Correio Braziliense
postado em 12/02/2020 04:26
Subiu para cinco o número de mortos pelo temporal que atingiu o estado de São Paulo, no início desta semana. De acordo com a Defesa Civil, na manhã de ontem, o Corpo de Bombeiros fez buscas por um carro arrastado pela enxurrada, no município de Botucatu. Informações de parentes das vítimas apontaram que havia três pessoas no veículo — os corpos de duas mulheres foram encontrados no interior, mas o de um homem, que estaria com elas, foi achado sem vida em outro local.
Na Rodovia Marechal Rondon, no mesmo município, um caminhão foi engolido por uma cratera aberta pela força da água. O corpo do motorista foi descoberto em uma região de difícil acesso, às margens de um córrego. A via foi interditada nos dois sentidos.
Na região de Marília, os bombeiros foram acionados na madrugada de ontem para checar a informação sobre um carro submerso em um rio. Quando chegaram, encontraram o corpo de um funcionário de uma empresa que prestava serviços à rodovia.
Na economia paulista, os efeitos do temporal das últimas horas preocupam. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) estima que as fortes chuvas podem causar um prejuízo de R$ 110 milhões para o comércio das regiões afetadas. Segundo a entidade, muitas lojas não conseguiram abrir as portas, sem contar que as enchentes impossibilitaram várias pessoas de chegar ao serviço. O movimento de consumidores também foi reduzido.
A chuva causou inundação também na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Os comerciantes do maior entreposto da América Latina jogaram no lixo aproximadamente 7 mil toneladas de alimentos. Os prejuízos, segundo cálculos da diretoria da estatal, podem chegar aos R$ 20 milhões.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), prometeu um investimento de R$ 800 milhões em ações de prevenção às inundações. Em vídeo divulgado na tarde de ontem, ele classificou como “fake news” as informações que culpavam a prefeitura de não investir integralmente as verbas destinadas às obras para escoar a chuva.
A prefeitura afirma ter aumentado em 54,1% o número de piscinões da cidade. Os investimentos foram de R$ 107,8 milhões. Segundo a administração municipal, foram entregues quatro piscinões em 2019 e serão disponibilizados mais cinco em 2020.
Planejamento
O professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Jeferson Tavares explica que os dispositivos de infraestrutura contra enchentes que estão instalados em São Paulo, os piscinões, fizeram o trabalho para o qual foram projetados. Mas não conseguiram conter o impacto dos temporais porque, segundo ele, não há planejamento adequado dimensionado para o aumento do volume de chuva.
Segundo ele, os piscinões foram projetados com base nas médias de chuvas das últimas décadas. “Os índices já foram superados, por causa das mudanças climáticas”, afirma. Jeferson argumenta que apenas os piscinões não são suficientes para conter as enchentes.
O professor diz, ainda, que a infraestrutura brasileira é ultrapassada. “É necessário mudar o paradigma de infraestrutura do Brasil. A infraestrutura continua elencada a práticas do século 19 e 20. Precisamos pensar a longo prazo e pensar nas formações de engenheiros, adotando novas práticas”
O professor Daniel Sant’Ana, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), concorda com a análise. Ele afirma que é necessário investir em diagnóstico e pensar em soluções inovadoras.
“Cada cidade, município, vai ter uma característica que vai pedir uma determinada solução. É preciso levar em conta o terreno, uso e ocupação do solo, que tipo de construções são feitas, se há áreas verdes permeáveis, vegetação.”
Ele acrescenta que o governo deve fazer um trabalho de conscientização e incentivar a população: “As pessoas ficam bravas com a enchente, mas não sabem o que causa isso. É preciso informar o que as pessoas podem fazer dentro da sua propriedade. O governo deveria dar incentivos fiscais aos moradores para que eles contribuam na permeabilização do solo”, explica.
*Estagiário sob supervisão de Fabio Grecchi
“É necessário mudar o paradigma de infraestrutura do Brasil. A infraestrutura continua elencada
a práticas do século 19 e 20”
Jeferson Tavares, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, apontando uma das razões pelas quais as cidades ficam debaixo d’água quando o volume de chuva é excessivo
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