Agência Estado
postado em 18/12/2019 07:38
Uma semana antes de a Polícia Federal deflagrar a Operação Mácula no dia 1º de novembro, que apontava o navio grego Bouboulina como o principal suspeito pela mancha de derramamento de óleo avistada no litoral, o Ibama já havia rejeitado as imagens que dão base à prova da PF, por saber que não se tratava de uma mancha de óleo.
A revelação foi feita pelo coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais (Cenima) do Ibama, Pedro Alberto Bignelli. Em declarações dadas à CPI do Óleo, durante audiência na Câmara, o técnico especializado em análise de imagens de sensoriamento afirmou que as imagens chegaram a ser levadas ao Ibama em outubro, pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais. O material, segundo Bignelli, foi exposto ao Ibama como parte de uma oferta comercial de serviço. A Hex mantém, desde março, contrato com o Ibama para análise de imagens por satélite, mas se trata de serviço sob demanda - a Hex ganha quando presta o serviço.
Ao ver as imagens que a Hex apresentou, Bignelli disse que o material já apresentava características básicas de que não se tratava de petróleo, como a coloração. A ausência de dados técnicos básicos, disse ele, levou o Ibama a rejeitar o material como prova da origem do óleo. Uma semana depois, porém, a PF deflagrou a operação com base nessas mesmas imagens, as quais foram cedidas gratuitamente pela Hex às investigações. Os investigadores teriam alegado que, além das imagens, teriam outras evidências.
"Vendo as imagens, eu, como técnico, não me senti confortável em assumir aquele relatório como verdadeiro", disse Bignelli. A operação da PF apontava o navio grego Bouboulina, da empresa Delta Tankers, como o autor do derramamento. A declaração contradiz o que afirmou, no mês passado, o presidente da Hex, Leonardo Barros. Ao Estado, o executivo comentou que tinha decidido ceder as imagens à PF porque não tinha sido acionado pelo Ibama nem pelo Ministério do Meio Ambiente.
Deflagrada a operação da PF, o Ibama fez laudo técnico próprio sobre as supostas provas e concluiu que, na realidade, se tratava de clorofila. A Marinha, que centraliza os trabalhos de investigação, chegou a dizer, na semana passada, que o Bouboulina ainda faria parte dos trabalhos das investigações. Já a Delta Tankers rejeita ligações com o crime ambiental. Procuradas, a Hex, a Marinha e a PF não se manifestaram até a publicação desta matéria. As causas do derramamento de óleo ainda são desconhecidas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.