar.;
O que difere o Cinema Novo da nova geração, segundo Cacá, é que era um movimento e a produção não passava de três filmes por ano. Agora, são mais 100. ;Hoje não existe movimento. De qualquer maneira, o momento mais rico do cinema brasileiro é esse que estamos vivendo e, paradoxalmente, está sendo assolado pelas políticas públicas.;
Com 57 anos atrás das câmeras, Cacá é direto ao analisar a combinação entre cultura, conservadorismo e religião. ;Tem uma frase do Sérgio Buarque de Hollanda de que gosto muito. Diz que, no Brasil, não existe conservadorismo, existe atraso. Esse pensamento conservador existe porque o país está muito atrasado.;
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi