postado em 13/12/2019 04:14
[FOTO1]Um painel de especialistas contratados pela Vale concluiu que a barragem de Brumadinho se rompeu quando os rejeitos sofreram súbita e rápida perda de resistência, no processo conhecido como ;liquefação estática;. Investigações policiais já apontavam a liquefação como principal hipótese para o colapso de janeiro, que deixou 257 mortos e 13 desaparecidos. Segundo o grupo de especialistas, problemas na construção da estrutura também contribuíram para o rompimento.
Para os analistas, o rompimento ocorreu por deformações na estrutura da barragem. Eles apontaram ainda redução de resistência em determinadas áreas, por causa da infiltração das chuvas fortes que haviam caído na região nos dias anteriores à tragédia. ;A barragem era essencialmente muito íngreme e úmida e o material retido era fofo, saturado e muito pesado e de comportamento muito frágil;, destacou o Ph.D em geotécnica pela Universidade British Columbia (Canadá) Peter Robertson, que liderou o grupo contratado pela Vale.
O trabalho feito por quatro especialistas, de 88 páginas, foi contratado pela área jurídica da Vale em fevereiro. As conclusões, destacou a mineradora, ;são exclusivas do painel; e não visavam apurar responsabilidades. Além disso, o Conselho de Administração montou um comitê para investigar, em paralelo, as causas do acidente.
Tipo de construção
;Especificamente, o projeto resultou em uma barragem íngreme, com falta de drenagem suficiente, gerando altos níveis de água, os quais causaram altas tensões de cisalhamento dentro da barragem;, diz um trecho do relatório. A barragem foi construída usando o método a montante a partir de 1976, com 10 alteamentos, o último em 2013. A Vale comprou a mina ao adquirir a Ferteco, em 2001. O último lançamento de rejeitos das atividades de mineração foi feito em julho de 2016. Para os especialistas, a barragem não tinha drenagem interna suficiente. ;Isso fez com que parte significativa dos rejeitos permanecesse saturada, o que é um pré-requisito para a liquefação estática não drenada;, explicou o documento. Eles apontaram que nenhum sistema de drenagem com maior capacidade foi instalado ao longo da construção dos 10 alteamentos posteriores.
Adicionalmente, houve mudança na configuração do projeto, a partir do terceiro alteamento, tornando a estrutura mais íngreme e empurrando as partes superiores para cima dos rejeitos mais fracos. O excesso de carga ao longo da barragem gerou um fenômeno conhecido como creep, que é quando um material sob carga constante acaba sofrendo uma deformação. Isso levou à instabilidade no local ; o aspecto cimentado dos rejeitos tornou os materiais depositados na barragem quebradiços e com pouca resistência, indicou o painel.
Peter Robertson, especialista em Geotécnica, afirmou que a Vale tinha ciência do excesso do volume de água, um dos fatores que contribuiu para o acidente. ;Eles sabiam e estavam tomando medidas para resolver isso. A empresa também estava adotando outras soluções para aumentar a estabilidade da barragem.; Outro motivo de surpresa na análise, segundo Robertson, foi o alto teor de ferro nos rejeitos, o que tornou o material mais pesado. Além disso, os estudos indicaram a presença de cimentação, que tornou materiais mais frágeis e menos resistentes.
Outro fator considerado foi a técnica de construção e ampliação da barragem. O trecho inicial da estrutura, construída a partir de 1976, continha características técnicas que impediam a drenagem pelo seu pé. Com isso, a combinação de rejeitos pesados e, ao mesmo tempo, frágeis, a falta de drenagem adequada e características técnicas do projeto criaram condições de instabilidade, deixando o local suscetível a pequenos eventos sucessivos que poderiam funcionar como gatilho para o colapso.
Sobre o teor de ferro e cimentação, Robertson também isentou a Vale. ;O rejeito estava enterrado, não havia como saber. Hoje, sabemos mais sobre a barragem do que a Vale na época.;