Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 04:04
Anápolis (GO) — Refeição em seis horários diferentes do dia, apoio psicológico e pedagógico, emergência odontológica, serviço religioso e uma série de atividades de entretenimento. Assim foram recebidos os 34 repatriados da China, que chegaram ontem ao Brasil após quase 40 horas de viagem entre Wuhan, cidade chinesa epicentro da epidemia do novo coronavírus, e Anápolis. O grupo — formado por 23 brasileiros adultos, sete crianças entre 2 e 12 anos e quatro chineses — vai permanecer no município goiano pelo menos até 26 de fevereiro, cumprindo quarentena no Hotel de Trânsito de Oficiais da Força Aérea Brasileira. Dos 34 resgatados, segundo a Força Aérea Brasileira, cinco devem vir para Brasília assim que receberem alta.
Até lá, além de aproveitarem as acomodações do espaço, todos estarão em constante monitoramento por uma equipe médica, que só vai liberá-los após eles terem o resultado negativo para coronavírus. A aterrissagem das duas aeronaves que trouxeram os brasileiros na Base Aérea de Anápolis aconteceu pouco depois das 6h. Mesmo sob um tempo nublado e após um exaustivo plano de voo — que contou com quatro escalas e procedimentos de inspeção a cada três horas —, os repatriados não esconderam a felicidade de voltar a pisar em solo nacional: ao descer dos aviões, alguns estenderam a bandeira verde-amarela e acenaram para a área onde ficou posicionada a imprensa.
Pelas redes sociais, alguns dos integrantes do grupo compartilharam fotos e vídeos da jornada de retorno. “Agradeço a todos que fizeram possível nosso retorno. O sentimento agora é de muita alegria e gratidão por estarmos finalmente seguros”, afirmou a modelo Adrielly Eger, 18 anos.
No Hotel de Trânsito de Oficiais, cada um dos repatriados foi recepcionado com uma cesta de chocolates, mensagens personalizadas de boas-vindas e recados de autoridades políticas do estado de Goiás.
“Seja bem-vindo! Goiás recebe você de braços abertos. Somos um estado acolhedor, que sabe vivenciar os valores da solidariedade. Fiquem com o nosso carinho, respeito e as nossas orações para que estejam com seus familiares logo que possível”, dizia um informe assinado pelo governador goiano, Ronaldo Caiado (DEM). “Estimados irmãos brasileiros, sintam-se acolhidos no coração do Brasil. Que a solidariedade e o espírito fraternal e humanista nos unam cada vez mais. Desejo tranquilidade nos próximos dias, certos de que estaremos na retaguarda para servi-los”, reforçou o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino.
O prefeito de Anápolis, Roberto Naves (PP) presenciou o momento do desembarque e disse que a cidade está tranquila. “O anapolino é muito receptivo e entendeu. No começo, houve certa tensão, era muito desconhecido, mas nós contamos com a ajuda da imprensa e conseguimos fazer com que a informação verídica chegasse aos quatro cantos de Anápolis. Isso fez a sociedade entender que nós não queríamos, mas foi necessário, e, se nós podemos ajudar o brasileiro que está precisando, então a cidade se coloca à disposição. Não temos nenhum problema como pânico ou qualquer outra coisa”, afirmou.
A operação de repatriação realizou cerca de 150 horas de voo, somando as quatro aeronaves envolvidas. Tanto na ida quanto na volta, os aviões fizeram paradas técnicas para reabastecer em Ürumqi (China), Varsóvia (Polônia), Las Palmas (Espanha) e em Fortaleza. Assim que entraram no espaço aéreo brasileiro, na madrugada de ontem, os repatriados foram recebidos com uma mensagem de áudio do presidente Jair Bolsonaro: “Bem-vindos de volta ao seu país, o nosso Brasil. Ninguém ficou para trás. Somos um só povo, uma só raça. Somos irmãos. Sejam bem-vindos. Daremos a todos o melhor de nós. É muito bom tê-los de volta”.
As famílias com crianças foram acomodadas em quartos com berços personalizados e deverão manter-se juntas. Os demais integrantes foram alocados em cômodos separados. A integração entre o grupo acontece nas áreas de lazer e de refeição. Os brasileiros não podem receber a visita de familiares, mas a comunicação pode ser feita por internet e telefone, também disponibilizados no hotel improvisado.
Assim como o grupo trazido da China, a tripulação das aeronaves (14 médicos, oito tripulantes e dois jornalistas) ficará em quarentena no Hotel de Trânsito de Oficiais. Todos serão supervisionados e terão de fazer exames três vezes ao dia para detectar a possível presença do vírus. A maior parte da tripulação seguirá para São Paulo. Três diplomatas que compõem o quadro de repatriados retornarão à China.
Em caráter preventivo, informou o Ministério da Defesa, todos que, de alguma forma, estiveram envolvidos nas atividades aéreas, serão submetidos, por precaução, aos mesmos exames iniciais realizados pelas pessoas que estão hospedadas, de forma a garantir ainda mais a segurança da operação.
Ontem, de acordo com boletim médico divulgado pela pasta, todos os hóspedes passaram por “avaliações clínicas protocolares previstas pelo Ministério da Saúde” e mantiveram o quadro assintomático. Para o tratamento de sintomas leves, os médicos cedidos pelo Ministério da Saúde e pela Força Aérea Brasileira farão o atendimento no local. Em caso de agravamento dos sintomas, uma aeronave especializada está preparada para transportar o paciente ao Hospital das Forças Armadas, em Brasília.
Destinos dos repatriados
São Paulo 11
Brasília 5
Paraná 4
Santa Catarina 4
Minas Gerais 4
Pequim 3
Rio Grande do Norte 1
Pará 1
Maranhão 1
País tem 11 casos suspeitos
O Ministério da Saúde elevou a quantidade de casos suspeitos por contaminação pelo coronavírus no Brasil de sábado para ontem. No momento, a pasta monitora o quadro clínico de 11 pessoas, sendo três em São Paulo e no Rio Grande do Sul; duas no Rio de Janeiro; e uma em Minas Gerais, no Paraná e em Santa Catarina. Nenhum caso da doença ainda foi confirmado no país. No restante do mundo, já são mais de 40 mil pessoas infectadas e 902 óbitos.
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