Segundo analistas, a expectativa do mercado é de que o BC atue para diminuir a volatilidade do mercado e faça, nos próximos dias, uma operação para permitir a rolagem de até 13 mil contratos futuros com vencimento em abril. Contudo, segundo alguns especialistas, a medida pode não ser suficiente para segurar o dólar nesse novo patamar.
César Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest, destacou que, no cenário doméstico, a instabilidade do câmbio se deve à queda das reservas brasileiras, que caíram cerca de R$ 50 bilhões, em 2019, ao fortalecimento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após o processo de impeachment, e à fragilidade do discurso oficial que deixa “transparecer que o dólar ainda tem espaço para crescer”. Essa fuga de capitais, principalmente, preocupa o mercado. A esperança é de que a situação se normalize com as reformas tributária e administrativa. Enfim, essa alta foi preocupante, mas não surpreendente”, destacou.
André Perfeito, economista-chefe da Corretora Necton, ressaltou que “não é o real que está fraco, é o dólar que está forte”. “Todas as moedas no mundo estão caindo perante a moeda norte-americana. E vale destacar que, no Brasil, os juros estão no menor patamar da história e os estrangeiros estão saindo da bolsa de valores. Então, é natural que se tenha essa reação. Mas acho que o câmbio está sob controle”, assinalou.
O fortalecimento do dólar no plano global reflete o aquecimento da economia dos Estados Unidos, que, somente em janeiro, gerou 225 mil postos de trabalho, segundo relatório divulgado pelo governo. O resultado veio acima da estimativa dos analistas, que era de criação de 165 mil vagas. A taxa de desemprego manteve-se baixa, com leve oscilação, de 3,5% para 3,6% da força de trabalho. E o ganho médio dos trabalhadores, por hora, teve alta de 0,2% na base mensal.
Alexandre Amorim, economista da Par Mais, concorda que o movimento de valorização era esperado. “Esse valor do dólar não nos assusta. A alta está dentro do que se considera normal. O câmbio vem fazendo essa movimentação no mundo todo e, com a queda de juros aqui, há uma debandada (de investidores). No momento, passamos por uma febre. Devemos ter em breve uma descompressão nesse valor”, previu. Ele ainda considerou que a economia brasileira está preparada para um câmbio em um patamar mais alto.
Bolsa
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) também sofreu impacto no pregão desta sexta-feira (7/2), fechando em queda de 1,23%, aos 113.770 pontos. Segundo Vitor Hugo Fonseca, economista da G2W Investimentos, o mercado acabou ecoando os impactos do coronavírus sobre a economia mundial. “Nos últimos dois dias, tivemos uma tranquilidade maior, que até se refletiu em alta da bolsa, mas depois se percebeu que ainda não existe certeza sobre a real dimensão dos efeitos da epidemia. A aversão ao risco ainda está sendo precificada”, disse Fonseca.
As atenções, nesta sexta-feira (7/2), se voltaram novamente para a China, após o governo informar que mais de 31 mil pessoas já foram infectadas, tendo sido registradas, até agora, 636 mortes. À medida que a epidemia avança, os efeitos sobre a economia chinesa se tornam mais fortes. Como o país asiático representa cerca de um quarto da produção global, os efeitos sobre os demais países são imediatos.
Empresas brasileiras fornecedoras de commodities, como soja, carne e minérios, já começam a registrar enfraquecimento nas exportações para a China. Na direção oposta, segundo analistas, a suspensão das atividades de várias companhias chinesas — medida adotada pelo governo local para conter a propagação do vírus — tem provocado a descontinuidade no fornecimento de produtos e insumos, como componentes eletrônicos. São problemas como esse que têm provocado a queda nas cotações de ações na B3.
*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo
Impactos do pão ao celular
Da elevação do custo de equipamentos importados, que encarece os investimentos na indústria, à alta do preço de produtos eletrônicos como celulares e computadores, a valorização do dólar afeta a economia em diversas frentes. “Os impactos mais sérios, são, sem dúvida na gasolina, nos alimentos, nos medicamentos e nos eletrônicos. Mas os picos da moeda norte-americana podem indicar também que o Brasil não se verá livre do desemprego tão cedo”, alerta o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest.O empresário, destacou Bergo, precisa de previsibilidade para investir e contratar empregados. Até a mesa do brasileiro, se a taxa de câmbio permanecer muito tempo elevada, pode ficar menos farta de alimentos básicos, como o pãozinho do dia a dia. “O trigo usado na indústria de panificação é uma commodity (mercadoria com cotação internacional). Toda a cadeia do trigo é afetada pelo dólar, assim como o agronegócio, que precisa dos fertilizantes usados em qualquer plantação. Com isso, até a alface fica mais cara. Enfim, temos que olhar com lupa o que vai acontecer daqui para frente”, disse Bergo.
Quem não abre mão de importados como azeite, bacalhau e vinho também pode sentir no bolso. Os que costumam viajar para o exterior ou comprar produtos estrangeiros lá fora sabe que, com a alta do dólar, esses gastos também sobem.
O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos de Oliveira ressalta, porém, que a cotação da moeda norte-americana não deve permanecer no patamar atual, já que não há perspectivas de uma crise cambial. Independentemente disso, a instabilidade pode desequilibrar o orçamento dos consumidores.
“Qualquer matéria-prima eventualmente é afetada, podemos ter o trigo um pouco mais caro, o combustível, qualquer produto vindo do exterior. Quem pensa em viajar também vai pensar em inibir um pouco a viagem para não comprar dólar por agora”, afirma Oliveira. O economista, entretanto, destacou que a situação não é alarmante.
A advogada Savana Faria, 23, planejava passar as férias do início do ano com a mãe em Orlando. Na esperança de uma descompressão no câmbio, decidiu adiar a viagem, mas se surpreendeu com o atual avanço da moeda americana. “Deixei a viagem para o segundo semestre para ver se o preço melhorava e para me planejar melhor, ter tempo de ir comprando a moeda aos poucos. Mas, ao contrário do que imaginei, a cotação só vem aumentando”, contou.
Para a administradora Ana Paula Gonçalves, 42, a alta do dólar pesou nas encomendas. “Eu costumo comprar muita mercadoria americana pela internet. No fim do ano mesmo eu tinha vários planos de consumo. É um período que a gente acaba gastando um pouquinho mais, mas não consegui comprar tudo que planejava. O preço da moeda estava absurdo e tive que diminuir alguns gastos”, disse.
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