Correio Braziliense
postado em 12/02/2020 14:58
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Walmor Oliveira de Azevedo, disse nesta quarta-feira, dia 12, que o órgão católico "está na contramão" de propostas do governo Jair Bolsonaro para exploração econômica de terras indÃgenas. Ele também criticou a ausência da sociedade civil em conselhos como o da Amazônia, liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
"Governos e grupos econômicos residem seus interesses no dinheiro, no lucro, e, portanto, não levam em conta questões muito fundamentais que devem ser levadas em função da preservação", afirmou d. Walmor.
Arcebispo de Belo Horizonte (MG), ele citou casos como o rompimento da barragem de rejeitos que destruiu Brumadinho (MG) como um exemplo de "luta" da Igreja Católica contra o avanço da mineração. "Inclusive quando conquistamos legislação própria para isso ela não é cumprida adequadamente", disse o religioso.
A CNBB ainda não havia se pronunciado sobre o projeto de lei encaminhado na semana passada pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional. O projeto de lei estabelece condições para mineração, turismo, pecuária, exploração de recursos hÃdricos para geração de energia, bem como de petróleo e gás natural.
"Somos contrários a tudo aquilo que prejudica o meio ambiente e os povos nativos. Nós estamos diametralmente opostos àquilo que atinge e que se faz por interesse meramente econômico, em um desenvolvimentismo que não atende as necessidades dos mais pobres, mas pelo contrário, os exclui", afirmou d. Walmor.
O arcebispo também criticou a redução dos órgãos consultivos de participação popular no governo Bolsonaro. Para ele, há "risco à democracia". Em janeiro, o presidente reagiu ao desgaste internacional com os incêndios na Amazônia com a criação do Conselho da Amazônia, em âmbito administrativo.
"É muito triste quando um governo restringe a participação civil em conselhos, evitando escutar uma voz que precisa ser profundamente escutada", criticou d. Walmor.
Soberania.
Em coletiva de imprensa para apresentação do documento Querida Amazônia, exortação do papa Francisco após o SÃnodo dos Bispos, d. Walmor destacou que o pontÃfice reafirmou o entendimento de respeito à soberania dos paÃses e dos povos amazônicos.
O papa escreveu no texto ser contra a "internacionalização" do território da Amazônia como forma de solucionar os problemas de preservação ambiental. O governo Jair Bolsonaro temia que a Igreja defendesse a ideia.
"Ele não falou na não internacionalização para agradar a governo nenhum, nem por medo de governo nenhum", destacou d. Walmor.
O cardeal d. Cláudio Hummes disse que a Igreja está pronta a dialogar com o governo federal e a sociedade em geral, mas que tem de haver "disposição para o diálogo". Relator-geral do SÃnodo, o cardeal Hummes ponderou que nem todos os atritos com o governo Bolsonaro estão superados com o documento papal: "Não significa que todas as preocupações do governo estejam apaziguadas".
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.