Correio Braziliense
postado em 19/02/2020 18:56
Após denunciar abusos e ameaças de seguranças terceirizados na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o estudante de filosofia Clayton Tomaz de Souza, 31 anos, foi encontrado morto em um matagal à beira de uma estrada, em 8 de fevereiro, depois de dois dias desaparecido. Mas somente nesta segunda-feira (17/2), o corpo do estudante acabou identificado pelos familiares, em João Pessoa.Segundo do Instituto de Polícia Científica (IPC), o corpo chegou à perícia em estado de decomposição e com marcas de tiros. A autópsia foi realizada no dia 10, mas só nesta segunda a família, do interior de Pernambuco, conseguiu ir à capital para identificar o corpo.
Conhecido como 'Alph', o estudante Clayton Tomaz de Souza, atuante no movimento estudantil, fazia queixas dos seguranças terceirizados da universidade federal. Em vídeo compartilhado em 29 de janeiro, o estudante declarou que já se sentia ameaçado: "O fato é que a minha vida está em risco, galera. Qualquer hora dessas esses caras dão cabo de mim. Se eu aparecer morto, foram eles".
A perseguida
%u2014 Tá vendo Yolanda ??? (@Alphtom)
De acordo com o delegado do caso, Carlos Othon, os vídeos feito por ‘Alph’ estão sendo coletados e vão ser analisados dentro do inquérito que apura a morte do estudante. “Vamos ouvir os seguranças da UFPB, todos vão ser convocados a prestar esclarecimentos”, comentou.
Em outra publicação, o estudante disse que protocolou na ouvidoria da UFPB uma denúncia sobre as ameaças que sofria dos guardas dentro do câmpus. A UFPB informou, por nota, que lamenta a morte do estudante, mas não comentou mais sobre o caso:
“A Administração Superior da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vem a público lamentar o infortúnio que acometeu nosso estudante do curso de filosofia, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), Clayton Tomaz de Souza, ao tempo que transmitimos aos seus familiares sinceros e fraternos votos de pesar, desejando que tudo seja esclarecido o mais rápido possível.
A perda de uma vida prematuramente é sempre motivo para refletirmos sobre o momento que passamos e os tempos que nos conduzem. Por isso, nessa hora trágica, nosso sentimento é de que façamos o necessário para que não tenhamos de lamentar o desaparecimento de nossos jovens.
Administração Superior”
Homenagens e depredação marcam repercussão do caso
Por meio de nota o Diretório Central dos Estudantes da UFPB lamentou a morte do estudante: “O DCE UFPB lamenta a morte do estudante de filosofia Alph Tomaz, ex-coordenador geral de nossa entidade na gestão “Pra Frente” nos anos de 2016/2017. Sendo também presidente do Centro Acadêmico de Filosofia por três anos. Alph foi conselheiro estudantil do CONSUNI (Conselho Superior Universitário) por dois anos, e membro estudantil na comissão da revisão estatutária da UFPB (ESTATUINTE) pelo CCHLA. As diferenças políticas nesse momento são insignificantes, pelo tamanho da perda do Movimento Estudantil da UFPB no dia de hoje, desejamos conforto aos familiares e amigos/as. Quando um/a estudante morre todos/as nós sofremos, pois é a interrupção de sonhos e metas comuns a todos/as nós estudantes que fazemos parte da UFPB.”
Também na noite da terça-feira (18/2), estudantes, professores e colegas se encontraram para um ato em protesto contra a morte do colega, marcado por pedidos de justiça e investigação da morte dele, além de homenagens sobre a trajetória do jovem dentro da universidade. O encontro aconteceu em uma praça localizada no câmpus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.
Ainda na noite da terça-feira (18/2), a reitoria da universidade foi depredada. Além de vidros quebrados e salas reviradas, paredes foram pichadas com questionamentos quanto a morte do universitário. Os vigilantes informaram que a depredação ocorreu depois que alguns estudantes deixaram o ato organizado. A organização da homenagem disse que não há informações de quem teria praticado a depredação.
* Estagiário sob supervisãod e Roberto Fonseca
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