Brasil

Minas decreta emergência

Número de mortes causadas pelas chuvas do fim de semana sobe para 44 no estado. Publicação de decreto visa facilitar o repasse de recursos federais. Ministério vai liberar R$ 90 milhões para socorrer 99 cidades e facilitar saque de FGTS

Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:33
Equipes atuam na Vila Bernadete: depois de mais de 40 horas, trabalhos terminaram, na manhã de ontem, no local, onde sete pessoas morreram

O número de mortes decorrentes das chuvas de quinta e sexta-feira em Minas Gerais saltou para 44, segundo a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil (Cedec). Em todo o período chuvoso, iniciado em novembro, foram 55 mortes. Outras 19 pessoas continuam desaparecidas, todas no interior do estado. Na corrida para ajudar as cidades, o governo estadual deve publicar um decreto hoje no qual reconhecerá situação de emergência em 99 municípios. Os decretos facilitam a transferência de recursos do governo federal para reparos e a entrega de doações — como colchões, cobertores, travesseiros e alimentos — recolhidas pelo Executivo estadual. Ontem, o governo federal garantiu que tem R$ 90 milhões para atender aos estados atingidos pelas enchentes. O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, que foi a Minas, e o governador Romeu Zema (Novo) se reuniram com prefeitos para alinhar os repasses.

A maioria das mortes está concentrada na Grande BH: 13 em Belo Horizonte, seis em Betim, cinco em Ibirité e dois em Contagem. No interior, os óbitos estão listados em 10 municípios da Zona da Mata mineira: Alto Caparaó (três), Alto Jequitibá (três), Carangola, Divino, Luisburgo (duas), Manhuaçu, Pedra Bonita (duas), Santa Margarida, Tocantins e Simonésia (três). Ainda de acordo com o balanço da Defesa Civil estadual, 17.241 pessoas estão fora de suas casas em Minas: 13.887 desalojadas (6.767 na Grande BH e 7.120 no interior) e 3.354 desabrigadas (850 na RMBH e 2.504 no interior). Além disso, 12 pessoas ficaram feridas no estado – seis na Grande BH e outras seis, no interior.

As estatísticas traduzem em números a dor da perda. Revelam histórias como a da cozinheira que trabalhava em um asilo, o jovem que havia acabado de tirar carteira de motorista, a adolescente que iria se formar, o pai que não conseguiu batizar a filha. Sonhos de família enterrados na lama, lembrados por quem sobreviveu em locais como a Vila Bernadete, na capital mineira, onde, depois de mais de 40 horas, terminaram, na manhã de ontem, as buscas por sete vítimas soterradas no desabamento de casas durante o temporal da última sexta-feira.
 
 
 
Cinco corpos foram localizados pela manhã e dois haviam sido encontrados no sábado, numa operação que usou técnicas semelhantes às empregadas no rompimento da Barragem da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As sete pessoas pertenciam a duas famílias. O corpo do pequeno João Lucas, de 3 anos, foi o primeiro a ser localizado nos escombros ontem pelo Corpo de Bombeiros (Cobom), que pouco depois achou o pai dele, Thiago Rodrigo da Silva, de 26 anos, e a mãe, Kellen Santos Oliveira, de 25. Thiago retornou para casa para tentar salvar o filho, mas não conseguiu sair dos escombros, surpreendido por um outro deslizamento.

Na noite da sexta-feira, dia de recorde histórico de índice de chuva, um barranco cedeu e soterrou pelo menos cinco casas na Vila Bernadete. Três ficaram completamente destruídas e outras duas parcialmente foram danificadas. Vários moradores contaram que tentaram ligar para a Defesa Civil desde a madrugada de sexta-feira, avisando sobre uma escavação no quintal de uma casa que estava jorrando água e desmoronando.

Somente a Polícia Militar (PM) foi ao local, às 12h30, e aconselhou a saída. Às 21h, as casas desceram junto com o barranco. As buscas por sobreviventes começaram na manhã de sábado, quase 12 horas depois. Segundo os bombeiros, o local oferecia risco às equipes, por causa da chuva e dos choques da rede elétrica. Dois policiais militares ficaram presos nos escombros. A população ficou revoltada com a demora e ontem ainda cobrava respostas. “Fomos tentar resgatar e a PM barrou”, disse Warley Pablo, de 26, morador da Vila Bernadete. “Isso aqui daqui a pouco todo mundo esquece e depois acontece em outro lugar”, afirmou.

O prefeito Alexandre Kalil, que esteve no local na manhã de sábado, disse que o telefone da Defesa Civil estragou na tarde de sexta-feira, quando o órgão público recebeu mais de 500 chamadas relacionadas à chuva. O prefeito não soube precisar por quanto tempo o telefone da prefeitura ficou indisponível. É a primeira vez que os moradores da Vila Bernadete assistem a uma tragédia relacionada a deslizamentos. Situada numa área de encosta próxima ao Anel Rodoviário, no Barreiro, a vila foi urbanizada há pouco mais de 10 anos, quando chegou o asfalto na região.

O ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, descreveu que será antecipado o pagamento do Bolsa Família para famílias atingidas que estão inscritas no programa. Vítimas também poderão fazer saques no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O Ministério da Saúde está distribuindo medicamentos necessários e identificando hospitais do SUS para atendimento de necessitados.

Em entrevista coletiva, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirma que “a quantidade de chuvas foi a maior da história desde que se iniciou a medição”. Os pontos mais atingidos são aqueles que têm ocupações desordenadas e algumas pessoas vivem em “verdadeiros despenhadeiros”. Ele declarou ainda que a solução do problema é de longo prazo, como um “plano habitacional”.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags