postado em 09/12/2019 04:33
Quarto colocado da América do Sul e 79; no ranking de 189 países, o Brasil teve um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,761 em 2018. Em relação a 2017, o país, considerado uma nação de alto desenvolvimento humano, teve um crescimento discreto, de 0,001 ponto, no IDH, o menor desde 2015. Mesmo com o aumento, o Brasil decresceu uma posição no ranking, passando do 78; para o 79; lugar, uma vez que outros países avançaram mais rápido. No entanto, o que preocupa especialistas é a desigualdade existente no país. Os dados, que serão divulgados hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que o Brasil é a nação que mais perde posições no ranking mundial quando as desigualdades são levadas em conta.
Se considerasse as desigualdades entre a população, o IDH brasileiro cairia de 0,761 para 0,574, uma perda de 24,5% que faria o país perder 23 posições no ranking mundial. Desde 2010, o Relatório de Desenvolvimento Humano calcula o IDH ajustado à desigualdade, que é analisada nas três dimensões do IDH: saúde (medida pela expectativa de vida), educação (medida pela média de anos de estudo e anos esperados de escolaridade) e padrão de vida (medida pela renda per capita). À medida que a desigualdade aumenta, a perda no desenvolvimento humano cresce.
O diretor do Relatório de Desenvolvimento Humano, Pedro Conceição, afirma que essa não é uma característica só do Brasil, mas da região. A perda média devido à desigualdade na América Latina e no Caribe é de 22,3%. ;Não é uma surpresa. Sabemos que o nível de desigualdade, principalmente na distribuição da renda no Brasil, é inflado, mas, se olharmos para os últimos 15 anos, tem havido uma tendência de redução. O nível ainda é muito elevado, mas há essa tendência positiva;, disse ao Correio.
A queda no ranking em si não é vista com preocupação pelos analistas do Pnud. ;A posição do ranking depende não apenas daquilo que acontece no Brasil, mas também de outros países. Por isso, não atribuímos grande significado a elas;, explica Pedro Conceição. O diretor define o IDH do Brasil como ;positivo, sólido e sustentável;. ;O crescimento do índice no Brasil tem sido sustentado ao longo dos últimos anos e se manteve este ano, embora não tenha sido tão enfático como nos anos anteriores.
De acordo com Conceição, a situação da economia no país pode estar afetando o ritmo de evolução do IDH. Verificamos que quase não houve ganho no aspecto econômico;, disse. ;A economia, que, a curto prazo, é aquilo que tende a mudar esse índice, não vem contribuindo. No entanto, à medida que começa a atingir patamares elevados, o IDH tende naturalmente a avançar mais devagar;, avalia.
A oficial do Pnud e chefe da Unidade de Desenvolvimento Humano, Betina Ferraz Barbosa, diz que o relatório pode ser um novo marco no olhar para o desenvolvimento brasileiro. ;A gente pode caminhar para ter o IDH muito alto, mas a questão é resolver as nossas questões de desenvolvimento;, avalia Betina. Segundo ela, o documento traz uma nova estrutura, que pretende fazer uma nova análise ao olhar além da renda, do momento e das médias estatísticas.
Conceição acredita que o documento abre novas janelas para a discussão das desigualdades no desenvolvimento do país. ;Esse relatório pode ser um convite à sociedade e às autoridades brasileiras para fazer uma reflexão em torno da emergência de novas desigualdades, que é uma tendência que nós verificamos;, pontua.
Para os autores do relatório, é preciso um olhar além do habitual, entender que a desigualdade de renda é o resultado de um conjunto de disparidades da sociedade. ;As desigualdades são pautadas antes de as pessoas entrarem no mercado de trabalho, poden vir da condição social da família. Por isso, esse olhar precisa começar muito cedo, ainda quando os indivíduos são crianças, já que há um círculo que as aprisiona em uma armadilha de desigualdade;, avalia Betina.