Brasil

Expectativa para as semanas de isolamento de brasileiros vindos da China

Grupo ficará em quarentena na Base Aérea de Anápolis. Chegada dos repatriados causou preocupação em habitantes da cidade goiana, mas a maioria apoia a decisão do governo

Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 00:34

José Fernando Peixoto admite receio, mas acredita que estrutura montada garante segurançaAnápolis (GO) — Após mais de 30 horas de viagem e quatro escalas, os dois aviões da Força Aérea Brasileira que voaram até Wuhan, na China, para repatriar 34 pessoas, eram esperados nesta madrugada na Base Aérea de Anápolis. Até o fim do mês, o município goiano deve abrigar o grupo formado por brasileiros e chineses parentes de brasileiros que deixaram a nação asiática em razão da disseminação dos casos de infecção pelo coronavírus. A partir deste domingo (9/2), eles ficarão hospedados no Hotel de Trânsito de Oficiais da Força Aérea, onde deverão cumprir quarentena por um período de 18 dias.

A aproximadamente 12km dali, na área central da cidade, a chegada dos novos vizinhos provocou debate entre os cerca de 362 mil moradores de Anápolis. Parte da população teme que a proximidade possa facilitar a contaminação na região goiana. Por outro lado, há quem defenda a atitude do governo federal, e garanta a obrigatoriedade de resgatar brasileiros em situação de perigo em outros países.

O burburinho chegou ao ouvido do ex-caminhoneiro José Fernando Peixoto, 56 anos. Segundo ele, é inevitável não ficar alerta devido à gravidade da doença causada pelo vírus. “Muita gente fica com receio, porque é muito perigoso. Mas não vou mudar nada na minha rotina. Se estão trazendo para cá, é porque estão cientes de que tem uma estrutura segura para isso”, disse.

Segundo o comerciante Glauton Mariano da Silva, 47, o assunto circula entre os clientes, mas as pessoas estão tranquilas. “Alguns estão mal-informados sobre o assunto ainda, mas não acredito que estejam preocupados. Essas pessoas que estão vindo para Anápolis nem sequer têm os sintomas. Elas simplesmente estavam na China. Além disso, vão ficar aqui em quarentena apenas para observar se vão ter algum tipo de alteração. Então, não oferecem grande risco”, afirmou.

A salgadeira Otaciana Maria do Nascimento, 54, acredita que a medida não é mais do que uma obrigação do governo com o povo brasileiro. “A gente não pode deixá-los lá na China. Temos que ajudar os brasileiros a voltarem mesmo. Não importa se estiverem doentes. Nós temos é que nos proteger também. Lavar as mãos direito, nos cuidar, se preciso, usar a máscara. Vivo dizendo isso para os meus filhos, principalmente com essa chuva”, alerta.

Procedimentos

Conselheiro do Itamaraty na China, João Batista Magalhães acompanhou a tripulação que trouxe os repatriados. Segundo ele, “a operação foi muito bem-sucedida”. “As pessoas estão muito aliviadas e calmas. Avalio a operação como sendo muito exitosa, por trazer tranquilidade para os brasileiros que estavam em situação muito tensa na China”, disse ele, em vídeo gravado durante escala do voo em Las Palmas, na Espanha.

Conforme recomendações do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as pessoas resgatadas pela Força Aérea Brasileira terão os sinais vitais e presença de sintomas e temperatura avaliados três vezes por dia. Neste domingo (9/2), cada um deles será submetido à coleta de uma amostra para coronavírus, procedimento que será repetido no 7º e no 14º dia de quarentena. Além disso, todos terão uma amostra de sangue coletada no 14º dia.

Os repatriados sairão da quarentena após o resultado negativo para o coronavírus nas amostras seriadas e cumprimento dos 18 dias de isolamento. Se o resultado for positivo ou o paciente apresentar sintomas, deverá continuar em isolamento.

Durante o período de confinamento, poderão ser coletadas amostras respiratórias adicionais de cada um dos repatriados. O Ministério da Saúde e a Anvisa ainda garantem que, se o repatriado apresentar necessidade de terapia intensiva, cuidados especiais ou exames complementares não disponíveis na Base Aérea de Anápolis, ou em caso de ele apresentar alterações no estado de saúde, será providenciada transferência para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília, onde ele permanecerá em leito de isolamento. Se o paciente for criança, será transportado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Nos 18 dias de isolamento, a Secretaria de Atenção Primária em Saúde do ministério vai criar um grupo de suporte de intervenção para atenuar o sofrimento psíquico e prevenir transtorno de estresse pós-traumático aos repatriados que precisarem de acompanhamento terapêutico. Além de uma primeira avaliação feita neste domingo (9/2), cada passageiro será durante a semana, a depender da necessidade.

Os dois órgãos frisaram a importância de os repatriados respeitarem algumas medidas de cuidado pessoal, como: higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica; uso correto da máscara cirúrgica, que deve cobrir boca e nariz; utilização de lenço descartável para higiene nasal; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca; e não compartilhar itens com outros repatriados, como copos, talheres, canetas, telefones etc.

Novas mortes

A quantidade de mortos pelo coronavírus chegou a 805 (803 na China, uma nas Filipinas e outra em Hong Kong) e já superou os óbitos pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que entre 2002 e 2003, matou 774 pessoas. No Brasil, o Ministério da Saúde investiga oito casos suspeitos nos seguinte estados: Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (1), São Paulo (2), Santa Catarina (1) e Rio Grande do Sul (3). Outros 28 casos foram descartados. 

 

 

A maioria deles têm sido diagnosticada como Influenza A e B. No mundo inteiro, já foram reportados mais de 37 mil casos de infecção pelo coronavírus.

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