postado em 01/12/2019 04:15
Com a morte cerebral do apresentador Gugu Liberato, em decorrência de uma queda nos Estados Unidos, e a autorização da família para a doação dos órgãos do apresentador, o tema virou assunto nacional na semana passada.
O Hospital Orlando Health Medical Center divulgou que até 50 pessoas seriam beneficiadas. O professor titular de cirurgia torácica do Instituto do Coração e presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Paulo Pêgo, esclarece, porém, que o número divulgado não representa a realidade no Brasil e em vários países. Segundo ele, quando uma família aceita doar todos os órgãos que podem ser aproveitados, até oito pessoas se beneficiam e, em alguns casos específicos, 14.
;São duas córneas, dois rins, dois pulmões, o coração, e o pâncreas. Em um caso muito bem-sucedido, oito pessoas podem ser beneficiadas;, explica. ;É possível alcançar outras pessoas, aproveitando pele e ossos, mas, peles geralmente são usadas para casos de queimaduras em áreas extensas, portanto, não costumam ir para muitos pacientes. Restam os ossos, que podem ser aproveitados, em casos de traumas, mas não é tão frequente, nem tão amplo;, disse, ao ressaltar que não conhece as técnicas do hospital americano.
Doações efetivas
Até setembro deste ano, foram notificados 8.469 possíveis doadores, dos quais 2.775 foram efetivos. No Brasil, só podem ser notificados como possíveis doadores pacientes que tiveram morte cerebral, de acordo com a Lei n; 9.434, de fevereiro de 1997, que regulamenta os transplantes. Do total de notificações, em 1.981 casos, a família se recusou a doar. Este é o caso de cerca de 40% das famílias abordadas, em média, segundo a ABTO. Outras razões para a doação não ser efetivada são contraindicações clínicas captadas por exames no paciente doador, quando não é possível manter a atividade cardíaca do doador de forma mecânica a tempo de captar o órgão ou mesmo quando o protocolo de morte encefálica é aberto, no momento da notificação, mas não é confirmado ao final do processo.
No Brasil, a legislação é superconservadora. Faz-se o diagnóstico clínico indicando morte cerebral, depois um dopler de carótida ou um eletroencefalograma, para comprovar. E um terceiro exame clínico. Portanto, é um processo longo, que pode demorar até 24 horas. Mas é importante para manter a confiança no sistema, condição para aumentar as doações, que são muito necessárias;, explica Pêgo.