postado em 03/12/2019 04:16
A nomeação do novo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) foi publicada ontem. O cargo estava vago quase um mês após a exoneração de Miguel Angelo Oronoz Proença. O escolhido é Dante Mantovani, 35 anos, que mantém um canal no YouTube onde fala de música clássica. Em alguns dos vídeos postados não faltam afirmações polêmicas e teorias da conspiração por parte do representante da fundação, aluno do ideólogo de direita Olavo de Carvalho. Ele afirma que ;o rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo;, afirmou.
Mantovani, que é especialista em Filosofia política e jurídica e Mestre em linguística, discorreu sobre a Escola de Frankfurt e a relação dos filósofos com a música. ;Eles precisavam destruir as famílias americanas, porque elas eram a sustentação do capitalismo;, disse, sobre a banda inglesa The Beatles. O presidente da entidade ressaltou que os soviéticos estavam infiltrados na CIA com finalidade de ;destruir a moral burguesa da família americana;. Época, segundo ele, em que surge Elvis Presley.
;Existe toda uma infiltração de serviços de inteligência dentro da indústria fonográfica norte-americana que, se não levarmos em conta, não vamos entender nada. A União Soviética mandou agentes infiltrados para os Estados Unidos para realizar experimentos com certos discos realizados para crianças. Esses agentes iam, se infiltravam e iam mudando, inserindo certos elementos para fazer engenharia social com crianças. Daí passaram para música para adolescentes;, observou.
Os agentes, segundo ele, seriam responsáveis por distribuir drogas para jovens em Woodstock nos anos 1960. ;Woodstock foi aquele festival da década de 60 que juntou um monte de gente, os hippies fazendo uso de drogas, LSD, inclusive existem certos indícios de que a distribuição em larga escala de LSD foi feita pela CIA. Mas como pela CIA? Tinha infiltrados do serviço soviético lá.;
Aconselhado pelo chefe da Secretaria Especial da Cultura, Roberto Alvim, que está à frente da pasta desde o último dia 7 (responsável pela indicação), Mantovani só dará entrevistas à imprensa a partir de quarta-feira.
Nomeações polêmicas
Essa é mais uma das nomeações polêmicas realizadas por Alvim. Na semana passada, ele escolheu para a presidência da Fundação Palmares o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, para quem a escravidão foi ;benéfica para os descendentes;, que não existe ;racismo real; e que o movimento negro precisa ser extinto.
À frente da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, está Camilo Calandreli, que se define como cristão, conservador e seguidor de Olavo de Carvalho. É formado em música pela USP e afirmou que a Lei Rouanet era utilizada pelo ;marxismo cultural;. Outra das recentes mudanças, que vai de encontro ao perfil ideológico e conservador do presidente Jair Bolsonaro, foi a escolha por Katiane de Fátima Gouvêa como secretária do Audiovisual da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. Sem experiência na área, ela é membro da Cúpula Conservadora das Américas, e teve seu nome ligado a um documento que, meses atrás, incentivou o presidente Bolsonaro a quase extinguir a Ancine (Agência Nacional de Cinema).
Alvim também é conhecido por polêmicas, como quando chamou a atriz Fernanda Montenegro, de 90 anos de ;sórdida;. No fim de setembro, a atriz também foi alvo de ofensas. Em uma postagem no Facebook, ele chamou a atriz de ;intocável; e ;mentirosa;, o que provocou reação da classe artística.
Bolsonaro deu a Alvim ;carta branca; para fazer as mudanças que achar necessárias. Dando seguimento às mudanças na área da Cultura, que agora está subordinada ao Ministério do Turismo, o governo federal fez uma troca também no comando da Fundação da Biblioteca Nacional (FBN). Foi exonerada do cargo de presidente Helena Maria Porto Severo da Costa e nomeado Rafael Alves da Silva.