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"Não bebam a Belorizontina"

Em meio à suspeita de uma segunda morte provocada por contaminação em Minas Gerais, fabricante de cerveja recomenda a consumidores que evitem a marca. Idosa de 60 anos esteve na capital mineira durante as festas de fim de ano

Correio Braziliense
postado em 15/01/2020 04:42
Rótulo da Belorizontina: além das duas mortes, pelo menos 17 pessoas são suspeitas de contaminação

A Secretaria de Saúde de Minas Gerais e a Polícia Civil do estado vão investigar se a morte de uma mulher de 60 anos no município de Pompéu (MG) no fim de 2019 foi causada em razão da intoxicação do composto químico dietilenoglicol, substância considerada altamente tóxica e que tem sido encontrada em diferentes lotes da cerveja Belorizontina. Familiares da idosa afirmam que ela ingeriu a bebida dias antes do óbito e apresentou sintomas característicos da chamada síndrome nefroneural, doença provocada pelo componente químico e que causa insuficiência renal aguda, com evolução rápida. Desde o início do ano, pelo menos outras 17 pessoas foram hospitalizadas por suspeita de contaminação por dietilenoglicol e um homem morreu.

Até o momento, apenas a Secretaria de Saúde de Pompéu considera o caso como mais uma ocorrência de intoxicação pelo consumo da substância presente na bebida alcoólica. Em comunicado oficial, o órgão explicou que a vítima esteve em Belo Horizonte, a passeio, entre 15 e 21 de dezembro. Nesse período, a idosa visitou a residência de parentes no Bairro Buritis, Região Oeste da capital mineira — a maioria dos casos da síndrome tem relação com essa localidade.

Ao retornar a Pompéu, ela já reclamava de mal-estar e foi internada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município, em 26 de dezembro com sintomas gastrointestinais — como náuseas, vômitos ou dores abdominal —, insuficiência renal aguda, seguidos ou não de uma ou mais alterações neurológicas — como paralisias facial e descendente, borramento visual, amaurose (perda da visão), alterações sensitivas e crise convulsiva. Dois dias depois, a mulher morreu em decorrência de insuficiência renal e alteração neurológica, de acordo com o prontuário médico.

“No momento, toda a Secretaria Municipal de Saúde, Pronto Atendimento e familiares estão no aguardo de retorno do caso. Vale ressaltar que compete às autoridades de saúde hierarquicamente superiores o desenrolar dos fatos, além disso, das autoridades legais e de competência para as apurações”, informou a secretária de Saúde de Pompéu, Fernanda Guimarães Cordeiro, em comunicado oficial.

“Não bebam”


A diretora de marketing da Backer, Ana Paula Lebbos, em coletiva à imprensa na tarde de ontem, pediu que os consumidores não bebam a cerveja Belorizontina de nenhum lote. “O que preciso agora é que não bebam a Belorizontina, qualquer que sejam os lotes, por favor. Quero que meu cliente seja protegido. Não beba Belorizontina. Não sei o que está acontecendo”, disse. Ela estendeu a orientação para a cerveja Capixaba, que é o nome que a Belorizontina recebe para ser vendida no Espírito Santo.

Segundo ela, os casos de contaminação têm sido uma “surpresa assustadora” para a Backer. “Aqui na Backer nunca foi utilizado o dietilenoglicol. Isso é um mistério para nós e para as autoridades”, afirmou. De qualquer forma, ela reconhece que um dos 70 tanques da empresa está contaminado. “Todas as análises estão sendo feitas pelas autoridades. Logo logo, o mais breve possível, vamos ter uma resposta”, disse Ana Paula Lebbos.

“Estamos muito tristes. Não entramos em contato com as famílias, anteriormente a isso, até mesmo para resguardá-las. A gente não sabia o que estava acontecendo. A partir de hoje, já estruturamos pessoas para entrar em contato com as famílias e nos oferecer para qualquer tipo de ajuda”, garantiu a diretora de marketing.

Campanha nacional


Diante da evolução de casos de contaminação e de a possibilidade de mais um óbito pelo consumo da cerveja, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, deu dez dias para a empresa Backer, fabricante da bebida, formular uma campanha de esclarecimento para orientar os consumidores de todo o país.

Dentre os esclarecimentos que devem ser apresentados à Senacon, a Backer terá de demonstrar, por exemplo, um detalhamento do defeito presente nas cervejas, acompanhado de informações técnicas necessárias ao esclarecimento dos fatos, bem como data, com especificação do dia, mês e ano, e modo pelo qual a nocividade ou periculosidade foi detectada.

Também foram requeridas descrições dos riscos ligados à cerveja Belorizontina e suas implicações, de forma clara e ostensiva, além da quantidade de produtos sujeitos à contaminação, inclusive os que ainda estiverem em estoque, e número de consumidores atingidos. Espera-se que a cervejaria também envie à Senacon um plano de mídia para esclarecer a situação.

“Tendo em vista que o objetivo do recall é proteger o consumidor de acidentes ocasionados por defeitos, um dos aspectos mais relevantes é a ampla e correta divulgação dos avisos de risco de acidente na mídia (jornal, rádio e televisão), com informações claras e precisas quanto ao objeto do recall, descrição do defeito e riscos, além das medidas preventivas e corretivas que o consumidor deve tomar”, informou o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A Backer já se comprometeu a atender à notificação da Senacon. Em caso de descumprimento, a fabricante pode ser multada em até R$ 9,9 milhões.

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