Correio Braziliense
postado em 23/01/2020 10:43
O médico infectologista Carlos Magno Fortaleza, do Departamento de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), disse que o Brasil está exposto ao coronavÃrus, causador da pneumonia indeterminada que já matou 17 pessoas na China, mas tem a vantagem de possuir uma boa rede de vigilância epidemiológica. Em 2003, segundo ele, isso evitou que outro coronavÃrus, identificado como SARS, que se espalhou pelo mundo, entrasse no paÃs.
"Naquele caso, a doença começou na China, passou para outros paÃses e foi contida graças a um grande esforço internacional", afirmou. No evento atual, ele considera que o Brasil é tão exposto como qualquer outro paÃs que tenha contato por meio de viajantes com a China.
"Hoje, o mundo é todo conectado por transportes aéreos de longa distância e muito rápidos, então estamos diante de uma situação, sim, de risco internacional. O que temos a nosso favor é que nós fazemos parte de um grupo de paÃses que têm muito bem montada a vigilância epidemiológica, a capacidade de identificar casos e responder rapidamente."
Segundo ele, essa estrutura foi montada ao longo dos últimos 20 ou 30 anos no Brasil e hoje está bastante sólida. "A nossa capacidade de agir rapidamente, identificar a doença e notificar os casos talvez seja a nossa maior segurança, algo que poucos paÃses não desenvolvidos têm."
De acordo com o especialista, as medidas iniciais tomadas pelo governo brasileiro, de monitorar aeroportos, portos e postos de fronteira, é o que se pode fazer, de acordo com as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A expectativa agora é sobre a decisão da OMS de se considerar ou não a situação de emergência de saúde pública de importância internacional. "Quando isso é decretado, todos os paÃses são chamados a colaborar na vigilância de aeroportos, portos e fronteiras, em um trabalho conjunto. O que temos hoje e que não tÃnhamos no passado é uma capacidade enorme de comunicação. A maior parte dos paÃses que têm uma estrutura melhor de saúde pública já está em alerta."
Fortaleza lembra que não existe segurança absoluta de que a doença não chegue ao Brasil. "O que podemos fazer é utilizar bem os nossos controles e nossa capacidade de identificar e diagnosticar os casos. A China é um paÃs enorme, mas os casos estão vindo especificamente de uma região, da cidade de Wuhan. A história mostra que condutas como restringir voos e fechar fronteiras não evita que uma doença se localize no paÃs. Os Estados Unidos fizeram isso para conter o ebola, mas o ebola entrou a partir de imigrantes ilegais. O que faz o Brasil, que não fecha a fronteira e trabalha com a informação, é muito mais eficaz", finalizou.
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