Correio Braziliense
postado em 04/02/2020 04:07
Ao lançar ontem a campanha nacional de prevenção à gravidez na adolescência, que tem como foco retardar o início da relação sexual neste período como método de prevenção à maternidade precoce, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou que pretende lançar um plano nacional de prevenção ao sexo logo no começo da juventude para continuar a falar do tema. Ela anunciou que levará a campanha às escolas e formará rodas de conversas com adolescentes, mas que detalhes deste plano ainda serão apresentados em “momento oportuno”.
“Queremos falar das outras consequências do sexo precoce. O sexo precoce não traz apenas a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis. Têm outras doenças físicas graves e as doenças emocionais, como depressão, tristeza, baixa autoestima”, garantiu a ministra.
Com o slogan “Tudo tem seu tempo: adolescência primeiro, gravidez depois”, a campanha tem como objetivo sensibilizar adolescentes e jovens sobre os riscos e consequências. A proposta — que integra a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, instituída pelo governo em 2019 — quer despertar a reflexão e promover o diálogo entre os jovens e famílias.
Ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Damares voltou a defender a campanha, que gerou polêmica antes mesmo do lançamento. “Isso não nasceu de uma loucura de uma ministra fundamentalista, radical, moralista. Conversamos com especialistas, pais, adolescentes, e tivemos a coragem de dizer: nós vamos falar sobre retardar o início da relação sexual”, defendeu.
De acordo com dados expostos na coletiva de lançamento, em 2018, 434.573 bebês nasceram de adolescentes que têm entre 15 e 19 anos. Neste ano, o Ministério da Saúde distribuirá 570 milhões de preservativos femininos e masculinos. “Estamos diante de um problema de saúde pública. Gravidez na adolescência não é um assunto moral ou de comportamento somente”, pontuou Damares.
Mandetta reforçou a importância da campanha, que será veiculada durante todo o mês de fevereiro, na internet e na TV aberta.
Discordâncias
A iniciativa, porém, é criticada por especialistas. O caminho para a prevenção da gravidez na adolescência, defendem, passa pela educação dos jovens e pela inclusão dos meninos nas discussões, ainda focadas nas garotas.
“Os pais deveriam acompanhar os filhos na consulta e as escolas deveriam ter isso na programação, discutir como o assunto vai ser posto para os adolescentes”, diz Silvana Maria Quintana, coordenadora científica de obstetrícia da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo.
Segundo ela, as campanhas precisam apresentar orientações não só para as adolescentes. “A mensagem subliminar é de que a gravidez é uma responsabilidade da mulher. O foco é nela, mas ela não teve o bebê sozinha”.
Na semana passada, a Sociedade Brasileira de Pediatria apresentou documento com posicionamento contrário ao incentivo à abstinência sexual. Primeiro vice-presidente da SBP, Clóvis Constantino diz que prevenir a gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública, tendo em vista os riscos à mãe e ao bebê. “Se colocarmos o adolescente em uma redoma, estamos criando um problema”.
"O sexo precoce não traz apenas a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis. Tem outras doenças físicas graves e as doenças emocionais"
Ministra Damares Alves, sobre outros efeitos indesejados
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