[FOTO1]Representantes do movimento negro estiveram na Defensoria Pública da União (DPU) para reunir assinaturas favoráveis a ação popular contra a nomeação de Sérgio do Nascimento Camargo como presidente da Fundação Cultural Palmares, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. O movimento, realizado nesta sexta-feira (6/12), tem o objetivo de manter a decisão de suspender a nomeação, assinada pelo juiz Emanuel José Matias Guerra, da 18; Vara Federal do Ceará.
A Advocacia-Geral da União (AGU) já informou que pretende recorrer contra a decisão da Justiça. Em nota, o órgão informou que ainda não foi notificada sobre a suspensão, mas estuda recursos para manter Sergio Camargo no cargo de presidente. A Fundação Cultural Palmares esteve com as portas fechadas nesta sexta-feira e não atendeu às ligações do Correio.
A oposição contra a nomeação de Camargo é baseada no entendimento de que seu comportamento é incompatível com a função órgão, podendo prejudicar as ações. A professora e pastora Wall Moraes, presidente da Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, afirmou que a nomeação põe em perigo a obrigatoriedade de certificar as comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil. Tal certificado garante que as comunidades entrem com processo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para pedir a titulação das terras. Com isso, não participam de políticas públicas de desenvolvimento.
De acordo com o representante da Coordenação Nacional dos Quilombolas (Conaq) Arilson Ventura, desde o ínicio da pasta, mais de 3.500 comunidades foram certificadas. "Atualmente, existem 6 mil comunidades quilombolas no Brasil. Temos muitas com o processo de certificação aberto, mas sem a Palmares não conseguimos avançar", explica. ;Se a Palmares não realizar as certificações, as comunidades quilombolas ficam prejudicadas. Devemos evitar que esse presidente continue, porque ele não atende aos objetivos pelos quais a Palmares foi criada."
Segundo o professor de arte visuais e integrante do núcleo de estudo afro brasileiros da Universidade de Brasília (UnB) Nelson Fernando Inocêncio, a possibilidade de Camargo ocupar a presidência da Palmares não pode passar despercebida e que deve ser rechaçada com atos públicos, passeatas e posicionamentos públicos. "Não se pode deixar que a gestão desse senhor seja tranquila e inviabilize as lutas. As entidades que lutam contra o racismo precisam se manifestar, assim como autoridades que também devem mostrar o descontentamento com essa mudança", assegura. "Primeiro atacam as universidades, depois os movimentos sociais. Tudo que é diferente da extrema direita vai ser atacado. Nós não temos outra possibilidade a não ser a mobilização e a denúncia, inclusive no plano internacional."
O professor explica que, assim como em outros movimentos, na luta negra há quem defenda tópicos "mais conservadores e quem lute por objetivos mais transformadores". "O movimento negro mais comprometido com a transformação precisa se mobilizar. Precisamos de mudanças substantivas, não de movimento retrógrados. O movimento mais consequente e mais comprometido com a transformação é o maior contribuinte com a luta, mas sempre há pessoas atrasadas", assegura. "Continuaremos resistindo. Precisamos ampliar o coro desfavorável a sua permanência no cargo, seja com atos públicos, passeatas, o que for necessário."
Sérgio do Nascimento Camargo é jornalista e militante de direita. Ativo nas redes sociais, ele se define como "negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto". Ele já afirmou, em sua conta do Facebook. que o Brasil tem "racismo nutella" e que "racismo real existe nos EUA". A decisão de suspensão da nomeação do jornalista menciona algumas de suas declarações, como a que se refere a Angela Davis como "comunista e mocreia assustadora" e a que sugere medalha a "branco que meter um preto militante na cadeia por crime de racismo".
*Estagiária sob a supervisão de Vicente Nunes