O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, foi a público, nesta quarta-feira (29/1), tentar explicar a auditoria milionária que prometia abrir a caixa-preta do banco, mas não encontrou nenhuma irregularidade nas operações com o grupo J&F.
Ele admitiu que o custo dessa investigação quase dobrou ao longo dos últimos anos, passando dos R$ 40 milhões, o que levanta questionamentos na sociedade. Mas garantiu que foi preciso investir todo esse dinheiro para poder afastar quaisquer dúvidas sobre as operações do BNDES e, assim, deixar a tal caixa-preta para trás.
Segundo Montezano, a auditoria encerrada no final do ano passado tinha como objetivo apurar suspeitas de irregularidades nos contratos do BNDES com a J&F, que recebeu cerca de R$ 20 bilhões em financiamentos do banco entre 2005 e 2016. E demandou um investimento maior que o esperado justamente por conta dos desdobramentos do escândalo de corrupção da J&F.
O presidente do BNDES alegou que, com o desenrolar da auditoria, das investigações da Polícia Federal e da CPI do BNDES, a quantidade de informações que precisou ser avaliada pelo BNDES saltou de 1,3 para 3,5 gigabytes. E disse que isso obrigou o banco a ampliar o escopo da auditoria, ampliando também o seu orçamento.
O custo dessa operação passou, então, dos R$ 23,3 milhões previstos em 2017 para mais de R$ 40 milhões. Montezano afirma, por sua vez, que o valor final da auditoria não é de R$ 48 milhões, como foi divulgado nos últimos dias, e sim de R$ 42,7 milhões. E garantiu que, na sua gestão, o BNDES só aprovou a adição de R$ 2,3 milhões, jogando, portanto, a responsabilidade dos outros R$ 40 milhões para os seus antecessores e para o conselho do BNDES.
"Raspar o tacho"
Montezano ainda disse que foi por conta desse impasse em relação ao valor final da auditoria que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que havia um erro nas contas do BNDES. Nos últimos dias, depois o valor de R$ 48 milhões veio à tona, Bolsonaro disse que havia alguma coisa esquisita e sugeriu que alguém estava "querendo raspar o tacho" do BNDES.
"É legitimo ter uma demanda de esclarecimento da população, porque como se transfere tamanha monta de recursos para um grupo econômico que participou de um dos maiores esquemas de corrupção do Brasil sem nenhuma ilegalidade? Mas o fato é que não foi encontrada nenhuma irregularidade nessa ou em outra operação do BNDES", minimizou Montezano, sugerindo que os financiamentos ao J&F não foram irregulares porque o aparato jurídico brasileiro favorece a corrupção.
Apesar de não usar o termo caixa-preta, o presidente do BNDES ainda disse que era hora de virar a página, já que nenhuma irregularidade foi encontrada pela auditoria. "Hoje não tem mais nada que seja necessário esclarecimento no banco. Se porventura amanhã surgir algum outro tema relevante, que tenha repercussão na sociedade, viremos aqui de forma didática para esclarecer. O banco está pronto para virar a página", afirmou.
Ao prestar esclarecimentos sobre a auditoria em uma coletiva de imprensa que transmitida na internet pelo BNDES, Montezano ainda admitiu que estava ali para falar sobre o assunto a pedido da presidência da República. Ele disse que não conversou pessoalmente com o presidente Jair Bolsonaro, que tinha como promessa de campanha abrir a caixa-preta do BNDES, mas apresentou o detalhamento da auditoria para interlocutores da presidência, que lhe passaram a orientação de dar "total esclarecimento" ao assunto.
"Nossa função é recuperar a reputação da instituição. Esclarecer a todo cliente, acionista e conselheiro que o banco não tem mais nada a esconder. Fizemos um trabalho extenso de revisão de tudo que aconteceu no banco, fizemos diversas novas para dar segurança e esclarecimento", garantiu o presidente do BNDES, que passou os últimos dois dias em Brasília discutindo o resultado e o custo dessa auditoria com interlocutores do Planalto, do Ministério da Economia e da Controladoria Geral da União.
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