Brasil

Motorista que hostilizou casal discriminou outros passageiros homossexuais

Moradores de Brasília, Eliseu e Ygor foram passar o réveillon em Pernambuco e pediram uma corrida no aplicativo e, dentro do carro, foram discriminados

Correio Braziliense
postado em 07/01/2020 16:12
Eliseu e Ygor foram hostilizados duas vezes: uma por um motorista de aplicativo e outra por um PMO motorista de aplicativo que hostilizou um casal de homens no último sábado (4/1) já tinha o costume de discriminar passageiros homossexuais. Membros da família do motorista procuraram o secretário parlamentar Eliseu Neto e seu namorado, o estudante Ygor Higino, para se desculpar pela conduta e comentou sobre o comportamento homofóbico do parente, que se gabava a pessoas próximas quando deixava “um frango no meio do caminho”.

“Entraram em contato comigo e contaram que é um comportamento recorrente do motorista. Os parentes disseram que ele faz isso mesmo, propositalmente, de pegar pessoas (homossexuais) e deixar na rua. Se gabar, dizer ‘ah, deixei um frango no meio do caminho agora’”, conta Eliseu. “É grave, né? Várias outras pessoas podem ter tentado denunciar e não conseguido. Se isso é recorrente e nada tinha estourado contra ele”, acrescenta.

Moradores de Brasília, Eliseu e Ygor foram passar o réveillon em Pernambuco e pediram uma corrida no aplicativo 99 e, dentro do carro, sofreram a discriminação. "A gente trocou um carinho e ele encerrou a corrida, dizendo que não queria aquilo dentro do carro. Eu saí e fui fotografar o veículo para poder reportar a queixa", relembra.

O motorista tinha parado perto de uma patrulha da PM. “Não sei se ele falou algo, mas o policial chegou, me deu um empurrão e eu caí no chão. Disse ao PM que ele não podia fazer abordagem dessa maneira, e levei outro empurrão”, discorre o psicólogo.

Desde então, o que era para ser um período de férias virou uma saga contra a homofobia. Primeiro, tentaram registrar um boletim de ocorrência digital - em vão, já que no site da Secretaria de Defesa Social (SDS) só dá para registrar roubo, furto ou depredação. O jeito foi esperar até essa segunda-feira (6) para formalizar a queixa, indo pela manhã na Delegacia de Santo Amaro e, à tarde, na Corregedoria da SDS. 

“A gente tinha uma viagem para João Pessoa que foi cancelada. Íamos para Porto de Galinhas, mas desistimos porque estamos envolvidos ainda nessa história. Esses trâmites demoram muito. A pessoa acaba perdendo as férias”, lamenta Eliseu. 

Entretanto, o esforço não é encarado de forma negativa. Psicólogo e ativista dos direitos LGBT, Eliseu espera que a situação sirva para estimular mais pessoas a denunciarem casos de discriminação. Vale lembrar que ele foi um dos responsáveis pela ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que criminalizou a homofobia, em junho de 2019.

O caso será acompanhado pelo advogado Thomas Crisóstomo, visto que Eliseu e Ygor não moram no estado de Pernambuco. Nesta terça-feira (7/1), o caso foi reportado oficialmente à Promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Recife. “O promotor Maxwell Vignoli se comprometeu a instaurar um inquérito. Desde que a história começou, se mostrou muito solícito”, pontua Thomas.

Respostas oficiais

A Polícia Civil de Pernambuco instaurou inquérito para apurar o caso. A investigação ficará sob responsabilidade do delegado Breno Varejão, da Delegacia da Boa Vista. “Os trabalhos serão conduzidos com seriedade e dedicação de modo a dar, no menor tempo possível, a resposta à sociedade”, grifa a instituição.

Já a Polícia Militar de Pernambuco diz que “até agora não recebeu nenhum registro de queixa de conduta irregular de seus integrantes para com a suposta vítima. Mesmo assim, o 16º BPM já identificou os envolvidos e deu início a um procedimento interno de investigação, para apurar possíveis responsabilidades no caso”.

Responsável por apurar condutas de policiais, a Corregedoria da SDS irá realizar “investigação preliminar a fim de que, caso haja elementos suficientes, seja instaurado Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) ou sindicância para apurar os fatos relatados”.

A 99 informou à reportagem que o motorista em questão foi banido da plataforma. "Uma equipe especializada está em contato com a vítima e seu namorado para oferecer todo o apoio e acolhimento necessários. A companhia está disponível para colaborar com as investigações da polícia. A 99 orienta e sensibiliza os condutores a atenderem todos os passageiros com respeito", pontuou, em nota.

Quanto ao relato de outras hostilizações, a empresa não localizou outras queixas contra o condutor, ressaltando que qualquer ocorrência deve ser reportada por meio do aplicativo ou do telefone 0800-888-8999.

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