Correio Braziliense
postado em 06/02/2020 04:11
O presidente Jair Bolsonaro defendeu, ontem, a campanha nacional de prevenção à gravidez na adolescência, lançada na última terça-feira pela ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, cujo foco é retardar o início da relação sexual neste período da juventude. Além de elogiar a subordinada, também insinuou que existe má vontade com ela.
“Quando ela fala em abstinência sexual, esculhambam ela. Quem quer? Eu tenho uma filha de nove anos. Você acha que eu quero minha filha grávida no ano que vem? Não tem cabimento isso! É essa a campanha que ela faz”, reclamou Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.
Ao comentar a campanha, o presidente Bolsonaro afirmou que “uma pessoa com HIV, além de ser um problema sério para ela (si própria), é uma despesa para todos aqui no Brasil” – refertindo-se ao caso de uma jovem que, supostamente, teve o segundo filho aos 15 anos e que teria contraído HIV na terceira gravidez. E criticou a forma como alguns dos seus antecessores trataram a questão. Disse ainda que a liberdade defendida pelo PT é uma “depravação total”. “Essa liberdade que pregaram ao longo (do governo) do PT todo, de que vale tudo... Se glamuriza certos comportamentos que um chefe de família não concorda, chega a esse ponto, uma depravação total. Não se respeita nem sala de aula mais”.
Sob o mote “Tudo tem seu tempo: adolescência primeiro, gravidez depois”, a campanha tem como objetivo sensibilizar adolescentes e jovens sobre os riscos e consequências da maternidade prococe. O governo investiu R$ 3,5 milhões, e a proposta — que integra a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, instituída pelo governo em 2019 — quer despertar a reflexão e promover o diálogo entre os jovens e as famílias.
A campanha será veiculada ao longo do mês de fevereiro, na internet e na TV aberta. Para reforçá-la, há a possibilidade de o governo mudar a data da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez Precoce de fevereiro para junho, quando é comemorado o Dia dos Namorados.
Questionado sobre a redução de recursos para programas de combate à violência contra a mulher, Bolsonaro ressaltou que “mudanças de posicionamento e comportamento são tão importantes quanto dinheiro”. “A Damares está sendo 10 nesta questão. Não é dinheiro, recurso apenas. É a postura, mudança de comportamentos. Ela está fazendo um trabalho bonito na Ilha de Marajó. Lá, você tem o pai que é pai e avô ao mesmo tempo, ou seja, ele engravida a própria filha, engravida a neta”, atacou.
A campanha do governo, porém, sofre restrições de especialistas. Há poucos dias, a Sociedade Brasileira de Pediatria apresentou documento com posicionamento contrário ao incentivo à abstinência sexual. De acordo com o primeiro vice-presidente da SBP, Clóvis Constantino, prevenir a gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública, tendo em vista os riscos à mãe e ao bebê. “Se colocarmos o adolescente em uma redoma, estamos criando um problema”.
Para Silvana Maria Quintana, coordenadora científica de obstetrícia da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo, o caminho para a prevenção da gravidez na adolescência passa pela educação dos jovens e pela inclusão dos meninos nas discussões, ainda muito centradas nas meninas.
“A mensagem subliminar é que a gravidez é uma responsabilidade da mulher. O foco é nela, mas ela não teve o bebê sozinha”.
"Eu tenho uma filha de nove anos. Você acha que eu quero minha filha grávida no ano que vem? Não tem cabimento isso!”
Presidente da República Jair Bolsonaro
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