A possibilidade de Regina Duarte assumir a Secretaria Especial de Cultura foi recebida com otimismo por representantes da classe artística, após a grave crise que culminou na demissão do dramaturgo Roberto Alvim. A atriz desembarca nesta quarta-feira (22/1) em Brasília para conhecer a estrutura do órgão, antes de responder ao convite do presidente Jair Bolsonaro. Embora ainda não tenha batido o martelo, ela afirmou, nas redes sociais, estar "de corpo e alma com esse governo" e prometeu dar o melhor de si para a causa da Cultura. A artista também disse que "as relações precisam passar pelo noivado" para evitar o risco de "dar com os burros n'água".
Regina Duarte foi convidada para substituir Roberto Alvim, exonerado do cargo na última sexta-feira, após a repercussão do vídeo que ele publicou parafraseando o ideólogo nazista Joseph Goebbels. Caso aceite o convite de Bolsonaro, terá a missão de pacificar a relação entre a Secretaria Especial de Cultura - órgão abalado por uma avalanche de crises - e a classe artística.
Nas postagens que fez nas redes sociais, nesta terça-feira (21/1), a atriz da Rede Globo indicou que deve aceitar o convite do presidente.
"Tem horas que eu nem acredito. Parece um sonho. Deixa eu curtir um pouquinho mais a alegria de sentir que posso ser respeitada no meu amor pelo Brasil e pelo povo brasileiro ....?!", escreveu a artista no Instagram. "Vou ter muito trabalho pela frente", acrescentou, no post que é acompanhado da foto do encontro, ocorrido na segunda-feira, no Rio de Janeiro, entre ela, Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
"To de corpo e alma com esse governo, vcs já sabem, apaixonada como sempre pelo meu país, louca pra contribuir com a produção da alegria e felicidade geral ... me entrego ao que Deus e o Destino reservam pra mim, muito grata pela confiança de todos", disse a atriz.
Esse post foi acompanhado de uma ilustração da artista norte-americana Carey Armstrong-Ellis e que é capa do livro Miss Tutu's Star, de Lesléa Newman. A imagem, que mostra uma bailarina entre um gato e um rato, foi alterada por Regina Duarte, que inseriu uma bandeira do Brasil.
As publicações da artista receberam comentários elogiosos dos internautas, incluindo a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, os atores Ary Fontoura e Thiago Rodrigues, o apresentador Márcio Garcia, e as atrizes Beth Goulart e Maitê Proença.
“Dentro do cenário sinistro que tivemos até agora, vc é o melhor dos mundos!! Torço por vc à frente da Cultura de nosso país. Vai com tudo querida!”, escreveu Maitê Proença.
Regina Duarte foi convidada para assumir a Secretaria Especial de Cultura no momento em que o órgão é acusado, por muitos representantes do setor, de cometer atos de perseguição e de censura contra artistas e produções culturais.
"Eu me sinto desprotegido como produtor de cultura, diante da violência com que se tem tratado a Cultura no país", disse ao Correio o cineasta Cacá Diegues. "Espero que a Regina Duarte aceite o convite e faça um bom trabalho, principalmente com liberdade para os artistas. Não a conheço bem, nem sua ideologia, não sou seu amigo, mas tenho certeza que ela é muito melhor do que o Alvim", acrescentou Diegues.
Ele não quis falar em nome da classe artística, mas disse que, para seu trabalho como cineasta, o mais importante é ter "liberdade e as condições de produzir". Diegues também elogiou os projetos desenvolvidos pela Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo (SPcine), da prefeitura da capital paulista. Entre as ações está o Circuito Cineclubista, desenvolvido em 16 espaços da cidade, sempre com sessões gratuitas seguidas de debate.
A diretora-presidente da SPcine, a também cineasta Laís Bodansky, disse que "o mais importante para o setor do audiovisual é a continuidade das políticas públicas, já que se trata de uma das mais importantes ramos da indústria brasileira e contribui fortemente para o Produto Interno Bruto". Segundo ela, "qualquer interrupção representa um verdadeiro desmonte de conquistas de anos".
O ator e comediante da Rede Globo Welder Rodrigues, que iniciou a carreira em Brasília, como integrante do grupo Os Melhores do Mundo, disse que "pior do que tá não dá pra ficar", referindo-se às sucessivas crises na Cultura.
"Espero que a Regina Duarte faça um bom trabalho, principalmente porque sabe que os colegas dela não são vagabundos. Espero que o governo deixe de ver o artista e a imprensa como inimigos", disse Welder.
Já o produtor teatral Eduardo Barata, afirmou que, embora não concorde com o perfil conservador de Regina Duarte, ele tem esperança que a atriz faça um bom trabalho na Secretaria Especial de Cultura.
"A Regina Duarte é do nosso meio, tem cinquenta anos de carreira, defende a liberdade de expressão e, no passado, participou da campanha das Diretas Já e pela abertura política no país. Espero também que o governo compreenda a cultura não como um partido político, mas como o petróleo do novo século, que representa, no país, 2,74% do PIB e emprega, direta e indiretamente, seis milhões de pessoas", afirmou.
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