Brasil

Risco de diarreia

Correio Braziliense
postado em 25/01/2020 04:05
“Quando a água da torneira não sai barrenta, sai branca e com cheiro de cloro. É só parar de chover que voltaremos a ter essa água péssima, que faz a gente ter diarreia”. A reclamação é da dona de casa moradora de Paraopeba, na Região Central de Minas, Mariane Diaz de Souza, de 23, mãe de dois filhos. Desde que ocorreu o rompimento da barragem em Brumadinho, a 130 quilômetros de distância, a mulher conta que a interrupção da captação do Rio Paraopeba e sua substituição pelo Ribeirão do Cedro fez despencar a qualidade do consumo no seu bairro, o Dom Bosco. “Às vezes, vinha água só de noite e a gente tinha de guardar. Passava o dia sem água e depois vinha água suja ou branquinha de cloro. Diarreia virou uma epidemia aqui. Adultos, idosos e crianças, qualquer um ficava doente”, conta.

Tinha vez que tinha de deixar as panelas sujas ou ir até a casa da minha irmã para lavar as panelas, de tão suja que a água começou a vir. Se parar a chuva, acho que esse inferno vai voltar”, afirma a frentista Rosimeire Primeiro, de 35. “Se comer fica doente. Se tomar banho queima o chuveiro. Não sei se é pior ficar: ter ou não essa água ruim”, lamenta a dona de casa Katia Aparecida Rocha Gomes Vieira, de 24.

A qualidade da água também fez com que a comunidade de Cachoeira do Choro, em Curvelo, a 50 quilômetros de Paraopeba, tivesse de usar caminhões-pipa e água mineral, quando o poço começou a apresentar suspeitas de contaminação. O lugarejo turístico vivia basicamente da indústria do turismo rural à volta do Rio Paraopeba e suas corredeiras de pedra, local que também era muito apreciado pelos turistas. Os campings, pousadas, ranchos e comércios fecharam progressivamente depois do rompimento fazendo com que o local também assumisse aparência abandonada.

Sem turismo

A bonança econômica de antigamente fez até com que a aposentada Gersina Inocência Silveira, de 65, e de BH, deixasse a capital para montar uma sorveteria de sabores do cerrado há cinco anos, a sorveteria Empório Trololó. “Antes, aqui era cheio todas as épocas do ano e não era só para pescar que as pessoas vinham. Tinham muitos passeios. Foi romper a barragem que a coisa definhou. Perdemos muitos clientes, pois todo mundo queria experimentar os sorvetes que eu mesmo faço, de mangaba, graviola, jaca, jatobá”, conta. Segundo ela, o movimento era tão intenso que na véspera dos feriados já tinha gente se instalando e passeando.

Dali em diante, até a Hidrelétrica Retiro Baixo, no mesmo município, são mais 26 quilômetros. O lago conseguiu parar a onda de rejeitos que ingressou no fundo do represamento. Ainda assim, as dúvidas sobre a qualidade da água refletiram no mercado imobiliário e vários condomínios e empreendimentos de fim de semana e recesso pararam de vender propriedades.

A usina chegou a paralisar duas vezes a geração de energia para evitar que a água contaminada danificasse seus equipamentos, mas está gerando energia normalmente. A unidade funciona desde 2010, e possui uma capacidade instalada de 82MW, energia suficiente para atender a 200 mil pessoas. A represa de Três Marias e o Rio São Francisco, que têm o Rio Paraopeba como um de seus principais tributários não obteve, ainda, registros de rejeitos ou de substâncias tóxicas, mas fica naquele trecho um dos mais turvos observados pela ONG SOS Mata Atlântica.




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