Brasil

Brasília, racismo e Elza Soares são destaques na Sapucaí na segunda-feira

A capital federal entra na Marquês de Sapucaí duas vezes nos desfiles desta segunda. Sem patrocínio do GDF, a Vila Isabel recorre a uma lenda sobre a criação da cidade. A Unidos da Tijuca exalta a Catedral numa ode à arquitetura

Correio Braziliense
postado em 24/02/2020 06:00
Campeã do carnaval de 2019, a Mangueira foi a terceira a desfilar ontem, levando à avenida as várias faces de Cristo. Comissão de frente mostra Jesus pobre, vítima de ação policialDepois de uma apresentação contundente da campeã Mangueira, que arrebatou a Marquês de Sapucaí mostrando as várias faces de Cristo, com o enredo A verdade vos fará livre, o segundo dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro promete provocar ainda mais polêmica. Do conto do vigário às críticas ao racismo, passando por homenagens à Elza Soares, aos 60 anos de Brasília e à arquitetura da capital, até uma viagem pela história, seis agremiações vão animar os foliões sem deixar de lado críticas e alertas aos problemas da realidade brasileira.

A noite começa, às 21h30, com a irreverente São Clemente, que vai revelar como o trambique virou patrimônio nacional. A preto e amarelo vai reviver a origem da expressão O conto do vigário, título do samba-enredo partirá da história que ocorreu na Ouro Preto do século XVIII, quando duas igrejas disputavam a posse de uma imagem de Nossa Senhora. A solução foi amarrar a imagem a um burrico e soltá-lo no meio do caminho entre as duas paróquias. O que ninguém sabia é que o dono da ideia, o vigário, era dono do animal e o burro foi direto para casa, ou seja, para a igreja do religioso, que ficou com a imagem da santa. Assim, a expressão ficou famosa como maracutaia.

Nessa linha, a escola rememora várias mentiras e corrupções que atravessaram a história do país, desde as fake news, que contaminaram a política, até os chamados “laranjas” de golpes e fraudes. O samba é um deboche assinado por Marcelo Adnet e seus parceiros. O humorista, inclusive, vai estar na avenida. Rumores indicam que poderá surgir fantasiado de Jair Bolsonaro, um dos seus personagens mais frequentes em programas de humor.

Aniversário

A Vila Isabel entra na avenida para contar o outro lado da história de Brasília, que completa 60 anos em 2020. A versão da azul e branco recorre a uma lenda indígena sobre a criação da cidade, segundo a qual um cacique teria mandado construí-la para trazer esperança ao povo de um índio chamado Brasil. Mas não adianta esperar uma ode ao Distrito Federal. Pelo contrário, há um temor de que haja protestos contra o GDF. Isso porque o governador Ibaneis Rocha negou recursos e os sambistas cobram R$ 4 milhões em patrocínio.

O governo assegura que nunca assumiu esse compromisso com a escola. No máximo, uma ajuda para captar recursos por meio da Lei Rouanet. Empresas que haviam se colocado à disposição para ajudar acabaram voltando atrás porque não querem associar a imagem ao carnaval do Rio de Janeiro, em parte financiado pelas milícias. Mesmo sem recursos, o carnavalesco Edson Pereira não desistiu do tema, mas precisou fazer algumas adaptações: utilizou estruturas do carnaval passado e abusou do reaproveitamento de materiais.

Terceira escola a entrar na avenida, o Salgueiro virá com o tema O rei negro do picadeiro, um alerta bem-humorado contra o racismo. A vermelho e branco, que já homenageou Zumbi dos Palmares e Chica da Silva, este ano, exalta Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil e criador do circo-teatro no país. O carnavalesco Alex de Souza quer transformar a Sapucaí num grande picadeiro para mostrar a luta contra o racismo. Vários artistas negros serão reverenciados. “Há esperança entre sinais e trampolins/E a certeza que milhões de Benjamins/Estão no palco sob as luzes da ribalta/Salta, menino!/A luta me fez majestade/Na pele, o tom da coragem/Pro que está por vir…/Sorrir é resistir!”, diz o samba-enredo assinado por Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga do Salgueiro, Getúlio Coelho, Ricardo Neves e Francisco Aquino.

Transformações

Brasília volta à Marquês de Sapucaí com a Unidos da Tijuca e o enredo Onde moram os sonhos, que exalta ícones arquitetônicos, como a Catedral da capital federal. O tema foi inspirado pela realização, este ano, do Congresso Mundial de Arquitetura, no Rio de Janeiro. O retorno do carnavalesco Paulo Barros, três vezes campeão pela escola, promete um desfile inovador, com transformações em plena avenida. “Como é linda a vista lá do meu Borel/Luzes na colina, meu arranha-céu/Linhas do arquiteto, a vida é construção/Curva-se o concreto, brilha a inspiração”, diz a música, que será interpretada por Wantuir.

A Deusa Elza Soares é a grande homenageada da Mocidade Independente de Padre Miguel, dentro de um enredo politizado, como os discursos da diva da escola, que sempre alerta contra racismo, machismo, feminicídio, pobreza e fome. As críticas sociais vieram com o carnavalesco Jack Vasconcelos, que usou o mesmo tom na Paraíso do Tuiuti em carnavais passados. A escola promete arrasar com o samba-enredo Elza Deusa Soares, que diz: “É hora de acender no peito a inspiração/Sei que é preciso lutar/Com as armas de uma canção/A gente tem que acordar/Da ‘lama’ nasce o amor/Quebrar as ‘agulhas’ que vestem a dor”.

Terceira maior vencedora no rol das campeãs do carnaval do Rio de Janeiro, atrás de Portela e Mangueira, a Beija-Flor de Nilópolis encerra o desfile do Grupo Especial com o samba-enredo Se essa rua fosse minha. A azul e branco fará uma viagem no tempo na Marquês de Sapucaí, começando com a Era Glacial, num abre-alas com um enorme beija-flor, símbolo da agremiação. A ideia dos carnavalescos é mostrar um passeio pela história.

» Desfiles

Confira horários das escolas do segundo dia de apresentações do Grupo Especial
 
21h30 - São Clemente
22h30  - Vila Isabel
23h30  - Salgueiro
0h30  - Unidos da Tijuca
1h30  - Mocidade
2h30  - Beija-Flor

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