Brasil

Repatriados vão para casa e retomam a vida

Correio Braziliense
postado em 24/02/2020 04:13
A cerimônia de despedida da quarentena, na Base de Anápolis, foi marcada pela emoção e pela solidariedade


Os 34 brasileiros que saíram da cidade chinesa de Wuhan para escapar da epidemia do coronavírus enfim foram para casa. Os repatriados e mais 24 profissionais da equipe de resgate deixaram ontem a Base Aérea de Anápolis, onde passaram 14 dias em quarentena para eliminar qualquer possibilidade de contaminação pelo COVID-19, o novo coronavírus.

A saída do confinamento foi anunciada com festa no sábado, depois que o Ministério da Saúde certificou-se, após uma terceira bateria de exames, de que todos os 58 tripulantes, entre repatriados, médicos, militares e um jornalista, não estavam contaminados. O término da quarentena ocorreu quatro dias antes do prazo inicialmente previsto pelo governo, mas respeitando o tempo necessário de 14 dias para afastar uma possível contaminação, seguindo protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Vídeos publicados nas redes sociais (INSERT) mostram o grupo vibrando e jogando para o alto as máscaras de proteção que precisaram usar nos últimos dias para evitar qualquer contaminação.

A sensação de alívio, alegria e sobretudo vontade de retornar para casa era visível no rosto de cada um deles ao se acomodarem nas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) com destino aos estados de origem. “Ansioso. A família também está doida, todo mundo está reunido em casa. Agora, só falta a gente”, explicou o publicitário mineiro Alefy Rodrigues, de 26 anos, que, apesar da pressa para o embarque, foi o único repatriado que parou para falar com a imprensa. Ele garantiu, ainda, que os dias em Anápolis, apesar do isolamento, foram ótimos. “Muito além da expectativa, nos trataram muito bem”, contou.

Confraternização
Antes do embarque, os repatriados confraternizaram, em um café da manhã, como os 24 profissionais que deram apoio ao processo de repatriação. Todos receberam uma declaração do Ministério da Saúde que atesta o bom estado de saúde, livre da doença pelo coronavírus. “Estamos muito felizes em saber que tudo aconteceu com muito sucesso e emocionados de saber que as pessoas vão poder voltar a suas casas”, afirmou o prefeito de Anápolis, Roberto Naves, dizendo que a cidade mostrou que é possível agir com coração, respeito e responsabilidade ao acolher os repatriados da China.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, saudou o grupo conduzindo uma cerimônia de encerramento da Operação Regresso. “Nem da parte deles, nem da nossa foi possível conter as lágrimas. O sentimento era de orgulho e alívio. Orgulho de ver a superação e o sucesso dessa operação. E alívio porque todos os exames deram negativo”, afirmou Azevedo, que recebeu das crianças repatriadas duas bandeiras do Brasil assinadas pelo grupo.

Uma das bandeiras será entregue ao presidente Jair Bolsonaro. Ele não compareceu à cerimônia porque está passando o carnaval no Guarujá. Além de definir Anápolis como a “capital da solidariedade”, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, retransmitiu a mensagem que o presidente enviou aos repatriados quando eles chegaram ao Brasil, no início do mês, dizendo que ninguém ficaria para trás porque “nós somos um só povo e uma só raça”. Informou, ainda, que o grupo, incluindo a equipe da operação, será recebido no Planalto, em breve. Ainda não há, contudo, data para esse encontro.

Dois voos
Dois voos partiram por volta do meio-dia da Base Aérea de Anápolis. Um foi para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Florianópolis. Já o outro foi para Brasília e depois para o Pará. Neste voo, também embarcaram dois repatriados que pegariam, no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, aviões comerciais com destino a São Luís e Natal.

Na Base Aérea de Brasília, a dona de casa Adriele da Nóbrega aguardou com as duas filhas a chegada do marido, o militar Carlos Henrique Pereira Rosa. Ele foi um dos comissários de bordo da operação. “O bom filho não foge à luta. Sinto muito orgulho e dou o maior apoio. Agora é matar a saudade do pai”, comemorou. Além de Carlos, pousaram no Distrito Federal outros 19 passageiros, sendo onze pertencentes à equipe da operação.

Diretor substituto do Departamento das Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, Marcus Quito, foi outro profissional a pousar na capital. Ele esteve em Wuhan, província chinesa e epicentro da doença, para acolher os repatriados e participou de todo o processo em Anápolis. “A condução foi um momento bastante tenso, com paradas demoradas por ser algo novo. Chegando em Anápolis, tudo ficou tranquilo”. Ele avaliou o processo de forma positiva. “Nós, enquanto Brasil, aprendemos bastante inclusive para enfrentar uma condição de eventual quarentena no futuro”, opinou.

Quem também acompanhou a liberação dos repatriados foi o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira. “Fizemos um esforço tremendo para garantir que as pessoas pudessem passar o carnaval junto às famílias. Agora eles estão completamente liberados para voltar às atividades normalmente”. Porém, o alerta com acompanhamento da situação mundial continua mesmo sem nenhuma confirmação da presença do Covid-19 no Brasil. “Todos os dias há novidade. A tendência é aumentar porque há um número maior de países com a manifestação do vírus”, completou.

Não há confirmação da presença do coronavírus em território nacional, segundo o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde. São investigados, no entanto, dois casos suspeitos: um em São Paulo e outro, no Rio de Janeiro. Outras 53 notificações já foram descartadas.

Vídeo agradece ao povo, ao governo e também à China

Os repatriados deixaram um recado para o governo e o povo brasileiro por meio de um vídeo, assim como fizeram quando estavam na China, pedindo ajuda do presidente Jair Bolsonaro para voltar ao Brasil. No registro, eles agradecem a todos que participaram do processo. “Estamos muito felizes e fortalecidos como grupo e como indivíduos pelo processo que nos levou a este dia. Somos gratos ao Brasil por ser nosso lar. [...] Além de agradecer às instituições, temos uma gratidão enorme ao povo brasileiro, pela empatia e solidariedade que nos permitiram encarar essa crise e sentir parte de um todo, apesar do isolamento que vivemos nos últimos dias”, dizem. O governo chinês também foi lembrado. “Não podemos deixar de agradecer à China por haver nos recebido por diversas razões e cuidado de nós”, afirmam, lembrando que o governo de Pequim apoiou o processo de repatriação de estrangeiros, no início do surto de coronavírus. “A Wuhan, desejamos força”, disseram, tanto em português quanto em chinês, os brasileiros que viviam na cidade que é considerada o centro da epidemia do COVID-19. 


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